Portugal viu a Comissão Europeia recomendar a sua saída do procedimento por
défice excessivo e o mundo político exaltou. António Costa falou “em sucesso nacional”, Passos Coelho deu
os “parabéns” a todos os portugueses,
Marcelo saudou o governo atual e o anterior, Carlos Moedas fez o mesmo e
Mariana Mortágua declarou o momento como
“importante”.
O primeiro-ministro considerou-o mesmo como prova “que Portugal se encontra num ponto de viragem”.“Esta tem que ser a
última vez que passamos por um processo tão traumático”, prometeu Costa,
acerca do período de resgate financeiro entre 2011 e 2015.
Mas há quem não sorria tanto com a
novidade. É o PCP.
João Ferreira, eurodeputado do Partido Comunista e seu candidato à Câmara
Municipal de Lisboa, lançou ontem advertências à saída do procedimento de
défice excessivo.
“A euforia não se justifica. Não alinhamos
no entusiasmo”, garantiu Ferreira, ao i. “As razões
estruturais que estão na origem do défice não desapareceram”, analisou
também. “Não é com estes níveis de
investimento público que vamos conseguir”.
O deputado dos comunistas no Parlamento Europeu avisou que “continuamos nos radares de Bruxelas”,
na medida em que meter termo ao procedimento por défice excessivo não mete
termo, por exemplo, aos alegados desequilíbrios macroeconómicos e a outros
mecanismos da União Europeia que “constringem
o equilíbrio das contas públicas” como o Pacote de Estabilidade e
Crescimento.
“O procedimento por défice excessivo é um
instrumento, do nosso ponto de vista, de condicionamento e controlo dos
Estados-membros e não é único”, tanto do ponto de vista económico quanto
do social, assegura João Ferreira.
“Ter as contas públicas equilibradas é
correto, mas não sob chantagens como as executadas pela União Europeia, nem de
uma forma que não seja sustentável”, defende. “O peso dos juros da dívida e a transferência de recursos públicos
para a banca são problemáticos. Devemos produzir mais, reforçar o aparelho
produtivo, elevar salários e dinamizar o mercado interno. É preciso ir mais
longe”, pressiona (…).
Segundo Pierre Moscovici, o comissário com a pasta das Finanças, a decisão
de Bruxelas foi “muito clara e unânime”,
até porque o governo português terá garantido que a capitalização da Caixa
Geral de Depósitos não coloca “em risco a
redução duradoura do défice”.
Perante a boa nova, Marcelo exultou. O Presidente da República deixou uma
nota na página oficial do Palácio de Belém, afirmando ter felicitado o
primeiro-ministro António Costa e o anterior primeiro-ministro Passos Coelho,
pelo trabalho dos “respetivos governos”.
Marcelo Rebelo de Sousa informou ainda ter telefonado ao presidente da
Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e transmitido uma “alegria pelo reconhecimento dos esforços e sacrifícios dos
portugueses”.
O comissário europeu português, Carlos Moedas, realçou, como Marcelo, que
este era um feito de todos os que exerceram funções executivas. “Todos os governos desde 2011 trabalharam
para que isto acontecesse, todos estão de parabéns”, garantiu Moedas, não
deixando de aludir aos tempos do governo Sócrates como o início do problema:
“Nunca nos devemos esquecer que foi
preciso quase uma década para corrigir os erros de uma outra década. Em 2009, o
país tinha um défice de 10% do PIB, o que significa que gastávamos mais de 20
mil milhões de euros do que aquilo que recebíamos em termos de Estado. Hoje
temos uma imagem completamente diferente na Europa”, terminou.
Menos europeísta – ou menos euroconsensual – foi Eduardo Ferro Rodrigues. “Tínhamos uma margem de manobra reduzida e
um controlo excessivo por parte das instituições europeias em relação às nossas
políticas, portanto é uma boa notícia”, admitiu o presidente da Assembleia
da República.
Mário Centeno, ministro das Finanças, seguiu a mesma linha do antigo líder
de bancada socialista confirmado ser “
uma boa notícia porque é o reflexo do aumento da confiança que se fazia sentir
em Portugal desde o início de 2016”, procurando colher méritos,
naturalmente, para o governo a que pertence.
O líder da oposição, Pedro Passos Coelho, por sua vez, reconheceu o feito e
pediu “humildade suficiente” a quem
lhe sucede em São Bento. “Apesar de não
subscrever a forma como o governo lidou com a estratégia orçamental, fico
satisfeito por Portugal ter atingido a meta orçamental que o país se tinha
comprometido”.
Passos pediu ainda para que “não se
voltem a cometer os mesmos erros” de 2009, quando José Sócrates pediu um
resgate financeiro.
“São os portugueses quem está de parabéns
neste dia e são, sobretudo, os portugueses quem hoje quero felicitar”, saudou o presidente do
PSD, recordando o “imenso esforço” da
recuperação.
Assunção Cristas, do CDS-PP, não destoou do seu antigo chefe de governo,
dizendo que “esta saída do défice
excessivo é fruto do esforço de muitos e muitos portugueses que ao longo dos
últimos anos tiveram de se empenhar para podermos recuperar a saúde financeira
do país”.
Para a líder centrista, “agora temos
de nos empenhar em não levar novamente o país ao estado de procedimento de
défice excessivo”. João Almeida, porta-voz do PP adiantou mesmo que “hoje é um dia que tem muito mais a ver com
os partidos que anteriormente estavam no governo [PSD/CDS] do que com o PCP e o
Bloco de Esquerda, como é evidente”.
O Bloco de Esquerda, por outro lado, na voz de Mariana Mórtagua, defendeu
que “sair do procedimento por défice
excessivo é importante, mas é importante para ganharmos margem para investir na
economia e para proteger aqueles que foram mais atingidos e mais castigados
pelo governo PSD/CDS”. A esquerda, apoiante do governo minoritário de
António Costa, ripostava.
A deputada do BE, à semelhança do Partido Comunista, insistiu na
necessidade de um “projeto alternativo à
imposição de Bruxelas” para que Portugal possa crescer” e resolver
problemas como a “dívida pública”. Para Mortágua, o sucesso não se deve a
reformas do governo anterior, mas à tímida contração de “algumas dessas
reformas”. João Oliveira, líder parlamentar do PCP, vaticinou que “o prioritário é resolver os problemas do
país e não colocar o défice acima do que são os problemas do país”.
2 comentários:
Pois ... Num público jornal de "reverência" um articulista exulta e tenta fazer a quadratura do circo, perdão, círculo cognominando Marcello das selfies e dos afectos de ... Presidente-Rei, "esquecendo" que Presidente-Rei foi Sidónio Pais, o da República Nova, o percursor do 28 de Maio, o do Estado Novo que terá morrido de velho. Assim a maioria dos órgão de formatação consciencional alimentam o sonho de não pouca gente e de Marcello, a reconstituição recauchutada da República envilecida, a do bloco ps(d), com ou sem a cristalina muleta do CDS. "Esquecendo" também que um Estado Republicano não é monárquico e vice-versa.
Tanta euforia!..Mal surja um ventinho adverso,lá se vai o défice.Bjo
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