quarta-feira, dezembro 14, 2011

As cont(H)abilidades governamentais para ouvinte ver

Depois de um período "socrateiro" que foi pródigo em mediatismo trapaceiro, seria de prever algum comedimento no governo sequente. Não que se pudesse esperar novo rumo para a política, maior respeito pela Constituição, algum arreganho de soberania nas relações internacionais, mas - ao menos - contenção no descaro informativo.
Afinal, nem nisso...
Ontem, o dia foi de anúncio do resultado fantástico, piramidal, de menos 4,5% de défice nas contas de 2011. Com Passos Coelho, é verdade que sem a tarimba e a "lata" do antecessor, a insistir nessa tecla, para que ficasse bem gravado o número de 4,5% nos "estimados óvintes".
É que o "número mágico" fixado era de 5,9%, limite imposto pela troika de fora, e para isso se pediam todos os sacrifícios (mas não a todos, ou com equidade "à Cavaco Silva"...). Certo é que ficou na memória dos portugueses, e esta baixa para "menos de 4,5%" até tem ar de grande sucesso.
Mas a verdade verdadinha é que se a cont(H)abilidade da transferência dos fundos de pensões da banca não se tivesse realizado, em vez de 5,9% o défice seria de 8%! Com compensações fiscais para os bancos, evidentemente. 
Também é verdade que, na gerência anterior, se fez idêntica cont(H)abilidosa operação com outros fundo de pensões. Mas... e para o ano?
O que é espantoso é que o próprio ministro-mago Gaspar, ao anunciar a operação na AR (com o acordo da troika, porque sem ele nada feito), da ordem de 6 mil milhões de euros, disse que com esses milhares de milhões se iria melhorar o ratio de capitalização da banca e, agora, veio dizer que vai poder contar com um montante, entre dois a três mil milhões dessa transferência, para pagar dívidas a fornecedores. Ao mesmo tempo que garante não se sabe que equilíbrio acturial que assegura que os contribuintes não serão prejudicados. E os pensionistas, que contribuiram directamente para esses fundos?
Fundos que andavam em especulação, ganham aqui perdem ali, e que passam a evaporar-se por irem pagar dívidas e recapitalizar bancos de onde vierem e onde estavam, teoricamente, em depósito seguro e a multiplicar-se. E quando chegar a altura de se pagarem reformas, que para isso foram criados os fundos com os descontos dos trabalhadores?
Entretanto, aleluia!... o défice será de menos de 4,5%! É preciso repetir? 
E para o ano há mais fundos para transferir cont(h)abilidosamente? Há jornalistas jornalistas que perguntam, e Passos Coelho umas vezes diz que não, que não haverá novas medidas, aumentos de impostos e essas coisas, outras vezes - e no mesmo dia - diz que haverá novas medidas.

3 comentários:

Graciete Rietsch disse...

São hábeis contabilistas que sabem esconder as vigarices.

Um beijo.

Sérgio Ribeiro disse...

cont(h)abilidosos!

Beijos

Olinda disse...

Tanta habilidade nas contas e outras que ficam por contar.Este orçamento tem muito que contar.