Em alguns sítios e "sites" se procura assinalar condignamente a data de 7 de Novembro de 1917, a vários títulos (começo do "século soviético", "revolução de Outubro", "revolução russa", "Revolução das Revoluções") e a diferentes níveis. Menos, como é evidente (até pelas excepções) pela ausência, na comunicação social "oficial" e "oficializada", ou por escassez e forma redutora de tornar o acontecimento numa "coisa acontecida e mal sucedida", por impossibilidade de limitar a comemoração ao avante! e ao comício "dos comunistas" no Coliseu dos Recreios, de Lisboa. Assim não será. Na Associação Yuri Gagarine, na Faculdade de Letras em Lisboa, na Universidade Popular do Porto, em muitos outros lugares (também na Universidade Sénior de Ourém) se falará, se conversará, se debaterá a data e o que representou (e representa) na História da Humanidade. Como, acabado de ler no Expresso curto de ontem, da autoria de Valdemar Cruz, no seu contar-nos o que "anda a ler":
«As narrativas históricas são por sistema moldadas pelos parâmetros ideológicos dos vencedores.
Por vezes surgem, porém, outras visões, outras leituras capazes de
proporcionarem uma visão diferente sobre acontecimentos que nos marcam de
diferentes maneiras.
É o que sucede com o ambicioso projeto concretizado pelo catedrático catalão
Josep Fontana, intitulado El
Siglo de la Revolución. Una historia del mundo desde 1914. (Aqui as 30 páginas iniciais do Capítulo I). Em
800 páginas ancoradas num sólido trabalho, de leitura muito fluida, Fontana
procede a uma desmontagem
do edifício ideológico patente na historiografia dominante.
Constrói, desse ponto de vista, uma versão alternativa da história do mundo
desde o início da I Guerra Mundial (1914), até o final de 2016. Abrange todo um
período de lutas de
libertação, de confrontos de classe e permanentes ameaças da ordem estabelecida.
A primeira e intensa metade do século XX ocupa os seis capítulos iniciais. As
décadas seguintes (a partir de 1945) vão ocupar os restantes 11 capítulos. É, em grande parte, o tempo da “Guerra
Fria”. São os anos durante os quais Fontana defende ter
começado “uma nova ordem mundial”, marcada pela hegemonia dos EUA, primeiro em constante competição com a
URSS, depois numa situação de terreno livre de qualquer rival.
(Último capítulo aqui).
Fontana sustenta que após a derrota do fascismo, os progressos do estado social
cumpriram a função de servir
como antídoto contra a penetração dos ideais comunistas no
chamado mundo ocidental. Assim é alcançada a excecional situação dos anos que
vão de 1945 a 1975, quando nos países desenvolvidos se registaram os maiores níveis de igualdade até então
conhecidos, e se reforça a esperança num mundo de progresso
contínuo em que os grandes objetivos sociais dos revolucionários poderiam
alcançar-se pacificamente pela via da negociação.
Sabe-se o que aconteceu, com a
desmobilização e consequente derrota de importantes setores do movimento
operário.
O desmembramento do bloco soviético, escreve Fontana, induziu a ideia de que o comunismo deixara de ser uma ameaça
para o mundo capitalista, e daí decorreram mudanças radicais no
estado social, nas leis do trabalho, nas relações sociais, com a abertura de
caminho “à reconquista do poder pelas classes dominantes”, com a promessa de
que viria a caminho uma nova era de progresso e igualdade.»
Anexa-se convite (que se repetirá...)
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