Páginas de um diário que não está em dia
Ontem
foi um dia de “acontecer coisas”. Um daqueles dias que mexem na vida de um
cidadão.
Interrompendo
a concretização de uma sequência de reflexões sobre o Estado das cousas e a informação que delas se dá, o escriba
comunicante que sou viveu o
acontecimento do encontro de vizinhos que são ou que foram na sua juventude
nesta terra onde habito e convivo.
Trata-se
de uma iniciativa simpática, tipo realização informal de periodicidade anual
(que, ao que soube, só não se realizou em 2020 por motivos conhecidos e com a
etiqueta bastante de confinamento) de que há muito tenho conhecimento, mas em
que nunca participei por os seus fundadores informais e organizadores serem de
um estrato etário, diga-se geração, afastado do meu mais de uma década.
Este
ano, ano de recuperação de muita coisa, “o
poço” calhou-me vir a ter participação no encontro por os organizadores terem
incluído no programa um acto – a que chamaram recepção escolar – para que me convidaram, tendo por motivo a
visita ao Centro de Documentação Joaquim Ribeiro-Zambujal, local escolhido para
o… pequeno-almoço.
Essa
escolha deu-me grande satisfação pois o CDJR-Z, inaugurado a 27 de Setembro de
2020, não deu ainda sequer os primeiros passos, ou melhor, este de ontem foi o
seu 4º passinho de um caminho que muito desejo seja feito. E os caminhos
fazem-se al andar, não é, António
Machado?
No entanto.
Ou…
no entretanto – deixando para outros lugares e ocasiões a tão agradável evento
e almoço –, na passagem de olhos pela informação que procuro à sexta-feira,
trazida pelo correio, encontrei a notícia de que a filha de José da Silva Lopes
doara ao Município de Ourém o acervo bibliográfico de seu pai, nascido no
concelho e que morreu em 2015.
Essa
notícia, se me serviu como uma das referências a fazer no encontro de ontem,
foi também “ponte” para o tema a que, neste momento, estou a dar prioridade.
A
vida de Silva Lopes, o que dela se conta, é informado, pode ser uma ilustração
do que pretendo sublinhar em duas direcções:
i)
por um lado, a excessiva fulanização dos actos e factos políticos e,
ii)
por outro lado , como essa “fulanização” pode ser manipuladora ao
empolar uns e diminuir outros, ao reflectir a importância do ambiente ou “pano
de fundo” criado pela “grande informação” (os ditos órgãos de referência), e
como isso se expressa na informação corrente.
De José
da Silva Lopes, nascido em Seiça (ou foi em Caxarias?, depende da oscilação do
contorno das freguesias), escolheria dizer que chefiou a delegação que, em
1972, negociou as negociações do acordo comercial de Portugal com a CEE, no quadro
do alargamento desta e quase desaparecimento da EFTA, negociações em que
interesses nacionais, como dos têxteis e das conservas, foram defendidos,
pertenceu aos 5 primeiros governos depois do 25 de Abril – o 1º e os 4 com
Vasco Gonçalves como primeiro ministro -
e ao IIIº governo constitucional, de
iniciativa presidencial.
Muitas
outras coisas foi, como deputado como deputado na AdaR, pelo Partido Renovador
Democrático, de 1985 a 1987. Não se pediria que se fizesse uma biografia
exaustiva, mas… mas o que dela foi dado é bem o reflexo do que se informa e do
que não se informa. Dizer-se que foi “Economista
reputado, antigo governador do Banco de Portugal (que foi de 1975 a 1980) e cabeça de lista, pelo PS, à Assembleia
Municipal de Ourém em 2009 (lugar que não ocupou)”é pouco e mau, por ser
manipulador ainda que de forma indirecta.
Assim se faz a informação. Mas este é um exemplo tão-só local, e como simples reflexo do ambiente informativo criado. Que, num exemplo simples e aparentemente inócuo, exclui das informações as que possam ser valorizadoras (ou contrárias a “ideias feitas”) de actividades e factos que ilustrariam a luta pela liberdade e a democracia em Portugal.
1 comentário:
A informação não é neutra.Mas não sendo neutra,deveria sempre prestar um culto à verdade.Bjo.
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