Afirmando-se a partir da procura de conexão entre o nacionalismo e o marxismo, como partido comunista e patriótico, a Unión do Povo Galego (UPG) é o partido de um universo nacional que se pode simplificar dizendo representar um terço (em população e em espaço) de Portugal.
Para além de tudo o que nos liga como povos, embora tantas vezes sendo mais uma ilustração das "costas voltadas" entre da parcelas nacionais que compõem a Península Ibérica – entre Portugal e a Galiza ainda mais aberrante pela língua (quase) a mesma –, o UPG define uma série de temas (e teses) identificadores que nos mereceriam a maior atenção intelectual, cultural, ideológica, no tempos nacionais, ibérico e europeu (e mundial, de modo de produção em crise aberta) que vivemos.
Entre dois "Estados-nações" - enquanto Estados-membros de uma União Europeia - , Portugal e Espanha, a Galiza é uma das nações sem estado, em que uma parte do povo luta organizadamente para se afirmar como nação, e procura a forma Estado. E um dos mais importantes factores enformadores dessa luta é a língua-quase-a-mesma e a proximidade física e cultural com Portugal.
A afirmação do nacionalismo como alternativa à globalização é um lema e a posição face à União Europeia um dos vectores da luta política do UPG. No seu caminho, de 1964 até hoje, tem passado por várias etapas e - sem outras considerações - foi objectivamente relevante, no plano da luta institucional, a entrada na coligação com o Bloco Nacionalista Galego e o PSOE para a formação do governo autonómico de 2005 a 2009, a partir de uma maioria de dois deputados. E foi com essa diferença que, nas eleições de 2009, o Partido Popular recuperou a maioria, embora com menos votos que os somados pelos componentes da anterior coligação.
No complexo mapa eleitoral do Reino de Espanha, não se pretende mais que assinalar a especificidade da Galiza e o quão interessante foi aflorá-la, acicatando a vontade de melhor a conhecer. Por outro lado, nesta curta viagem e estadia (mais passagem) foi muito significativa a vivência de um dinamismo, de uma muito interveniente actividade cultural e de um aturado esforço de fortalecimento ideológico a partir de uma base teórica afirmada sem reticências, no quadro de políticas de alianças e coligações muito delicadas e eventualmente contraditórias. Como a vida o é.
Como dissemos no debate, foi fácil (e bom!) em Galiza sentirmo-nos galegos sem, em nada, deixarmos de ser o que somos.
7 comentários:
Permita-me que discorde do seguinte:
1. A Espanha não é um Estado-nação mas antes um Estado supranacional ou seja, que abranje várias nações sob a hegemonia de Castela;
2. O galego e o português são a mesma Língua, apenas diferindo na grafia, podendo ser considerada uma variante tal como o Português que se pronuncia no Brasil. Aliás, lembro a iniciativa do deputado Camilo Ceive do BNG quando intervem em Português, no Parlamento Europeu, considerando-o a sua própria língua ali oficialmente reconhecida, evitando desse modo exprimir-se em castelhano...
3. Em relação à Galiza, não se verifica a tal posição de "costas voltadas". De resto, ela tem participado em questões tão fundamentais como a discussão do Acordo Ortográfico. Sucede que as relações de Estado determinam uma forma de relacionamento com o próprio Estado Espanhol, situação que não se coloca em relação à Galiza;
- Quanto à questão do "nacionalismo como alternativa à globalização" estou plenamente de acordo. Direi mais, a afirmação da identidade dos povos e das nações é uma das condições necessárias para a sua liberdade e o reconhecimento da diferença, ao invés do internacionalismo capitalista que tudo procura igualar e nivelar para melhor submeter e explorar!
O seu comentário levou-me a uma precisão no texto. Obrigado.
Já quanto a serem o galego e o português a mesma língua tenho (ainda?) muitas dúvidas. Não sendo linguista (longe de mim...). terão a mesma origem mas são variantes de uma outra graduação que não a das línguas que se falam em Portugal, no Brasil, em Cabo Verde e mais ex-colónias. Não é só a grafia que as distingue. Sobre as "costas voltadas"... a minha ideia será expressa em próximo "post".
Obrigado e saudações
Existem na Galiza duas correntes linguísticas: a isolacionista, assim designada porque pretende que o Galego não é mais do que um dialecto originário do castelhano, embora com influências portuguesas de, desse modo, impondo-lhe uma grafia da língua castelhana. E ainda a reintegracionista que defende a sua identidade e aproximação com a Língua Portuguesa em virtude de ambas possuírem a minha origem comum e a sua distanciação apenas ter resultado, por um lado, da opressão castelhano-leonesa que chegou inclusive a proibir o uso da língua nacional nos actos litúrgicos, precisamente no período dos Descobrimentos Portugueses, e pelo desenvolvimento separado da língua em territórios que, maus grado as tentativas efectuadas não concretizaram a sua unidade política, pelo que a influência moçárabe e, mais tarde, os contactos com outros povos resultantes dos Descobrimentos permitiram um desenvolvimento da língua falada a sul do rio Minho. (...)
Mas, temos de considerar alguns factores que estão na origem da nossa língua comum - Português ou Galego - e também da nossa identidade. E aí vamos encontrar aspectos interessantes que nos ligam a outros povos peninsulares e não só. Vejamos:
1. Há cerca de mil anos, as peregrinações a S. Tiago de Compostela (Sant'Iago de Campo de Estrelas), constitui também um grandioso movimento cultural uma vez que, à semelhança das feiras medievais, colocou em contacto diversos povos e respectivas culturas. Um dos inúmeros caminhos que os peregrinos percorriam era o que agora designam por "caminho francês" ou seja, um percurso que, passando pelo sul daquilo que actualmente se designa por França e era então a Provença (Langue D'Oc Roussillon). À época, florescia aqui uma poesia medieval e trovadoresca que, graças às peregrinações, veio influenciar o aparecimento da poesia trovadoresca galaico-minhoto, concretamente as cantigas de amigo, de escárnio e mal-dizer, de que os actuais cantares ao desafio minhotos são uma expressão daquelas últimas. Não admira, pois, que encontremos extraordinárias similitudes entre o Português e o Catalão! (...)
Como se sabe, a ocupação muçulmana da Península Ibérica não se verificou em toda a sua extensão territorial. No noroeste peninsular resistiram pequenos reinos visigóticos entretanto convertidos ao Cristianismo. São os senhores godos, de origem germânica, que estão na origem da nobreza da Idade Média que viria mais tarde a encetar o processo de Reconquista Cristã, constituindo essa uma das razões pela qual a formação das actuais nacionalidades peninsulares se processa de norte para sul e não o inverso. Também é devido a essa influência que encontramos com frequência entre os minhotos traços marcantes da fisionomia germânica. A própria toponímia é aliás bastante esclarecedora, como sucede com a relação entre Bouro (Terras de Bouro, etc.) em relação aos búrios...
A conjugação no mesmo espaço temporal e geográfico dos vários factores, nomeadamente a formação de uma classe de nobres e o florescimento da língua portuguesa através da poesia trovadoresca galaico-minhota, aliado a factores de ordem social como os que determinam a vontade de emancipação de sectores da nobreza galega em relação à nobreza leoneza e, mais tarde, dos nobres de Entre-O-Douro-E-Minho em relação à própria nobreza galega, contribuem para a formação das nacionalidades tal como actualmente as conhecemos.
Este assunto é deveras interessante mas não cabe num comentário...
Galiza, a Língua Portuguesa e o Acordo Ortográfico. Entre outros sítios, ver:
http://www.academiagalega.org/
http://www.academiagalega.org/info-atualidade/galiza-participa-nas-reunioes-do-instituto-internacional-da-lingua-portuguesa.html
Enviar um comentário