quinta-feira, julho 23, 2020

Os picos de UMA crise-1

Se há palavras que têm moda, há outras que parecem estar sempre presentes. No que se escreve, no que se diz. Poucas como CRISE terão essa qualidade (?). A propósito - e por vezes a despropósito - lá aparece a crise a caracterizar o que vivemos ou o que foi vivido. No plano individual, ou no plano colectivo. Há as crises da infância, da juventude, da madura idade, da velhice (ih!, são tantas...); há a crise económica, a ambiental, a da agricultura, a alimentar, a crise do capitalismo. Fixemo-nos nesta. Que até tem bolhas...

Na minha opinião (que pode não estar certa... porque é minha, mas está fundamentada), acho incorrecto dizer-se que o capitalismo tem crises periódicas ou cíclicas. Considero que o capitalismo, como formação social baseada numa relação social que a define, está sempre, e inevitavelmente, em crise. E tem períodos de explosão da crise sempre latente, resultado de contradições intrínsecas que não pode resolver. Faz, acho eu, a sua diferença.

De onde resulta que as organizações que se incluem no quadro do domínio dessa relação social que define o capitalismo também vivem em crise. Que periodicamente tem os seus picos. Tal é o caso da integração económica europeia, que hoje se chama União Europeia, e já foi Comunidade Europeia, e antes Comunidade Económica Europeia. Que começou por ser uma associação de 6 Estados-membros, formando uma união aduaneira em alternativa a uma zona de comércio livre, que era defendida por outros Estados da chamada Organização Europeia de Cooperação Económica, por sua vez nascida de um Plano Marshall, que viera em socorro dos Estados do sistema capitalista economicamente debilitados pela guerra, assim aproveitando os Estados Unidos para expansão da sua economia e travar ou impedir o reforço do provisoriamente seu aliado, a União Soviética, e o (des)caminho de outros países que saíam da órbita capitalista.

Assim nasceu, com registo de nascimento em Roma, o então popularizado como mercado comum, e anos mais tarde, em Estocolmo, a chamada EFTA, ou os 7 da zona de livres trocas apenas para produtos industriais, e com um anexo G ao Tratado,que tinha em conta - ou fazia de conta que tinha... - o atraso de crescimento (económico) de Portugal.
Ora essa CEE, nascida a 25 de Março de 1957, começada com associação de 6 Estados-membros , seguia o caminho (e o exemplo funcional) da CECA-Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, criadoaa partir de uma célebre declaração do ministro dos negócios estrangeiros francês, Schuman. E veio alargando-se, ao longo destas décadas, passando de 6 a 9, depois a 10, depois a 12 (com Espanha e Portugal), depois a 15, até hoje a 27, e não 28 porque, pelo caminho e recentemente, o Reino Unido, que entrara em 1972 (mas só com um pé dentro) saiu, num processo complicado e ainda por concluir, que teria originado a "maior crise da União Europeia", como agora se chama, antes desta mesmo dos dias de hoje, que teria (quase) terminado ontem, e que teria sido a "maior crise da União Europeia", com o prolongamento da reunião do Conselho (reunião dos governos dos 27, ao mais alto nível)... e ainda falta que o Parlamento Europeu aprove o que estendeu negociações milhar de milhões a milhar de milhões, milhar a milhar de milhões para subsídios (mas com condições), milhar a milhar de milhões para empréstimos... mas só para o ano, e em cumulo de negociações relativas ao orçamento plurianual.

Porquê, e para quê, esta arenga toda? Porque tive (e gostei de) rever a história da integração europeia;para justificar e prolongar as reflexões sobre crise. É que se o Brexit tinha sido (e ainda não terminou) a "maior crise" logo é cavalgada por esta "maior crise" derivada do surto epidémico e da necessária transferência de meios (financeiros) com o nome de apoio solidário, de Fundo  de Recuperação (até de cópia espúria de um espúrio Plano Marshall).

Em resumo (para hoje), estou percorrendo o percurso do processo de integração económica dos países capitalistas europeus e vejo-o eivado de "crises", quando acho que a crise é só uma, vem das origens e não lhe faltam picos (ou explosões) a merecem ser chamadas de "a maior crise". Por exemplo, logo nos inícios, em 1965, a maior de todas, pelo menos em extensão, que não foi de um fim-de-semana prolongado até terça, mas de mais de 6 meses. O episódio da cadeira vazia... que fica para amanhã.



 

1 comentário:

Olinda disse...

É sempre com muita atenção que leio os teus textos.Porque ensinam e me dão ferramentas úteis para "o que der e vier".Concordo plenamente,que o capitalismo é ele próprio uma catástrofe mais ou menos atenuadas conforme as circunstâncias.O que o torna irreformável.Bjo