sexta-feira, dezembro 30, 2011

Galiza - 5 - Este parte, aquele parte - Rosalía e outras amizades


Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai

Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará





(música de José Niza)

Esta curta passagem pela Galiza foi como que uma visita a família e a amigos. Não para cumprimento de rituais, mas porque dessas visitas precisamos para melhos nos conhecermos e entre-conhecermos.
Quando se diz, ou escreve, que estamos de "costas voltadas" com os nossos vizinhos da península em que coabitamos, é verdade e é falso. O litoral de Portugal estende-se naturalmente para norte pela Galiza, pelas rias e os caminhos até Finisterra, a Galiza prolonga-se para sul, pelo menos até ao Porto, uma "capital-sul" da Galiza.
É a geografia que as vivências quotidianas, ancestrais, humanizadoras (que nem sempre o são) não contrariam, nem com fronteiras, com preços de combustíveis, IVAS e portagens. Que pontes de todo o tipo reforçam. 
No roteiro Castelao (nome maior do nacionalismo galego) por Rianxo, sua cidade natal, o presidente de concelho, que conduzia a visita com conhecimento e sensibilidade, quando descobriu de onde éramos (porque será que estou sempre a revelá-lo?...), lembrou quase comovido a recente visita do seu grupo a Ourém, e nós lembrámos uma muito antiga visita, porque com muitas décadas, da Banda de Ourém a Vigo.
Mas, para não nos perdermos por lembranças e saudades pessoais, deixa-se este quase nosso hino dos anos 60, dos versos da Rosalia de que o José Niza fez canção para o Adriano cantar, e que tão actual se renova, por males nossos, nestes tempos de agora, e uma referênciaà Fundação Bautista Alvarez, promotora da iniciativa em que participámos e de que trouxemos, no plano dos contactos pessoais, o que fortalece as lutas comuns, o brevíssimo e tão rico contacto com a presidente, Pilar Garcia Negro, que se junta ao tão amigo e hospitaleiro acolhimento dos camaradas Duarte e Montse.
De "costas violtadas"? Não. De mãos dadas na luta pelo melhor futuro nosso.

10 comentários:

trepadeira disse...

Como nasci nessa raia,que alguns queriam fosse uma separação,com família dos dois lados,nunca entendi o tal "costas voltadas".
Para mim foi sempre um braços abertos.

Um abraço,
mário

Carlos Gomes disse...

Desta vez, não deixo propriamente um comentário mas, se for consentido este "aproveitamento", apenas um link acerca da poetisa Rosalía de Castro, em http://auren.blogs.sapo.pt/621293.html
Com votos de Bom Ano Novo!
Carlos Gomes

Graciete Rietsch disse...

Galiza é um parente muito próximo do Minho. Não podemos viver de costa voltadas.
Li em Monção, numa placa junto à margem portuguesa do rio Minho, um poema de que que tento reproduzir uma pequena parte.
"A Galiza mai-lo Minho
São como dois namorados
Que o rio traz separados"
E, segundo consta, Fidel de Castro tem parentes galegos.

Um beijo.

Justine disse...

Há os que partem...mas nós voltaremos:))))))

Carlos Gomes disse...

Fidel Castro era filho de galegos. A Galiza sempre foi uma terra de emigrantes, sobretudo para Portugal e para os países da América do Sul. E é dessa emigração de galegos, bascos, catalães, extremenhos, andaluzes e até castelhanos que resultou uma amálgama que ficou conhecida por "espanhol" que não é mais do que uma mistura de castelhano com falares de outros povos de Espanha, com diferentes variações.
E, já que se fala das origens galegas de Fidel Castro, lembro a talhe de foice que Joseph Vissanorovich Djugasvili (Estaline) era descendente de judeus portugueses!...

Graciete Rietsch disse...

Obrigada Carlos Gomes. De Fidel, eu sabia.Ainda há uns anos(bastantes), julgo que ele esteve e foi homenageado na Galiza. De Estaline não sabia que descendia de judeus portugueses, mas foi bom ficar a saber.
Cumprimentos.

Carlos Gomes disse...

Em relação a Estaline, trata-se na realidade de uma tese segundo a qual, ele descenderia de uma comunidade de judeus radicada algures na Índia Portuguesa e que, face às perseguições movidas pela Inquisição, terá migrado para oriente e fixado-se em território actualmente identificado como a Geórgia. Daí, o seu apelido Djugachvili significar literalmente "Filho de Diu", uma vez que no alfabeto cirílico o j corresponde ao i.
Mais ainda, a localidade que supostamente construíram e onde "Estaline" terá nascido - Iveria - fará alusão à sua origem mais remota, a Ibéria. Curiosamente, "Ivéria" foi o título que deu a um dos seus poemas de juventude.
Como disse no início, trata-se de uma tese, embora bastante verosímel. A propósito de Ivéria, deixo este link: http://www.iveria.org/

Carlos Gomes disse...

...mas, ao que parece, as nossas afinidades culturais com aquela região do globo não se ficam por aqui. Defendem alguns etnomusicólogos que o cante alentejano possui bastantes similitudes com certas formas vocais existentes na Albãnia e no norte do Caúcaso! Esse facto poderá relacionar-se também com a emigração de judeus portugueses, à semelhança do que sucedeu com o peixe frito (fish and frits) em Inglaterra...
Mas não nos surpreendamos... a música nacional da Tunísia, o Malouf, é originária da Península Ibérica, nomeadamente do Sul de Portugal!
Os portugueses não se conhecem suficientemente bem a si próprios...

Carlos Gomes disse...

Ainda, a propósito da Galiza, também o cantor Júlio Iglésias (ou Xúlio Igrejas?) é descendente de galegos. Ele próprio o diz: "Eu canto à Galiza / Terra do meo Pae"
A Espanha utiliza-o como ícone tal como o Estado Novo utilizou Eusébio e a Amália Rodrigues...

Olinda disse...

Hoje aprendi muito com o Carlos Gomes.Sobre a Galiza,mas sobretudo,sobre a tese da origem de Estaline.Achei interessantíssima a explicaçao.Obrigada.