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Por Valdemar Cruz
Jornalista
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6 de Maio de 2016
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A estratégia da aranha na negociação transatlântica
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Paciência.
Criatividade. Perversidade. São
inúmeras, na história da arte, ou na mitologia, as referências às
características da aranha. Entre as milhares de espécies
existentes, algumas dezenas têm uma picada muito perigosa para os humanos.
Há quem se deixe tomar pela aracnofobia,
uma rejeição extrema, não apenas da peçonha, como tudo quanto possa estar
ligado à aranha. Por exemplo as teias. Como as que têm
vindo a ser tecidas em segredo entre a União Europeia e os EUA da América
na negociação do TIIP-Tratado Transatlântico de Comércio e Investimento.
Como ontem, numa citação do jornal "Guardian", titulava Joana
Azevedo Viana no Expresso Diário, este é "o assunto mais aborrecido com que todos deviam estar
preocupados". A aranha move-se silenciosa. Tem o tato e a
visão muito desenvolvidos e a paciência bastante para provocar a intrusão
na mais absoluta das discrições. O TIIP começou a ser negociado em 2013,
mas a generalidade dos
europeus tem andado distraída das consequências de um tratado cuja
aprovação e aplicação resultaria numa secundariação absoluta do papel do
Estado nos serviços públicos, na segurança ambiental e
familiar, com consequências gravosas na regulação financeira, na defesa e
privacidade dos cidadãos ou nos direitos laborais, transformados numa
espécie de cidadela a varrer do mapa, custe o que custar. O objetivo de
reduzir os entraves regulatórios e a burocracia para potenciar ao máximo as
trocas entre os EUA e a EU tem
sido negociado longe de qualquer olhar. Nenhuma organização
não governamental ou parlamento nacional, nem sequer os membros do
parlamento europeu têm acesso aos documentos, nem estão à mesas das
negociações. Os defensores do acordo, como Luísa Santos, diretora das
relações exteriores da Business Europe, uma estrutura do
patronato europeu, citada há dias pelo El País, sustentam que "as pessoas que protestam estão contra a globalização
e o comércio internacional em geral". No Expresso Diário,
Mark Dearce, pertencente à ONG War on Want, afirma que o TTIP representa "a maior
tomada de poder pelas grandes empresas a que se assistiu numa geração".
Ainda segundo Dearce, "através da desregulação, privatizações e do
mecanismo de 'tribunais corporativos', este acordo secreto vai colocar as
grandes empresas numa posição em que podem destruir as proteções sociais,
ambientais e de saúde, forçar
a privatização dos serviços públicos e levar governos a tribunal por causa
de qualquer prática que afete os seus lucros". As
aranha começam por digerir os alimentos fora do corpo. Só depois da
completa captura da presa a cobrem com os seus sucos digestivos e a sugam.
Nunca têm pressa. O processo é lento. Mas é implacável, a estratégia da
aranha. (...)»
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1 comentário:
A aranha é implacável,mas terá as suas fraquezas.Os trabalhadores e os povos hão-de encontrar a forma de derrotar,ou pelo menos,debilitar a aranha.Falamos de luta de classes,claro!Se a aranha ainda está à espreita, é porque tem sido travado o seu percurso.Mas,é deveras preocupante esta fase do imperialismo.Beijo
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