sexta-feira, julho 24, 2020

"Esta não é a melhor semana para dizer mal da Europa"... ou será?

Enquanto, frente a este computador a que trabalho e me ajuda a viver  o meu tempo no tempo que vivo, procurava - com os "metros de altura"* que são os meus - como começar a trabalhar, com o tempo livre de que desfruto, enquanto ouvia o debate sobre o estado da nação, do que ouvi me veio a ajuda.
Disse António Costa, em resposta a Jerónimo de Sousa, pretendendo ser irónico "... esta não é a melhor semana para dizer mal da Europa..." . 
Esta frase, à pretendida ironia se juntaria um certo tom de paternalismo e presunçosa satisfação. Queria o primeiro ministro dizer que esta não era semana para dizer mal da União Europeia (a que por deslize permanente e não inocente chama Europa)  porque o Conselho Europeu em que ele participara (com, evidentemente, auto-valorizada intervenção sua), fora magnânimo na concessão de milhares de milhões como gesto de solidariedade, aliás dificilmente alcançado no final de um bem encenado suspense hitchcoquiano.
Pois, e por mim falo, embora com a convicção de que não o faço para um qualquer deserto povoado de orelhas moucas, esta é uma semana em que muito há a dizer de uma União Europeia, associação de 27 Estados-membros, com 63 anos de existência, que aumentou sucessivamente o número de associados, que passaram de 6 a 9 (e não 10) a 12, depois a 15 (e não 16), até chegar a estes 27 (que não são 29 nem 28 porque um potencial repetidamente não o quis ser e um outro passou de potencial a semi-efectivo e depois "exitou" ao fim de várias hesitações-opções em que foi ficando sempre out).
E é a semana para afirmar que o que se diz solidariedade (ou plano de recuperação) é a caridade que mantém cada vez mas dependente o necessitado dela. 
É o sempre tempo de dizer e confirmar que a associação cumpre a sua natureza de serviço - ao serviço de uma classe - enquanto associação de Estados-membros chamada União Europeia. 
É mais uma oportunidade de dizer a que associados tem beneficiado como filhos e a que associados tem tratado como enteados. 
É ainda altura para comprovar, dentro de cada associado, quais são as regras que impõe para que se cumpram objectivos da associação com essas regras (chame-se-lhes planos ou orçamento, de recuperação ou plurianuais, sempre sobrepondo a pretendidas soberanias) que se destinam a salvaguardar interesses (e lucros e especulações) de uns à custa de interesses (e remunerações e rendimentos) de outros. 
É, ainda e não só, uma semana em que bem se vincou a sempre não-saciedade de alguns, bem pouco frugais com o que poderia ser redistribuição de riqueza criada em outros com o trabalho de muitos nativos e mal pagos.  

Eis como uma simples frase, aparentemente feliz e silenciadora, pode provocar reflexões talvez (ou decerto) de não muito feliz expressão mas de muito sentida e fundamentada correcção ou (atrevo-me) de justificado correctivo.

* - é o título de um filme (Um Homem tem 3 metros de altura)
de Martin Ritt, de 1957
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Dedico este post (não é de uso, mas vai)
aos meus camaradas na frente de luta que é o Parlamento Europeu,
com quem tive o gosto de conviver trabalhando e trabalhar convivendo
esta semana em que tanto se falou da União Europeia











(como eu me vejo, rejuvenescido... e pequenino!)
.

1 comentário:

Olinda disse...

Um colectivo cinco estrelas!Os nossos deputados,que já foram e os actuais,ao serviço de quem trabalha.Só pelo respeito que tenho pelo trabalho destes guerreiros é que voto para o PE.Obrigada a todos,pois arar nunca é em vão.Bjo