Pergunta(-me)
o Nicolau Santos, como leitor da sua página Cem por Cento do caderno Economia
do Expresso, se tenho dinheiro para estar num offshore.
E a anteceder o curto texto. interessante por pedagógico sobre assunto que tanta tinta
tem feito gastar e tanta voz enrouquecer – tantos aparentemente esquecidos (ou distraídos…) de muitas e oportunas referências e denúncias relativas ao tema
–, tem uma abertura que dá que pensar:
Dá que pensar e tem que se lhe diga porque parte de pressupostos que não são todos de pressupor, ou de pressupor para todos:
- que "toda a gente" não pensa noutra coisa que não seja "colocar o seu dinheiro" (tenha-o ou não);
- que essa obsessiva pré-ocupação se consuma/consome na procura de saber onde é que menos lhe retirariam parte do "conquistado" - com o suor do seu rosto ou à custa do suor dos outros - em confronto com o Estado e banca residente para cumprirem as suas funções, supostamente democrática e constitucionalmente estipuladas;
- ou, dito doutra maneira, para onde é que pode escapulir-se para fugir ás obrigações que, como cidadão com virtuais direitos, foi decidido que seriam as suas por dispor de dinheiro;
- não há destrinça entre Estado (pelos impostos) e sistema bancário (pelas comissões por nos guardar o dinheirinho de quem o tem para depositar)
É claro que
i) sendo esses os pressupostos - esclarecendo melhor o nº 4: estando o Estado condicionado pela sujeição aos interesses da banca transnacional,
ii) inundados de exemplos "vindos de cima", de gente de su(gue)cesso
iii) feitas as contas:
então porque é que não colocamos todos o nosso dinheiro em offshores?
A resposta, no texto de NS, é interessante e pedagógica mostrando que os offshores foram criados só para alguns. Para os que os criaram num sistema de relações sociais chamado capitalismo, em que há os alguns e os outros, outros que se pretende fazer sonhar virem a ser... alguns! Mas, daí a falsidade dos pressupostos
- "toda a gente"... ´nunca é toda a gente e, neste caso concreto, há quem não pense só em como colocar o seu dinheiro (tenha-o o ou não) onde renda mais;
- "roubar o Estado", sendo ele democrático por pequeno que seja e por pequena que seja a democracia... é roubar!
- dito de outra maneira (português suave...) contribuir para a diminuição das receitas do Estado, tal como democraticamente orçamentadas é coartá-lo na capacidade de cumprir as suas funções sociais constitucionalizadas;
- o Estado só tem uns laivos de democracia (aqui entra a correlação de forças) se não estiver ao serviço apenas de os alguns, iludindo os outros com a miragem de toda a gente ser como alguns.
- adulterando um pouco Gil Vicente: toda a gente é ninguém!
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