(...) trouxe de ontem, além das boas recordações próximas de um dia bom, do meio das conversas de convívio e amizade fraternas, a notícia – que também esse dia me trouxe – da morte do Pedro Ramos de Almeida.
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O Pedro morreu no domingo, 22, e só ontem soube, no meio de uma conversa casual com o Avelãs e o Martinho.
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Fiquei chocado!, foi uma daquelas notícias que nos acertam em cheio, muito dentro de nós, no nosso mais fundo.
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Mas, naquele ambiente, quase passou - tinha de passar! - em fugitivo salto para outra (ou a mesma…) conversa em que estávamos.
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Trouxe para hoje, depois de ter ido à estante buscar livros e de reforçar, com eles, a memória de um homem que tanta importância teve, com a sua intervenção cidadã, na minha vida, na vida de todos nós, neste nosso País da Só-mudança.
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Foi uma noite de intenso labor interno.
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Enquanto dormia (ou dormindo nos intervalos)…
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O Pedro foi o jovem que vinha do MUD Juvenil e que, com o avanço de 2 a 5 anos, acompanhou os da minha idade, há quase 60 anos, a dar os primeiros passos nos seus primeiros passos para a vida e a luta, para a luta e a vida.
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E foi a sua prisão, a tortura a que foi sujeito, a condenação a quatro anos, Peniche. O seu exemplo!
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E foi a fuga para o que dizem ter sido o exílio mas que foi a luta contínua, a clandestinidade lá fora, por vários lugares e tarefas, sempre num crescendo de responsabilidade.
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Depois, a surpresa de um reencontro, aqui, no nosso País da Só-Mudança, o reconhecê-lo, como clandestino aqui, e no seu papel na nossa reintegração no que (tantos de nós!) nunca deixáramos de ser.
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Foi a alegria para que tanto contribuiu, o reencontro connosco para sermos o que somos e sempre fomos desde que descobriramos o que éramos.
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E, de repente, de súbito... um outro encontro, na cervejaria Trindade, esse mais que inesperado, a brutal surpresa criando perplexidade, desorientação, desespero, ao avistá-lo numa mesa de cervejaria, com o cabelo a duas cores, desreconhecendo-nos!
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O choque enorme, brutal, depois da falha a outros encontros de que estava eu encarregado do transporte!
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E foram longos meses, anos de silêncios cruzados, de compreensão mas de não-aceitação.
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Fizemos chegar o 25 de Abril e, mais precisamente, a madrugada de 27, comigo acabado de sair de Caxias, vagueando pela madrugada da Lisboa de um País da Só-Mudança.
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«(…) Subi a S. Mamede e, à esquina da Rua da Escola Politécnica, encontrei o Pedro, o Ramos de Almeida. Reencontrámo-nos, depois de tantos meses em que o perdemos. Um grande abraço, muito especial, quase com reserva e pudor, e logo a alegria da certeza de que íamos dar tudo no que se seguiria. Para nós, para o nosso Povo que éramos, para a Pátria a fazer. (…)» (… porque vivi e quero contar, 1983)
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E assim foi!
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Com o seu enorme trabalho de organização no MDE/CDE, brutalmente interrompido por um desastre de automóvel que o quase o matou, e tantas sequelas lhe deixou (e que comprovo ao ler, comovido, as palavras dificilmente desenhadas nas dedicatórias dos seus livros), mas que não conseguiu parar a sua sempre notável intervenção.
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No Partido!,
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sempre a trabalhar, a estudar, a compilar, a intervir, quase sempre silenciosamente, mostrando uma alegria e uma vontade contagiantes (e sempre de exemplo) nos vários mas tão escassos encontros.
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Morreu um dos meus “homens imprescindíveis”!
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De repente o silêncio de partires
este vazio inquieto de estar só
ansiedade que dura até tu vires,
o refazer do desfazer de um nó
Está bem de ver
que a poesia
é outra maneira de acontecer.
E não é só nos versos
que há palavras de vento
imersas na corrente
do gostar.
É na gente!
1 comentário:
O Pedro era amigo dos meus amigos que pertenciam ao MUD Juvenil,ao qual eu não pertencia, mas conhecia muito bem. Nem sei se cheguei a ter qualquer contacto pessoal com ele,mas sabia quem era.
Também me chocou muito a sua morte.
Era um amigo pela proximidade de ideologia e comportamento.
E, quantos dessa época,se desviaram do percurso!!!!
Um beijo.
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