Foi ontem entregue, na Assembleia da República, a proposta de lei que legisla o aumento de meia hora de trabalho no sector privado.
Ao contrário do antes dito - o que é normal! -, essa meia hora extra(ordinária) vai poder ser utilizada pelas empresas que despeçam... desde que voltem a contratar igual número de trabalhadores ao de trabalhadores despedidos, tendo 30 dias para o fazer, embora a proposta apenas refira a situação de despedimento colectivo ou de extinção de posto de trabalho, e não fale em rescisões por acordo, cessação de contratos a termo, despedimento por inadaptação ou outros.
Ainda, "de acordo com o trabalhador" (o que, neste quadro de desemprego galopante, e de legislação pré-feudal, parece humor negro), o tempo extra de trabalho pode vir a ser acumulado durante quatro semanas, e ser utilizado na semana seguinte, fora do dia de descanso obrigatório (não se pode faltar à missa ou à porta da igreja de mão estendida à caridadezinha!).
Se o capitalismo criou, no século XIX, a classe operária, uma classe social que vende, como mercadoria, a sua força de trabalho, dentro de regras que aceitam o pressuposto da livre disposição do corpo e do tempo de vida do ser humano, as normas laborais que estão a ser criadas no século XXI aproximam a utilização dessa mercadoria do uso (e abuso) do tempo de vida do ser humano, isto é, da escravatura que, ao longo dos séculos, tem vindo a ser abolida, e que, historicamente, se levava a crédito do capitalismo.
É a crise! Mas de quê? De civilização! Há que lhe pôr um travão.
2 comentários:
Concordo que é uma crise de princípios éticos, humanitários e civilizacionais.E concordo que há que lhe pôr um travão. Mas...quando vai esse travão fazer efetito e fazê-los parar????
Estas leis laborais vão fazendo regressar o tempo da escravatura.Com outros contornos, mas escravatura.
Um beijo.
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