Durão Barroso está na dele. A preparar o que melhor lhe vier a caber. Como lhe vem de pequenino, quando pensou que o caminho era o da revolução, já!
Depois destes mandatos na Comissão, com o grande (e único) mérito de ter deixado o governo desta Nação (após a abertura das suas portas para o encontro dos cúmplices da guerra do Iraque), depois desses mandatos com a nefasta consequência de ter ido desgovernar o conjunto de Nações que não têm, nem deverão ter!, governo conjunto, aí está ele a preparar o seu futuro. Jogando forte, e cheio de tácticas e expedientes. O facto é que anda nas "primeiras", fazendo falar de si, arranjando polémicas, e etc.
Não quereria contribuir para esse falatório, mas há coisas que me parecem exigir esclarecimento, denúncia dessas "grandes manobras". Em que se inclui o seu prefácio às edições francesa e inglesa de A crise da Europa, de Abel Salazar, que promoveu ou estimulou. E de que senti a necessidade de comentar em publicação recente:
«(...) Li o prefácio de Durão Barroso, naturalmente com redobrada atenção.
Sem querer entrar pela via de processo de intenções, parece-me haver um claro propósito do presidente da Comissão Europeia de aproveitar(-se d)esta obra de Abel Salazar, de que teria tido conhecimento recente. E esse aproveitamento está bem patente no prefácio (ou opening message, ou note d’ouverture) que escreveu, em seis páginas, com destaque na capa (bem como dos respectivos tradutores).
Nessas páginas, Durão Barroso começa por valorizar as características de democrata, republicano e antifascista de Abel Salazar, português, cientista, escritor, conferencista e pintor. E refere a sua coragem e as consequências que essa coragem de se afirmar democrata e antifascista lhe provocaram.
Sublinha, depois, que Abel Salazar se coloca, sem ambiguidades, numa perspectiva em que a história é a tomada de consciência da nossa própria evolução, citando os seus termos sem o citar com o rigor indispensável[i] (tal como está nas traduções e sobretudo na edição francesa).
Diria (e já o disse, citando com rigor) o mesmo, assim como o sublinhado de que, para Abel Salazar, se trata de convidar os leitores a uma reflexão sobre a “história da civilização”.
E aqui nos afastaríamos, Durão Barroso e eu, enquanto leitores e/ou prefaciadores de A crise da Europa, e um de nós de Abel Salazar.
[i] - “A causa fundamental de todo o movimento do homem e da história é ainda e sempre a experiência que se totaliza. Esta e a energia criadora do homem bastam para explicar toda a mecânica da história; porque o homem, só pelo facto de viver e de criar, totaliza experiência, e esta, totalizando-se move toda a história.” – página 57
(...)
«(...) o que considero “pecado original” de confundir Europa com União Europeia toma foros de quase “pecado mortal” quando Durão Barroso tem o desplante de, na sequência desse seu “passe de mágica”, escrever – a propósito de A crise da Europa, de Abel Salazar!!! – que “estamos a completar o que tinha ficado inacabado do Tratado de Maastrich dando à união monetária uma credível contrapartida económica (na tradução do inglês… ou uma pingente economia credível, na tradução do francês)”. O que é escrito em 2013, e publicado e lançado em vésperas de “eleições europeias” em que, quase diria desesperadamente, se procurará credibilizar o que terá perdido toda a credibilidade.
Pelo que não será de estranhar que, já neste ano de 2014, essa prefaciação de edições em francês e inglês sirva para iniciativas de promoção em que o presidente da Comissão é protagonista, e que se inserem numa campanha bem orquestrada a fazer acreditar que a crise está a ser ultrapassada, que Portugal é um exemplo (quando não “milagre”!) num esforço para evitar que as eleições sejam, pelo tema e pelos resultados, um revés ou a negação daquilo em que se quer que os “cidadãos europeus” acreditem e suportam.
(...)
«Para mais, se é certo que Durão Barroso faz algumas citações de Abel Salazar e do seu A crise da Europa a sua “leitura” e aproveitamento parecem-me perversos por se moldarem à estratégia que tem sido seguida, embora ziguezagueante, no processo de integração europeia de Estados cujas correlações de forças nacionais e de classe exigem que se considerem capitalistas.
As nações continuam a ser o centro da(s) vida(s) política(s) e a passagem da interNACIONALização à supranacionalidade, a uma macro-estrutura futura não é de um caminho único moldado ou modelado por uma União Europeia pois, como muito bem sublinhava Abel Salazar, ainda estamos na fase de “prelúdios desse conceito futuro, de tentativas de definição do que é impossível definir (…)” e previa que “o novo conceito actualmente (em 1942 e em 2014) em potência, mas não actual, no Sistema Europeu, levará por seu turno muitos séculos a definir”.
Pelo que o anúncio da morte das nações (enquanto Estados-membros e soberanos) é prematuro e não é mais que uma arma estratégica que combate soberanias nacionais, e que procura descentrar a luta política de onde os povos são os protagonistas decisivos, mobilizados pelas consequências que têm nos viveres as formas como o capitalismo procura manter relações sociais, que não superam as contradições que engendram.»
3 comentários:
"Como lhe vem de pequenino, quando pensou que o caminho era o da revolução, já!"
Ele deixou alguma vez de ser "pequenino"?! :-)
Quanto ao texto… obrigado!
Abraço.
Deixou de ser pequenino para ser um grande pulha.
Teria sido por"falta de verbas",a suspencao do prefâcio da tua autoria,para a obra "A Crise da Europa",de Abel Salazar,ou ,os responsâveis da publicacao,foram "aconselhados",pelos que,
teem apoiado a pequenez do Durao?Ê,realmente maquiavêlica,a escolha de Barroso para prefaciar tao importante obra.
Um beijo
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