quarta-feira, abril 20, 2016

Offshores ou borda fora

Pergunta(-me) o Nicolau Santos, como leitor da sua página Cem por Cento do caderno Economia do Expresso, se tenho dinheiro para estar num offshore.


E a anteceder o curto texto. interessante por pedagógico sobre assunto que tanta tinta tem feito gastar e tanta voz enrouquecer – tantos aparentemente esquecidos (ou distraídos…) de muitas e oportunas referências e denúncias relativas ao tema –, tem uma abertura que dá que pensar:


Dá que pensar e tem que se lhe diga porque parte de pressupostos que não são todos de pressupor, ou de pressupor para todos:
  1. que "toda a gente" não pensa noutra coisa que não seja "colocar o seu dinheiro" (tenha-o ou não);
  2. que essa obsessiva pré-ocupação se consuma/consome na procura de saber onde é que menos lhe retirariam parte do "conquistado"  - com o suor do seu rosto ou à custa do suor dos outros - em confronto com o Estado e banca residente para cumprirem as suas funções, supostamente democrática e constitucionalmente estipuladas;
  3. ou, dito doutra maneira, para onde é que pode escapulir-se para fugir ás obrigações que, como cidadão com virtuais direitos, foi decidido que seriam as suas por dispor de dinheiro;
  4. não há destrinça entre Estado (pelos impostos) e sistema bancário (pelas comissões por nos guardar o dinheirinho de quem o tem para depositar)
É claro que 
i) sendo esses os pressupostos - esclarecendo melhor o nº 4: estando o Estado condicionado pela sujeição aos interesses da banca transnacional, 
ii) inundados de exemplos "vindos de cima", de gente de su(gue)cesso 
iii) feitas as contas: 
então porque é que não colocamos todos o nosso dinheiro em offshores?

A resposta, no texto de NS, é interessante e pedagógica mostrando que os offshores foram criados só para alguns. Para os que os criaram num sistema de relações sociais chamado capitalismo, em que há os alguns e os outros, outros que se pretende fazer sonhar virem a ser... alguns! Mas, daí a falsidade dos pressupostos 
  1. "toda a gente"... ´nunca é toda a gente e, neste caso concreto, há quem não pense só em como colocar o seu dinheiro (tenha-o o ou não) onde renda mais;
  2. "roubar o Estado", sendo ele democrático por pequeno que seja e por pequena que seja a democracia... é roubar!
  3. dito de outra maneira (português suave...) contribuir para a diminuição das receitas do Estado, tal como democraticamente orçamentadas é coartá-lo na capacidade de cumprir as suas funções sociais constitucionalizadas;
  4. o Estado só tem uns laivos de democracia (aqui entra a correlação de forças) se não estiver ao serviço apenas de os alguns, iludindo os outros com a miragem de toda a gente ser como alguns. 
  5. adulterando  um pouco Gil Vicente: toda a gente é ninguém

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