sexta-feira, junho 11, 2010

Vasco Gonçalves


O comum da terra

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

EUGÉNIO DE ANDRADE
in: 12 Poemas para Vasco Gonçalves, Porto, 1977

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Já conhecia. É muito lindo.

Um beijo.

jrd disse...

Dois homens com 'H' grande.
Presentes!

Pata Negra disse...

Se um homem canta outro, então ambos serão grandes homens, um porque canta e ou outro porque é cantado.

Um abraço limpo e não lavável

samuel disse...

Vasco, um poeta de Abril... Eugénio, um herói das palavras...

Abraço.