domingo, outubro 28, 2007

Princípios... - 5

3.- O princípio e a conversa repetida
ou
Disseram os banqueiros e respondemos nós

O princípio da boa memória
(com começo noutro estilo… mais teatral, quase vicentino)

Disseram eles
Disse um dos barqueiros (perdão...) dos banqueiros:
«Isto está muito mau, são precisas soluções. E nós temo-las!
Há que fazer um corte de 10% nos salários!
Há que acabar com os privilégios dos trabalhadores!
Há que pôr fim às regalias a que "eles" se habituaram!
… Mas também temos um problema, é que o que “eles” querem é passar mais tempo na praia!»
Isto disse o primeiro dos banqueiros.
Logo o segundo banqueiro veio em pronto-socorro, no papel de optimista:
«Tens toda a razão.
Estamos a viver do endividamento (pessoal e nacional) e corremos o risco de nos tornarmos uma província habitada apenas por reformados e estrangeiros.
Isto só lá vai com uma redução dos salários!
Mas “eles” irão compreender.
Até esquecerão as férias e a praia para começarem a trabalhar mais e a ganhar menos. E a pagar o que nos devem com o dinheiro d"eles" que lhes emprestámos.
Nós obriga-los-emos a esquecer essas e outras coisas que uns dizem que são conquistas...
Já há 20 anos e há 30 anos foi assim.
Explicaram-se-lhes as dificuldades económicas e as pessoas colaboraram.»

Respondemos nós
Para começar, não teria sido bem assim…
Há 20 anos (e há 30), e em muitas ocasiões nestas décadas de democracia, apelou-se ao sacrifício dos trabalhadores, com as promessas alternantes (banqueiros por detrás) de que viriam depois as compensações.
E algumas, aparentes, vieram para alguns. Para muitos. Como é comum ouvir-se (ou pensar-se) “não há dúvida que se vive melhor: carros novos, casa nova, mais férias, aparelhos de televisão espalhados pela casa, a cores e com tvcabo, telemóveis quase desde o berço, os meninos e as meninas nos colégios e nos ginásios e nas músicas…”
Mas, nestes 20 anos (a começar antes), destruiu-se o aparelho produtivos, escancaram-se as portas para que de fora viesse o que satisfaz as necessidades, as de sempre, a comidinha e essas coisas básicas, e as novas, algumas capciosamente introduzidas nos hábitos dos portugueses.
Esse “melhor viver” foi assente sobre uma economia a ser substituída pela finança e num endividamento desregrado que os banqueiros promoveram jogando com as taxas de juro ao serviço dos desideratos seus (e de mandantes ou comparsas transnacionais). Tudo sobre pés-de-barro!
Agora, os endividados compulsivamente são apontados (e pelos banqueiros!) como culpados da política prosseguida (e pelas facilidades "dadas" pelos banqueiros...) de que foram alvos e vítimas.
E não falamos só dos trabalhadores. Também dos micros, pequenos e médios empresários.
No entanto, põe-se a questão: se isto está tão mau, e se é verdade que se “vive melhor” que há 20 anos, que se vive acima das possibilidades, não há que fazer sacrifícios?
No momento de hoje, vive-se, na verdade, melhor que no momento de há 20 anos. Aparentemente. Porque é tudo relativo e viver não é só o momento. Tem de ser também a segurança (não aquela com que nos massacram…) nos momentos que se seguem ao momento e no que os rodeia. E há um sentimento de salve-se-quem-puder. Até se diria de susto.
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(este princípio ainda continua
... para que não se esqueça)

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