segunda-feira, março 21, 2011

21 de Março - Dia da poesia


Sabiam?

Eu sei porque me foi lembrado. Por isso, lembro-o aqui.

E vou buscar dois dos meus/nossos poetas num poema.






Cesário Verde

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai
andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...



Alberto Caeiro,
in "O Guardador de Rebanhos - Poema III"
heterónimo de Fernando Pessoa

7 comentários:

Justine disse...

O Pessoa foi um génio, e fizeste muito bem em lembrá-lo no dia da poesia, que afinal, para muito boa gente, é todos os dias:)))

Pata Negra disse...

Arranque-me os versos, pisem-me os poemas, desrrimem-me as palavras, tercetem-me as quadras, cesáreo é maduro, alberto é allberto, caeiro é pessoa... pronto! perdi o estado de poesia!... pela poesia abaixo, pelo poema acima, fico pela cantiga... qual?
uma abraço e canto... bem para ver se te alegro

Maria disse...

Que tenhas um bom resto de dia da poesia todos os dias!

Beijo.

Sérgio Ribeiro disse...

Justine - Pessoa é o que é, vário, mas Cesário, embora verde e muito esquecido, não é menos génio.

Pata Negra - Pois alegraste este cant(inh)o. Obrigado.

Maria - Obrigado pelos votos... poéticos. E vou fazer o psossível!

Beijos e abraços

Graciete Rietsch disse...

Em homenagem ao dia da poesia gostava de deixar este poema de Má
Elegia ao Companheiro Morto

Meu companheiro morreu às cinco da manhã
Foi de noite ao fim da noite às cinco em ponto da manhã

Ah antes fosse noite noite apenas noite
sem a promessa da manhã

Ah antes fosse noite noite noite apenas noite
e não houvesse em tudo a promessa da manhã

Deitado para sempre às cinco da manhã

Agora que sabia olhar os homens com força
e ver nas sombras que até aí não via a promessa risonha da manhã

Mas quem se vai interessar amigos quem
por quem só tem o sonho da manhã?

E uma vez de noite ao fim da noite mesmo ao cabo da noite
meu companheiro ficou deitado para sempre
e com a boca cerrada para sempre
e com os olhos fechados para sempre
e com as mãos cruzadas para sempre
imóvel e calado para sempre

E era quase manhã E era quase amanhã


rio Dionísio



Um beijo.

Graciete Rietsch disse...

O poema é de Mário dionísio, mas a colagem saiu mesmo ml.

Um beijo.

Anónimo disse...

Cesário Verde, um poeta que, apesar de ter morrido tão jovem, nos deixou poemas de uma beleza e lucidez extraodinárias. Genial, sem dúvida.
Fernando Pessoa,um verdadeiro mago da língua portuguesa. Observador, contraditório,complexo e de uma sensibilidade à flor da pele.
Os dois, cada um à sua maneira, descrevem a nossa maneira de ser e sentir como mais ninguém. Só podiam ser poetas portugueses, do povo português.

Campaniça