sábado, maio 09, 2020

Venezuela, invsões (rustradas), Guaidós e Rambos


Ao ver este post de Cid Simões


QUINTA-FEIRA, 7 DE MAIO DE 2020
Os Rambos do Guaidó
Invasores de Venezuela.
O triste retrato de um governo invertebrado que face a tanta evidência continua apoiando a marioneta de Trump pela mão sebenta de Augusto Santos Silva.
A provocação ignóbil da TAP, o navio com bandeira portuguesa, o dinheiro roubado ao governo venezuelano e o apoio dado ao homem da CIA pelo governo PS, atingiu limites nunca pensados.

lembrei um episódio insólito da minha “vida” no Parlamento Europeu. 
E de tanta coisa nessa tarefa… 

Andava nas andanças da criação da moeda única, a surfar a onda, maior que as tão decantadas da Nazaré. 
Com a sobrecarga de questor, fazendo por isso parte da direção do PE, conhecia as entranhas da instância comunitária. Mas também convivia, e intimamente, com fragilidades e ambiguidades na nossa própria trincheira, desde a desilusão (por que não dizer desgosto?) provocada pelo Herzog, que fora meu mestre e modelo, ao descobrir que não o merecera ter sido, a outras ainda mais próximas, todas derivadas de uma então incompreensível (por mim!) demissão (ou vazio) ideológico. 

O livro de Viviane Forrester, L’horreur économique, foi lido com a contraditória sofreguidão do prazer de acerbo espinho. 
Da apresentação pela editora Fayard: 

«Nous vivons au sein d'un leurre magistral, d'un monde disparu que des politiques artificielles prétendent perpétuer. Nos concepts du travail et par là du chômage, autour desquels la politique se joue (ou prétend se jouer) n'ont plus de substance: des millions de vies sont ravagés, des destins sont anéantis par cet anachronisme. L'imposture générale continue d'imposer les systèmes d'une société périmée afin que passe inaperçue une nouvelle forme de civilisation qui déjà pointe, où seul un très faible pourcentage de la population terrestre trouvera des fonctions. L'extinction du travail passe pour une simple éclipse alors que, pour la première fois dans l'Histoire, l'ensemble des êtres humains est de moins en moins nécessaire au petit nombre qui façonne l'économie et détient le pouvoir. Nous découvrons qu'au-delà de l'exploitation des hommes, il y avait pire, et que, devant le fait de n'être plus même exploitable, la foule des hommes tenus pour superflus peut trembler, et chaque homme dans cette foule. De l'exploitation à l'exclusion, de l'exclusion à l'élimination...? 
(…) 
Não subscreveria, evidentemente, este texto. Que acho ideologicamente frouxo e, até, pobre. 
Qual o conceito de trabalho?, onde está a origem da exploração?, a exclusão não é uma forma de manter as relações sociais de exploração?, e a eliminação não é uma maneira dos exploradores se desembaraçarem dos que não podem ser explorados? 
O horror económico resulta das contradições inerentes à exploração e ao trágico desespero na luta (de classes) pela sua sobrevivência, do que a lucidez (ou consciência) de Keynes se aproximou… embora mantendo-se contaminado e receitando mezinhas. 
A imagem clínica pode servir… 
Na verdade, o médico pode detectar, por si e com o apoio de auxiliares de diagnóstico, o estado sanitário do paciente, mas não chegar ao ser humano que este é, e às causas da doença de que arrolou os sintomas. 
A imagem ajudará porque, lido com algum entusiasmo o livro - a que a apresentação da editora é fiel - a descrição da sintomatologia é viva e clarificadora do que justifica o título. E embora não coincida com a sua posição ideológica – se é que a tem –, dele me servi para citações que considerei oportunas em intervenções nos plenários e nas comissões em que se avançava com a dita criação da moeda única e de que fazia parte. 
O que, numa redutora avaliação não teria importância alguma. De certo modo, sentia-me a fazer o papel de uma espécie de grilo falante para que não havia Pinóquio que prestasse atenção, enquanto o seu nariz ia crescendo desmesuradamente sem que os espelhos lhe devolvessem as imagens reais, e sobretudo as que viriam a ser a realidade. 

Claro que a virtude do diagnóstico é sempre inferior à da autópsia e, neste caso, se o que fazia era diagnosticar, a justeza deste não era minha mas do colectivo que queria representar. 
Limitava-me a procurar que o meu cri-cri ficasse nas actas e documentos e justificasse a votação (logo anatematizada!), com o desejo bem mais fundo de que chegasse – então e no futuro, e no futuro do futuro – a quem tem na verdade o poder de decidir. Sendo certo que esse poder está ausente dos seus detentores, sujeitos a uma informação enganadora, manipuladora, que abafa (como e enquanto) todos os alertas e avisos, por mais persistentes e convincentes que sejam. Trata-se de uma questão de correlação de forças de classes sociais. Aparente e real.

Mas não é disso que hoje (ou agora) quero escrever. É da lembrança que me trouxe o post do Cid Simões. Que me fez voltar e sorrir. Embora sorriso amarelado… 
Foi o caso de, num plenário, em tom de alguma solenidade, ter feito referência ao livro de Viviane Forrester, e sublinhado a justeza do título, o horror económico, bem adequado ao tempo que então se vivia, e sobretudo aos tempos que viriam a dele resultar. Lembrando que a expressão era antiga e de grande valia cultural. Além de, num incurável e nem sempre (ou raramente) eficaz pendor pessoal - para não dizer mania..., citar Rimbaud, o autor original da expressão. 
Essa citação de um autor que, aparentemente, nada tinha a ver com o assunto e a ocasião, poderia servir para especulações literato-filosofantes sobre iluminações desse citado Rimbaud e sua localização temporal[1], referida a um período de grande interesse de debate e controvérsia intelectual. O que não estava, naquele local e oportunidade, nas minhas intenções. 
Mas não!, assim não aconteceu. Ño entanto, deu para, em documento informativo do Parlamento, ver a minha referência a Rimbaud ser substituída por referência ao Rambo, esse ícone da brutalidade no cinema estupidificante, decerto a partir da tradução em directo pelas cabinas de interpretação, e por via de uma aproximação fonética. 

A partir deste episódio posso vangloriar-me de, em intervenção no processo da criação do euro, ter citado Rambo. O Rambo que é modelo inspirador dos Guaidós deste mundo e das iniciativas empresariais a que recorrem. 
Que são, Guaidós e Rambos deste e de outros tempos, a ilustração do mercado e do empreendedorismo no sector económico das invasões de países e dos assassinatos, pessoais ou colectivos, por encomenda

Que horror! (e não só económico...) 
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[1] - por exemplo, como li algures num comentário, com Rimbaud como um visionário a prever, nessa sua iluminação de 1875, a Alemanha, a China, o turismo a aparecerem e a tomar conta do mundo …

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