de Expresso-curto:
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Nicolau Santos
Diretor-Adjunto
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O
Schäuble está a gozar connosco
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26 de Maio de 2017
Bom
dia.
Este é o seu Expresso
Curto e vai ser servido à pressão
porque, como tive uma semana terrível, esqueci-me e só agora vi que era o meu
dia de servir o leitor.
Que lhe posso dizer, caro leitor? Bom, que o país anda extasiado com os
elogios do ministro alemão das Finanças ao seu homólogo português, Mário
Centeno, segundo o qual este é “o Ronaldo do Ecofin”. E que até se fala que
Centeno pode fazer as malas, deixar o país e ir dirigir o Eurogrupo.
Pois, eu acho que há
muita gente a não perceber o humor alemão, sobretudo o de Schäuble.
Ele não disse o que disse publicamente. Terá bichanado para alguém a
“boutade” e ela terá sido escutada por um site normalmente bem informado. E
nunca falou em Eurogrupo mas em Ecofin. As diferenças são muito importantes. O único ministro das Finanças que ele
alguma vez defendeu publicamente foi Jeroen Dijsselbloem, por
acaso o presidente do Eurogrupo, que é uma espécie de porta-voz de Schäuble.
Mas para os mais distraídos recomendo vivamente a crónica que o embaixador
Seixas da Costa escreve hoje no seu blogue “Duas ou três coisas” (e que vai
exactamente no mesmo sentido do que escrevo amanhã para o Expresso).
Diz Seixas da Costa: “Só
alguma saloiíce lusitana é que acha que a “teoria económica” da Geringonça é
vista com admiração nos círculos preponderantes no Eurogrupo.
É claro que eles podem achar curiosos os resultados obtidos, mas ninguém os
convence minimamente de que tudo não decorre de um acaso pontual. Para eles,
trata-se apenas de um "desenrascanço" conjuntural, fruto de alguma
acalmia dos mercados, do efeito das políticas temporalmente limitadas do BCE,
do salto das exportações (que entendem nada ter a ver com a ação do governo),
do surto do turismo (por azares alheios e sorte nossa, como o “milagre do
sol”), bem como do "pânico" de PCP e BE em poderem ver Passos &
Cia de volta, desta forma “engolindo sapos” e permitindo ao PS surpreender
Bruxelas com o seu seguidismo dos ditâmes dos tratado. Ah! Eles também
constatam que a política de estímulo do consumo acabou por não ser o “driver”
anunciado do crescimento. E que tudo o que foi feito está muito longe das
imensas reformas que eles consideram indispensáveis, nomeadamente no regime
laboral e nas políticas públicas mais onerosas para o OGE (Saúde, Educação,
Segurança Social, Fiscalidade), por forma a promover uma redução,
significativa e sustentada, da dívida. É assim uma grande e indesculpável
ingenuidade estar a dar importância à "boca" do cavalheiro alemão!”
Mais: “Também só a
crendice paroquial concede um mínimo de plausibilidade à ideia de Mário
Centeno vir a chefiar o Eurogrupo. Conhecidos os
desequilíbrios doutrinários no seu seio, passa pela cabeça de alguém (pelos
vistos passa!) que venha a ser escolhida uma pessoa que tem titulado uma
linha em aberto contraponto com o sentido do “mainstream” que domina aquele
fórum?”
Como dizem os miúdos, “mai nada”. E se querem saber mesmo tudo o que Seixas
da Costa escreve – e com que concordo a 100%; aliás, ontem o embaixador Rosa
Lã tinha-me dito o mesmo - vão ao seu blogue http://duas-ou-tres.blogspot.pt/ e leiam na
íntegra o artigo.
De qualquer forma, Centeno está “partout” e claramente em alta.
Depois da saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo, o ministro veio ontem dizer em entrevista na RTP
que acredita que até ao
final do verão e início do próximo ano Portugal vai ter o seu rating melhorado
pelas agências financeiras. “Temos estado em contacto com as
agências de rating de forma permanente e quase todas avaliam os fundamentos
de crescimento económico e a capacidade produtiva da economia portuguesa num
patamar claramente acima do que se vulgarizou chamar de lixo”, disse. E se
ele o diz…
E
na senda da rainha Santa Isabel, que ficou imortalizada pela frase “são
rosas, Senhor”, Centeno garantiu também na mesma entrevista que em janeiro do próximo ano nenhum
contribuinte português já vai ter de pagar a sobretaxa de IRS.
“Em janeiro de 2018 ninguém vai pagar sobretaxa. E em janeiro de 2018 teremos
promovido, numa discussão que está em curso e que irá continuar em curso, uma
redução da carga fiscal adicional, para um conjunto muito significativo e
representativo das famílias portuguesas com rendimentos mais baixos”,
sublinhou. Se isto não são milagres atrás de milagres, não sei o que serão.
Mas Schäuble é como o Jorge de “O nome da rosa”: detesta o riso e, como bom
calvinista, não acredita em milagres. E Centeno tem sempre o ar de quem está
um bocadinho divertido com tudo isto.
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gosto de ler (e de divulgar)
reflexões lúcidas e bem escritas
mesmo (ou sobretudo...)
quando não estou inteiramente de acordo com elas,
até porque não são só os calvinistas
que não acreditam em milagres!
(e... como diriam os putos:
e se o alimão fosse brincar
com a pilinha dele!)
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