Mais umas "contas" a partir do aumento do IVA

No tema O aumento da pobreza, aqui no último avante!, Anselmo Dias mostra muito bem como "o acordo bicéfalo PS-PSD agrava nível de nível da população" (ante-título). Vale a pena ler.

Entretanto, da minha leitura, resultaram mais umas "contas" a partir do aumento do IVA e de como ele, além de "cego", agrava a injustiça fiscal.

Se, nas famílias com rendimentos anuais inferiores a 4500 euros, 32% do total das suas despesas são em produtos alimentares e, nas famílias de rendimentos anuais iguais ou superiores a 18000 euros, essa percentagem é de 15%, façamos um pequeno exercício.

Esse exercício, à partida bastante distorcido por considerarmos, no nível mais baixo, o limite superior, isto é, 4500 euros, e, no nível mais alto, o limite inferior, isto é, 18000 euros, mostra que,

considerando

a) que se vai verificar, no mínimo, uma diminuição dos rendimentos de 1%, por efeito do agravamento de outros impostos e outras circunstâncias;

b) que as despesas com produtos alimentares são incompressíveis, isto é, não podem diminuir, quer nas famílias com 4500 euros, quer nas famílias com 18000 euros anuais,

conclui-se que

1) as famílias com 4500 euros terão um decréscimo de disponibilidades para os produtos não alimentares de 8%;

2) as famílias com 18000 euros terão um decréscimo de disponibilidades para os produtos não alimentares de 6%;

3) este agravamento da desigualdade social será, decerto, muito mais elevado, pela distorção que se anotou e porque

3.1) a incompressibilidade das despesas essenciais é muito maior nos mais baixos rendimentos dado o nível quase vital a que está colocado;

3.2) daqui pode resultar ainda necessidade de maior aumento na compra de bens essenciais nas famílias de menores rendimentos e ainda menor disponibilidade para bens não-essenciais (paradoxo de Giffen)

RESUMO: no mínimo dos mínimos, para além de todas as outras consequência, a injustiça fiscal, só por efeitos do aumento do IVA, será agravada em 2 pontos percentuais!