Na avalanche de informação e comentários, procuro um posicionamento pessoal e não abdico da visceral tendência para o partilhar. Para assim, em ricochete, o valorizar. Por isso, ao que chamo avalanche junto a minha torrentezita de escrita e sua divulgação (que sempre julgo escassa e precária).
Ainda domingo, na minha espécie de diário (dias de agora), escrevia
«Li alguns artigos de “gente do Expresso”, durante o “repoiso”, e
estou a elaborar num texto (ou, aqui, numas considerações) sobre o surpreendente
consenso criado por Ricardo Salgado.
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Ou o espúrio consenso e os seus limites consensuais.
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Ou o consenso à tona apesar dos desconsensos fundamentais (ou de
fundo).»
Na verdade, surpreendi-me (por isso foi surpreendente...) ter encontrado concordância com coisas escritas por quem, habitualmente, apenas escreve prosa com que nada concordo.
O que, por outro lado, não me surpreende porque procuro ler o que quer que seja com espírito crítico aberto e não ser preconceituoso... do tipo "é deste gajo, é para rebater... ou nem sequer ler" . Prefiro, sempre, partir para a leitura à procura de pontas para debater (a começar comigo e com as minhas próprias convicções/concepções face às que diferentes das minhas são). É facto que assim se poderá perder muito tempo, mas isso por vezes é compensado, como agora o foi, e a perda de tempo minora-se com a decisão, em relação a alguns dos potenciais interlocutores, "... deste não, já li que chegasse!, esgotou-se...".
Ora o facto é que, neste episódio Ricardo Salgado (muito relevante... mas episódio), até nestes últimos fui descobrir coisas novas, fui encontrar matéria merecedora de leitura, mesmo que ainda e sempre controversa. E ainda bem...
Deste modo se comprovaria a relevância do episódio... e será uma "virtude" de Ricardo Salgado, que, como DDT, criou tal ambiente que até contra si - e o sistema que o criou e tornou DDT - fez nascer anti-corpos, "ácaros"... e fez despertar reflexões que se aproximam das profundas e debatíveis questões. Terá RS criado corvos, ou, para se ser mais ortodoxo (não etiqueta mas estatuto de que gosto confessar-me), fez nascer, no bojo que não é só seu, forças que o viriam a destruir (se é que...).
Claro que tudo tem limites, e não se espere que um qualquer liberalão modernaço, comentador encartado chamado ao bom senso pelos excessos do liberalismo e do egoísmo individual, familiar, de classe, passe a colectivista, a defender o Estado para além da sua função "garantidora", se junte a Marx e a quem o (pros)segue na crítica à economia política. No entanto, podem comentaristas desses dizer ou escrever coisas muito acertadas e merecedoras de reflexão e debate. E terá acontecido.
Evidentemente que com limites, com o incontrolável vir ao de cima de preconceito (e ignorância), que tanto se traduz por expressões como "apesar de", "até mesmo com... esses" referindo-se a comunistas.
A tal propósito, cito um exemplo.
Em o dinheiro, Miguel Sousa Tavares escreve coisas certas, embora com enormes cautelas e presunções que lá saberá por que as tem..., mas não resiste ao disparate ao falar de Marx e de Adam Smith. Terá sido o que aprendeu na longínqua Faculdade de Direito mas já teve mais que tempo para corrigir o erro em vez de o enraizar e propalar. Dizer que "a constatação de Marx que o dinheiro gera dinheiro e que esse é o pecado original do capitalismo..." é revelar ignorância sobre Marx e marxismo, e é disparate o que logo acrescenta para tirar valia ao que poderia ser tomado como apreciação positiva. Se MST considera indesmentível a constatação atribuída a Marx, ela seria "incompleta: o dinheiro, como a terra e o trabalho, segundo ensinou Adam Smith, também é um factor de produção, desde que sirva para financiar a criação de riqueza...".
Pobre Adam Smith a apanhar com o labéu de ter "ensinado" que o dinheiro é um "factor de produção", apesar das indirectas a/ilusões etimológica com forte carga ideológica...
Mas cá vamos andando. E assim se faz o caminho.