Exercício de compreensão. Por sofrer deveras, por conta sua e dos outros, o enteado do carpinteiro andava cansado. Ser profeta é tolerável, dizem-se umas frases bonitas, contam-se umas parábolas, fazem-se uns números de ilusionismo - a multiplicação de víveres escassos, o alívio de moléstias de foro vário ou a ressurreição de mortos resultam sempre -, e as pessoas exultam e bradam aleluias. Mas ser mártir, isso, cansa. Cansado por sofrer, porém obstinado com uma missão dolorosa e fatal - redimir todos os pecados do mundo -, missão que ninguém lhe havia atribuído, ele decidiu comparecer a uma consulta de um especialista em maleitas da cabeça, para ver se havia reparação para o seu mal. Levou credencial, foi à vaga. E o diagnóstico do seu mal foi ditado nestes termos, existe em si mais alguém - outrem, pode dizer-se. Não é gravidez, é grave apenas. O resto da história, já se sabe, foi a confirmação de tal gravidade. O Marquês.
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