Leituras
na manhã…
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De
Waldemar Cruz, no Expresso Curto:
O QUE ANDO A LER
E A OUVIR
Na madrugada do dia 1 de janeiro de 1962 um grupo de militares e
perto de trinta civis armados promove uma revolta contra o regime de Salazar. Sob
a influência do general Humberto Delgado tentam tomar o quartel de Infantaria 3
de Beja e, com essa ação, contam desencadear uma insurreição geral. A
operação falha e o capitão Varela Gomes, o militar que decidira tornar irreversível
a depois chamada Revolta de Beja, fica ferido com gravidade. Há dezenas de prisões.
Delgado chega a Beja quando já tudo está perdido. Varela Gomes passa
uma semana entre a vida e a morte. Transferido para Lisboa, fica mais
de dois anos em isolamento até começar a ser julgado em julho de 1964. Quando
questionado pelo presidente do Tribunal Plenário se voltaria a pegar em armas
contra o regime de Salazar, Varela Gomes recorre à ironia. Afirma que essa
opção seria impossível, nas circunstâncias ali presentes, com a sala cheia de
agentes da PIDE. Nas alegações finais surge uma resposta mais elaborada à pergunta
antes colocada pelo juiz. Na verdade, impedido de momento de repetir a ação,
nem por isso deixava de proclamar um voto que era sobretudo um apelo:
"que, quanto antes, outros triunfem onde nós fomos vencidos".
Menos de doze anos depois acontecia o 25 de abril. O episódio é relatado no
livro cuja leitura ontem mesmo iniciei. Trata-se da biografia do coronel João
Varela Gomes (1924), agora publicada pelo jornalista António Louçã. Na sequência
daquele episódio, é afastado do Exército e entregue à PIDE.Passa seis
anos nas cadeias do fascismo, sobretudo em Peniche. Reintegrado nas
Forças Armadas após o 25 de abril, assume um papel marcante em todo o processo
revolucionário, em particular na 5ª Divisão do MFA. Na sequência do 25
de novembro de 1975 vê-se forçado a sair do país para evitar a prisão.
Permanece em Moçambique e Angola. Regressa em 1979 ao abrigo de uma Lei da
Amnistia. Frontal, incómodo, lutador, com uma vivência riquíssima, é ainda hoje
uma personagem polémica. Ao percorrer a vida do militar, Louçã apresenta
uma leitura possível do seu papel e posições em momentos centrais da vida política
portuguesa, antes e depois do 25 de abril. Designadamente num tempo sempre
marcado por múltiplas interpretações, como é o "chamado Verão quente"
de 1975. Embora confesse a sua amizade e admiração para com o biografado, o
autor sublinha que "uma vida de luta não precisa de lendas que a
enalteçam", pelo que opta por apresentar uma vida "com a sua
verdade", sem escamotear contradições, ou a determinação que sempre
caracterizou o velho militar.
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Ao ler isto, foi funda a emoção pela lembrança de como conheci (e me "ajudou") o capitão Varela Gomes, há 55 anos! (antes do "caso de Beja"), numa campanha eleitoral para a Assembleia Nacional - nas aproveitadas farsas eleitorais para se continuar a luta contra o fascismo -, em que um militar dava a cara quando o fascismo não recuava perante nada, nem perante a guerra nas colónias.
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... "isto" depois
de, ontem, ter terminado o dia a ouVer o António
Borges Coelho a contar episódios da sua vida e da nossa História no programa
estórias do tempo da outra senhora, na
RTP2.
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Há
memórias a não esquecer, há regressos de quem tem de estar sempre connosco!
2 comentários:
Há memórias que se querem vivas!São imprescindíveis.Bjo
Lembrar momentos que nos marcaram para sempre e pessoas que nos formaram! Exercício indispensável...
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