A vinda do peregrino Francisco a Fátima trouxe, sem dúvida, muito a muita gente. Muito sentimento diferente a muita gente diferente.
Pensava nisto, ontem ao fim do dia - em que não liguei a televisão... mas tive o zumbido dos helicópteros toda a tarde e começo de noite dentro da minha cabeça -, quando li esta crónica do Pata Negra. Diria, à maneira Mia Couto, que me proporcionou um sono abensonhado. Tanto assim que começo o dia de hoje com a tarefa (sim, tarefa!) de agradecer a crónica ao autor (e, indirectamente, ao Papa Francisco, cuja visita a provocou), por ser das melhores "peças" que me foi dado ler nos últimos tempos.
Agradecer... e divulgar pelos meus limitados meios, a começar pela minha privada conselheira e censora literária, que apoia a avaliação:
Ir a Fátima e não ver o Papa
- JÁ CHEGA!
(Este post destina-se apenas àqueles que hoje não ligaram a televisão)
Contava contar-vos hoje uma visão que tive de madrugada. Via eu uma multidão de homens e mulheres, populares, à volta duma virgem, via um ancião vestido de branco acenando a todos e a este e àquele, via gente abrindo os braços em sinal de louvor, gente de mãos erguidas pedindo isto e aquilo e saúde, via lágrimas de sofrimento e emoção, sorrisos de felicidade e de graças, portanto, uns contentes outros nem tanto, via Fátima. Contava também agradecer a não sei quem - se à Senhora de Fátima, se ao Papa, se ao António Costa, se à Assunção Cristas - a tolerância que me deram sem eu a pedir.
Mas eis que os comandos da televisão não resistem a um dia em casa e, para meu espanto, a minha visão perdia qualquer valor porque acontecia em todos os canais - honrosa exceção para o Sport TV e para o Vénus. Fiquei chateado! Talvez tivesse adormecido a ver televisão e a minha visão não passasse dum sono leve no sofá e não duma revelação de ordem sobrenatural!
(Irritou-me também a devoção às virgens porque lembrou as relações históricas entre cristianismo e islamismo e aqueles que, segundo a televisão, se fazem explodir porque, por o fazerem, serão recebidos no céu por dezenas de virgens. Esta fixação dos homens, castos ou varões, pela virgindade das mulheres é uma coisa que não cabe na minha civilidade! Que me perdoem as irmãs e os machões!)
No meio de tudo isto surgiu a minha filha. Aconselhada por mim a seguir a vida religiosa desafiou-me quando, sem o meu consentimento, se fez militante da JCP. Pensei: de mal o menos! Duma forma ou de outra não terá um namorado da JS ou da JSD! Mas eis que premiada, pelo pai remediado, com uma lambreta, por ter concluído o 12ºano apenas com negativa a Religião Moral, hoje me disse:
- Pai, eu vou a Fátima ver o Papa!
E passei eu todo o meu santo dia a ver se via a minha filha na televisão - tentativa frustrada - para me chegar ela agora a casa, depois do jantar, e completar-me o vão do dia:
- Pai, corri Fátima toda de mota e não vi o Papa!
E eu, sempre paternal e amigo, santo pai:
- Manda lixar o papa, tens aqui o papá! Este ano iremos à Festa do Avante e vais ver o Marcelo Rebelo de Sousa! Por tua causa já vi hoje mais televisão do que no dia do funeral do Mário Soares!
Come e cala-te, de papa JÁ CHEGA!
2 comentários:
Excelente, magnifico texto!
Num país que é Laico, como é possível tanta religião, tanta Fátima, tanto Papa, jornais, revistas, televisão, impossível ligar o aparelho.
GR
O Pata Negra sempre com textos profundos, quando o devem ser, e a sacar-me um sorriso.
Obrigada, vou já visitar Sua Majestade.
Enviar um comentário