quarta-feira, maio 13, 2020

De desconhecimentos indesculpáveis e etc.


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De ignorâncias indesculpáveis, abusos imperdoáveis, fanfarronadas inconsequentes, diatribes petulantes … a pecados originais


A comunicação social (e a “opinião pública”, seja ela o que for) delicia-se com os erros do Costa, as explicações do Centeno, menos mas ainda assim com as irritações do Pedro Nuno e as diatribes do SSilva.
Envolve-se tudo num papel de fantasia bem colorida com algum pretenso humor, e assim se esmaece o que tem realmente importância. Quando se apaga ou esconde o que está na origem (e por vezes é original) dos erros e desculpas, das mal alinhavadas explicações, das irritadas fanfarronadas, das petulantes diatribes.
Claro que não é despiciendo o primeiro-ministro dar, por confessada ignorância, informações erradas, o ministro das finanças esquecer-se que faz parte de uma equipa nacional que tem um capitão, que o ministro das infraestruturas se zangue pelo comportamento de quem gere uma infraestrutura à margem do interesse infraestrutural do País, que o ministro dos negócios estrangeiros dê mostras de obsessão pelo andamento dos negócios, e só (ou, à “fina”…, tout court) daquilo a que chamam economia.

Tudo isto é… cansativo. É fogo artifício. É o que nada interessa à política, no seu sentido nobre.
Trata-se de um jogo que faz com que as pessoas, todos os que são assim “informados” do que tem, ou teria, a ver com as suas vidas e se afastam dessoutra política, da necessária, de que são os mandantes, se em efectiva democracia. Porque os detentores do poder.

O que está na origem (e por vezes tem aspectos originais) dos erros, das mal alinhavadas explicações, das irritadas fanfarronadas, das petulantes diatribes são, por ordem resumida, embora bem susceptíveis de se expandirem:

i)                os “erros” confessados do primeiro-ministro resultam por inerência do funcionamento de um capitalismo dito regulado, em que os criados instrumentos correctores das previsíveis e inevitáveis contradições do primado (se não absoluta prioridade) de interesses privados, egoístas e que ressaltam gritantes, nada corrigem e muito contribuem para confundir e distrair os “informados” das causas;
ii)               as “explicações” do ministro das finanças (ou teria sido do presidente ainda em exercício do euro-grupo?) derivam de equívocos que subvertem o conceito  e prática da soberania, quer fazendo prevalecer as finanças sobre a economia, quer dando primado à escala supra-nacional sobre a compatibilização solidária das soberanias nacionais, que provocam esquecimentos, ao ministro das finanças da economia do País e o fazem cometer a inexplicável ausência de informação cabal ao primeiro-ministro do governo a que pertence (nos intervalos de presidente e candidato a presidente do euro-grupo?);
iii)             as “fanfarronadas” do ministro das infraestruturas são compreensíveis num membro de um governo que se vê impotente para (pelo menos) influenciar a gestão e o serviço público sob a sua tutela, mas essa impotência foi prevista e prevenida quando se chamou a atenção para o que resultaria da vaga avassaladora de privatizações, de que o partido a que pertence (ele e o seu governo) não se opôs, antes estimulou, ao arrepio da CRP, enquanto constituição económica com a articulação dos três sectores (público, cooperativo e privado) e a reserva de actividades-chave para o sector público, e não se vislumbrar que a irritação patenteada e televisionada tenha impllicado a referência a eventuais re-nacionalizações em serviços públicos vitais e de bandeira;
iv)             as “diatribes” do ministro dos negócios estrangeiros não são apenas desagradáveis pelo tom petulante, e por vezes agressivo, que podia ser só idiossincrático (cada um é muito de como funcionam as suas hormonas e os seus humores), são também o resultado de opções que se revelam nas posições que se adoptam como nacionais, de política externa, diplomática, com referência excessiva e obediente a um certo “mundo dos negócios”, preterindo seguidista e irracionalmente o que e quem é atacado por esse “mundo” de Trump business first.

De vez em quando, tem de se desabafar. 
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                

2 comentários:

Unknown disse...

É, entendo o desabafo... Dar volta a isto não é fácil. De facto, tudo reside no Poder Político e a quem serve. Será mais uma vez o Povo, os trabalhadores, a pagarem a fatura , com ou sem vírus. Já agora, o que pensas do chamado Movimento Progressista que parece ter o Veroufakis como principal figura? Abraço.

Sérgio Ribeiro disse...

Abro excepção - e nem me posso esforçar para procurar saber quem é o Unknown... - para sublinhar aquele necessário "E A QUEM SERVE"! Por isso, agradeço o comentário. Sobre o dito Veroufakis e outros movimentos de afirmadas intenções progressistas vejo-os sempre na perspectiva da unidade quando eles aparecem (quase) sempre com auto-presunção da substituição do que está na luta antes deles e continuará depois deles... se não corrigirem a sua via para a da procura de unidade.