domingo, maio 17, 2015

O Fim da guerra de 1939-45

Um domingo a fechar algumas "séries". A das celebrações do final da guerra 1939-45, por exemplo, Com esta  esclarecedora
- Edição Nº2163  -  14-5-2015
Mitos


A forma como boa parte da comunicação social ao serviço do grande capital tratou o 70.º aniversário da Vitória sobre o nazi-fascismo é vergonhosa, mas previsível. Veja-se o jornal Público de 9 de Maio. Escreve o órgão oficioso de Belmiro de Azevedo: «Tal como os comunistas outrora, os novos senhores do Kremlin assentam o seu poder na criação de mitos e na propaganda». E acrescenta o jornal cujo director em 2003 apoiou a guerra baseada no mito das 'armas de destruição em massa de Saddam Hussein': «o mito estalinista de que a salvação do fascismo assentou no sacrifício do povo russo e de seu líder foi recuperado pelos actuais senhores do Kremlin». Mito estalinista?!? Pode ser difícil para os propagandistas do grande capital, mas existe uma coisa chamada 'realidade'. Ou, neste caso, 'facto histórico'. Não é um 'mito estalinista' que na II Guerra Mundial, o mais mortífero conflito bélico da História, quase metade dos 60 milhões de mortos foram soviéticos. Não é um 'mito estalinista' que durante três anos – desde a invasão da URSS pela Alemanha nazi em Junho de 1941 até ao desembarque na Normandia em Junho de 1944 – a URSS enfrentou sozinha o grosso da máquina de guerra nazi. E que foi nesses três longos, solitários, dificílimos e mortíferos anos que a URSS combateu e venceu as batalhas decisivas que ditaram o desfecho da II Guerra Mundial: Moscovo, Leninegrado, Estalinegrado, Kursk e tantas outras. Graças ao heroísmo dum povo e do seu Exército Vermelho e do Partido Comunista, que aceitaram os sacrifícios – incluindo o da própria vida – para salvar o seu país, e a Humanidade, do monstro nazi-fascista. Propagandista do «mito estalinista», ao qual o Público é imune, será também o professor inglês das Universidades de Cambridge e Yale, Adam Tooze, que escreve : «O que é indiscutível é que foi na Frente Leste que o Terceiro Reich foi sangrado até à morte e que foi o Exército Vermelho que foi principalmente responsável pela destruição da Wehrmacht. [...] O ataque lançado pela Wehrmacht a 22 de Junho de 1941 [contra a URSS] foi a maior operação militar de que há registo na História [...] Nunca, nem antes nem depois, foi travado combate com tanta ferocidade, por tantos homens, numa frente de batalha tão extensa» («The wages of destruction», Penguin, 2007).

Se mito há sobre a Guerra (repetido no ano passado por Obama), é que o momento de viragem foi o desembarque anglo-americano na Normandia. Em Junho de 1944 o desenlace da guerra já estava traçado – embora ainda estivessem pela frente combates e muitas mortes. É legítima a suspeita sobre o que pesou mais na decisão dos EUA e Inglaterra em abrir, por fim, a Segunda Frente: o desejo de esmagar o nazi-fascismo, ou o receio de que a fazê-lo fossem apenas e exclusivamente a URSS e os movimentos de resistência popular armada entretanto surgidos em numerosos países – da Jugoslávia à Grécia, da China à Coreia e Vietname, da França a Itália – em grande parte sob a direcção dos respectivos partidos comunistas.

Seria bom que as atoardas da máquina de propaganda da NATO-EUA-UE – onde é cada vez mais difícil encontrar «qualquer coisa de verdade», como diria António Aleixo – fossem apenas o resultado da ignorância. Mas não. Trata-se da tentativa de, aproveitando a passagem do tempo, reescrever a História. Esconder que o nazi-fascismo foi a solução de força com que boa parte das classes dirigentes capitalistas – os Belmiros de antanho – tentaram salvar o seu poder e sistema em crise. Daí que a ascensão de Mussolini, Franco, Salazar e mesmo Hitler, tenha tido importantes apoios e conivências, mesmo nas 'democracias liberais'. Mas a falsificação histórica visa mais longe: visa criar, na actual crise profunda das velhas potências imperialistas, os mitos que permitam de novo recorrer às soluções de força e de violência. O que torna crucial comemorar e salvaguardar a verdade histórica sobre os 70 anos da Vitória.

 Jorge Cadima

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