terça-feira, maio 31, 2011

A propósito de “produtividade” e outras diversões

Com a sua (de)formação profissional (gestionários do capital financeiro), os mais mediatizados intérpretes desta campanha eleitoral de vez em quando avançam com conceitos que aparentemente dominariam, “troikando” os pés pelas mãos. O de produtividade, por exemplo.
Formalmente, na (mal) dita economia de mercado, a “produtividade do trabalho corresponde à quantidade de trabalho necessária para produzir uma unidade de um determinado bem” (definição “comunitária”). Do ponto de vista estatístico-macroeconómico, a produtividade do trabalho medir-se-ia através do Produto Interno de um país (PIB) por pessoa activa.
Ainda nessa abordagem conceptual-ideológica, o crescimento da produtividade depende da qualidade do capital físico, da melhoria das competências da mão-de-obra, dos progressos tecnológicos e de novas formas de organização. E, diz-se, “o crescimento da produtividade é a principal fonte de crescimento económico”.
Ora, como conceito marxista, a produtividade mede–se, e dinamicamente, pela quantidade de valores de uso produzida por unidade de tempo de trabalho. Logo, o aumento da produtividade é inseparável de mudanças nos processos de produção que diminuam o tempo de trabalho socialmente necessário por cada unidade produzida. Assim, a produtividade aumenta quando e quanto, como disse Marx, “uma menor quantidade de trabalho adquire a capacidade de produzir mais valores de uso”.
Assim sendo, a produtividade (que tem de se ligar à criação de valor, na sua unidade dialéctica de valor de uso e de troca) não pode melhorar sem progresso técnico. Ao invés, pode dizer-se que a produtividade mede o progresso técnico, neste se incluindo a qualificação dos trabalhadores.
Não sendo esta a natureza (de classe) dos ingredientes “oferecidos” pela estatística de que se dispõe, às "propostas de rupturas com as políticas de direita" do cap. IV, Outro rumo. Nova política, do texto-base preparado para a Conferência Nacional do PCP sobre questões económicas e sociais, de Novembro de 2007, juntaram-se as "medidas para dinamização do crescimento da produtividade e competitividade da economia portuguesa, vectores estratégicos de uma política económica e social baseada no relançamento da economia produtiva", como desde a Conferência de 1977, A Saída da crise, o PCP defende. Pela via que, nesse ponto, se refere: investimento, qualificação dos recursos humanos, factores de produção a preços de concorrência.
É verdade que a terminologia pode reflectir compromissos a que se é levado pelo instrumental com que se tem de trabalhar, mas tal de modo algum diminui a importância de um dos contributos destas conferências, e de outras posições do PCP: o da denúncia e correcção possível dos “mecanismos ideológicos de justificação e diversão do capitalismo”.


c.q.d.

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

O capitalismo é inimigo do aumento de produtividade pois usa o progresso a favor do seu lucro e nunca em benefício e maior rendimento do trabalhador. Para o capitalismo a evolução da tecnologia traduz-se numa outra forma de exploração.
Um exemplo bem conhecido é o facto de, no início da revolução industrial, as máquinas a vapor serem destruidas pelos operários pois os conduziam ao desemprego e á fome.
Não pode haver progresso material sem progresso social.
Mais uma razão para votarmos por uma verdadeira ruptura com esta política desumana.

Um beijo.

Jorge Manuel Gomes disse...

Nem mais! Excelente postagem!

"a produtividade (...) não pode melhorar sem progresso técnico."

Dando um exemplo pratico, para que se perceba, na empresa aonde trabalho, temos equipamentos antigos que produzem 3800 unidades/hora e temos equipamentos mais modernos e sofisticados que produzem 8000 unidades/hora, INDEPENDENTEMENTE DO OPERADOR QUE SE ENCONTRA A OPERAR O EQUIPAMENTO.

Logo, como foi aqui muito bem dito:
"pode dizer-se que a produtividade mede o progresso técnico".

Hoje em dia o operador fabril é "um mero apêndice" do equipamento, alimentando-o de matéria prima, afinando-o, colocando-o em funcionamento.

O sonho do capital é atingir um tal progresso tecnológico que possa dispensar de todo a mão de obra humana, substituindo-a por robôs que não necessitam de parar para se alimentar ou descansar.

Ao invés, o progresso tecnológico deveria servir o ser humano, aliviando-o de tarefas pesadas e repetitivas, dando-lhe mais tempo de lazer e descanso.

Com um grande abraço, desde Vila do Conde,

Jorge

P.S. "Tempos Modernos" de Charlie Chaplin é um excelente filme sobre este tema.

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - progresso tecnológico em capitalismo = a intensificação da exploração!

Jorge Manuel - É isso mesmo!
Mas o capitalismo também não pode dispensar o capital variável (a mercadoria força de trabalho), de que se alimenta por ser o único criador de mais-valia. Por isso...

Beijo e abraço