sexta-feira, novembro 10, 2017

Ponto e contraponto - a discriminação da mulher e o 7 de Novembro

6ª "dose"
caixas de fósforos no 60º aniversário



PONTO

 - Edição Nº2293  -  9-11-2017
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Mulheres trabalham dois meses gratuitamente

DESIGUALDADE As persistentes disparidades salariais entre homens e mulheres levam a que as mulheres trabalhem os últimos dois meses do ano gratuitamente.

Por ocasião do Dia Europeu pela Igualdade Salarial, a Comissão Europeia publicou, dia 31 de Outubro um relatório que descreve os diferentes focos de desigualdade que continuam a penalizar as mulheres nos 28 estados-membros.
Em média, a diferença no valor/hora entre homens e mulheres atinge os 16,3 por cento, a desfavor destas. Daqui resulta que as mulheres trabalham 59 dias por ano sem remuneração.
Segundo o relatório, o fosso salarial é mais reduzido na Itália e no Luxemburgo (ambos com 5,5%) e Roménia (5,8%); e mais elevado na Dinamarca (22%), na República Checa (22,5%) e na Estónia (26,9%). Em Portugal a diferença é 17,8 por cento, acima da média europeia, segundo os dados do documento, relativos a 2014.
Em relação a 2006, as diferenças salariais na UE apenas se reduziram 1,4 pontos percentuais, isto apesar de ser cada vez maior o número de mulheres com formação superior (33% contra 29% em 2006).
Porém, as discriminações não se verificam apenas a nível remuneratório. As mulheres tendem a trabalhar em sectores com baixos salários, têm menos promoções e estão sub-representadas nos cargos de gestão e direcção, estimando-se que apenas seis por cento dos cargos de direcção estejam ocupados por mulheres.
A Comissão Europeia constata ainda que «as mulheres tomam a seu cargo importantes tarefas não remuneradas, como o trabalho doméstico, o cuidado de crianças ou de familiares, em muito maior medida do que os homens».
De facto, os dados indicam que «os homens dedicam em média nove horas por semana na prestação de cuidados não remunerados e na realização de tarefas domésticas, enquanto as mulheres destinam 22 horas às referidas actividades, ou seja, perto de quatro horas diárias».
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CONTRAPONTO
de
UMA GRANDE INICIATIVA (texto de Lenine, de Junho de 1919!)
(…)
Todos devemos reconhecer que a cada passo, em toda a parte, e também nas nossas fileiras, se revelam vestígios da abordagem charlatanesca, intelectual burguesa, da questão da revolução. A nossa imprensa, por exemplo, não luta o suficiente contra estes restos putrefactos do apodrecido passado democrático-burguês e apoia pouco os rebentos simples, modestos, quotidianos, mas vivos, do verdadeiro comunismo.
Tomemos a situação da mulher. Nenhum partido democrático do mundo, em nenhuma das repúblicas burguesas mais avançadas, faz, neste aspecto, em dezenas de anos, nem a centésima parte daquilo que nós fizemos no primeiro ano do nosso poder. Não deixamos, no sentido literal da palavra, pedra sobre pedra das infames leis da desigualdade de direitos da mulher, das restrições ao divórcio, das ignóbeis formalidades que o rodeiam, sobre o não reconhecimento dos filhos naturais, a investigação da paternidade, etc. - leis de que subsistem em todos os países civilizados numerosos vestígios, para vergonha da burguesia e do capitalismo. Temos mil vezes razão para nos sentirmos orgulhosos do que fizemos neste domínio. Mas quanto mais limpamos o terreno da cangalhada de velhas leis e instituições burguesas, tanto mais claro se tornou para nós que isto foi apenas a limpeza do terreno para a construção, mas ainda não a própria construção.
A mulher continua a ser escrava do lar, apesar de todas as leis libertadoras, porque está oprimida, sufocada, embrutecida, humilhada pelos   pequenos trabalhos  domésticos, que a amarram à cozinha e aos filhos, que malbaratam a sua actividade num trabalho improdutivo, mesquinho, enervante, embrutecedor e opressivo. A verdadeira emancipação da mulher e o verdadeiro comunismo só começarão ali e onde começar a luta em massa (dirigida pelo proletariado, detentor do poder do Estado) contra esta pequena economia doméstica, ou, mais exactamente, quando começar a sua transformação em massa numa grande economia socialista.
Concedemos nós na prática suficiente atenção a esta questão, que, do ponto de vista teórico, é indiscutível para qualquer comunista? Certamente que não! Preocupamo-nos suficientemente com os rebentos do comunismo que já existem neste domínio? Uma vez mais, não e não! As cantinas públicas, as creches e os jardins infantis - eis exemplos destes rebentos, eis meios simples, correntes, sem pompa, grandiloquência nem solenidade, de facto capazes de emancipar a mulher, de facto capazes de minorar e suprimir a sua desigualdade em relação ao homem pelo seu papel na produção social e na vida social. Estes meios não são novos. Foram criados (como, em geral, todas as premissas materiais do socialismo) pelo grande capitalismo, mas neste eles têm sido, em primeiro lugar, uma raridade, e em segundo lugar - o que tem particular importância -, ou "eram empresas mercantis, com todos os piores aspectos da especulação, do lucro, do engano, da falsificação, ou então uma acrobacia da caridade burguesa", odiada e desprezada, com toda a razão, pelos melhores operários.
É indubitável que estas instituições são já muito mais numerosas no nosso país e começam a mudar de carácter. E indubitável que entre as operárias e camponesas há muito mais talentos organizativos do que os que nós conhecemos, pessoas que sabem organizar o trabalho prático, com a participação de um grande número de trabalhadores e de um número muito maior de consumidores, sem a abundância de frases, a futilidade, as brigas e a charlatanice sobre planos, sistemas, etc., de que "padece" a "intelectualidade", sempre demasiado presumida, ou os "comunistas precoces”. Mas não cuidamos como deveríamos desses rebentos do novo.

Vejamos a burguesia. Como sabe admiravelmente dar publicidade àquilo que lhe é necessário! Como exalta as empresas "modelo" (na opinião dos capitalistas) nos milhões de exemplares dos seus jornais, como sabe fazer, de instituições burguesas, "modelo" objecto de orgulho nacional! A nossa imprensa não se preocupa, ou quase não se preocupa, em descrever as melhores cantinas ou as melhores creches, em conseguir, com uma insistência diária, a transformação de algumas delas em instituições-modelo, em fazer propaganda delas, em descrever pormenorizadamente a economia de esforço humano, as vantagens para os consumidores, a poupança de produtos, a libertação da mulher da escravidão doméstica, a melhoria das condições sanitárias que se conseguem com um exemplar trabalho comunista e que se podem alcançar, que se podem alargar a toda a sociedade, a todos os trabalhadores.

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