transcrição de
Exposição (pessoal) em intenção de
“aula”
na “cadeira” de cidadania na
Universidade Sénior de Ourém
Caros concidadãos
Hoje é empossado, segundo algumas
“contas”, o 20º Presidente da República Portuguesa. Digo certas “contas”
porque não conta (mas depois contou...) o 1º, Teófilo Braga, porque foi provisório, nem Salazar, que
era, definitivamente, Presidente do Conselho e só fez um biscate entre Carmona
e Craveiro, nem a Junta de Salvação Nacional que, entre outras coisas, nos
salvou do Tomás neste lugar in nomine.
Não vos vou massacrar com biografias
oficiais e factos políticos gerais mas fazer-vos aproveitar da circunstância de
ser eu o orador e das circunstâncias microscópicas mas insubstituíveis que vivi, ou por causa deles, ou com eles. Que este relato superficial e epidérmico sirva
para esta nossa hora de convívio.
Esses primeiros (da 1ªRepública e até ao
golpe de 28 de Maio de 1926…) – Manuel Arriaga, Teófilo Braga,
Bernardino Machado, Sidónio Pais, Canto e Castro, António José de Almeida,
Manuel Teixeira Gomes, Mendes Cabeçadas, Jor. – não os conheci. No entanto, a partir
aí dos meus 18/20 anos passei a visitá-los no dia 5 de Outubro, no Alto de S.
João, dia anual de apanhar com a GNR em cima, com bastões, às vezes cavalos e
tudo.
Veio a seguir Gomes da Costa, depois de ter descido de
Braga, e nas suas voltas nunca passou pelo Zambujal nem eu já cá estaria. Quando nasci era nosso
(salvo seja…) Presidente da República um aparentemente simpático velhote, o
marechal (acabam todos em marechais…) Óscar Carmona. Ora o Óscar passou a contar pouco, como os
malmequeres que só têm pétalas de pouco ou nada.
Quando chegou a sua hora morreu e foi substituído
(vejam lá…) interinamente por Salazar enquanto se encontrava a solução Craveiro
Lopes, embora tivesse havido uma gente valente que tentou perturbar essa sucessão de sucessos com a
candidatura de Norton de Matos e de Quintão Meireles (e aí já entro eu, com os
meus 15 anitos).
O mandato de Craveiro não foi sem espinhos, e picou-se com Salazar,
houve uns desaguisados e não teve direito a segundo mandato. Para este foi
descoberto um marinheiro, com um h e um z no apelido Tomás (Thomaz) e de nome Américo. Este, começou por ter a oposição de Arlindo Vicente e depois de um opositor que ficou na História dos
presidentes (embora sem numeração), o general Humberto Delgado, que se vieram a juntar e pelos depois quem fiz
campanha cidadã, tinha eu 22 anos, com muitas limitações e alguma discrição. O que
me permitiu que votasse no general sem medo, pois só em 1963 é que me foram retirados os direitos
políticos... e outras coisas como uns tempos de liberdade de não estar preso atrás de grades e maus tratos,
Esse admirável almirante fez história… Uma antologia de ditos e frases e discursos e a assinatura do célebre despacho 100,
que foi, segundo teve o cuidado de lembrar, o que veio a seguir ao despacho
99 e antes do despacho 101, e que, várias vezes falou pela primeira vez nos
lugares onde ia pela primeira vez..…
Mas… adiante. Que estamos a chegar aos
presidentes que tenho, ou tive, o privilégio de conhecer enquanto o almirante navegava para o Brasil com escala no Funchal.
Logo, para começar, o general – depois marechal, claro
– Spínola. Esclareça-se que, a este, o conheci em circunstâncias curiosas que, ao que parece, não
se quer que se conheçam. Conheci-o, e ao monóculo, desfardados e empresários.
Bem antes de ser presidente da República em herança da
presidência da Junta de Salvação Nacional, como cavalheiro da
indústria siderúrgica, sócio de António Campalimaud, para o que suspendera a
sua vocação de cavaleiro militar e fero. A cuja vocação voltou, por causa – ao que
constou – de uns arrufos ou amuos com o sócio principal e, também, para cumprir o seu papel
histórico em guerras coloniais; as quais, ao ver que não as ganhava – o que lhe
fazia pressupor que ninguém o conseguiria... – o levaram a escrever um livro: Portugal
e o Futuro. Que não o viria propriamente a ser como ele propunha e pugnou de várias maneiras algumas bem condenáveis embora condecoradas.
Quando começou a guerrilheirar para
impor esse “futuro”, foi substituído por Costa Gomes, que tinha sido seu Chefe
do Estado Maior e o empurrara para essas altas cavalarias. Ora, Francisco Costa Gomes, como
Presidente da República, teve papel muito estimável na procura de estabilidade
e de consensos para se avançar com a democracia, e terá contribuído para evitar
coisas muito sérias, para as quais, a alguns, saltava o pé e a espingarda. Tenho prazer
em dizer que, este, conheci. Petiscou no quintal das traseiras da minha
casa em Lisboa, fiz viagens a acompanhá-lo a reuniões do CPPC e Conselho Mundial da Paz,
pois acabou nos “generais pela Paz”, ele que era – também, claro – marechal.
Chamaram-lhe muita coita feia, como Xico Cortiça, o que foi uma intencional injustiça.
Depois, vieram os dois mandatos de
Ramalho Eanes. Dois mandatos diferentes… mas não estou aqui, agora, para esse
tipo de comentários. Na minha memória pessoal revivida, dois registos:
- · uma interferência/”cunha” junto do chefe da Casa Civil, meu colega de curso, para que viesse a Ourém inaugurar a estátua de D. Nuno Álvares Pereira, o que ele não queria fazer por calhar em tempo de eleições mas eu, teria negado, como membro mais que minoritário (único) de uma Assembleia Municipal unânime (veio mas nem o cumprimentei… porque fujo sempre das 1ªs.filas e dos bicos dos pés;
- · ter-lhe enviado, por sugestão e por intermédio do seu assessor de imprensa Joaquim Letria, o meu livro Porque vivi e quero contar… e dele recebi uma carta de agradecimento com comentários só possíveis vindos de quem teria lido o livro e gostado de o ler.
Depois foi Mário Soares mas, para este, a
crónica seria demasiado extensa. Apenas o primeiro e o último contacto:
- · numa conferência de imprensa, em Bruxelas, antes do 25 de Abril, pu-lo deveras irritado com uma pergunta que lhe fiz, e mais ainda quando me identifiquei como jornalista da redacção do Notícias da Amadora:
- · no avião da primeira ida ao Parlamento Europeu após as eleições de 1999, que seria a minha última (por não ter sido eleito) e a 1ª dele (por ter sido eleito… lugar aos novos!), quis convencer-me da justeza da sua candidatura a presidente do PE, e eu tentei provar-lhe que seria um erro um rematado fracasso tal intento, e que traria prejuízos para a participação de portugueses na direcção do PE, o que não consegui... mas que breve se confirmou
Ao seguinte, Jorge Sampaio, conheci-o na
“crise académica de 1962" (eu já como ex-associativo académico), e encontrámo-nos
frequentemente, em particular entre 1969 e 1974 na CDE, e… sempre nos tratámos por
tu.
Cavaco Silva é “outra loiça” (e sempre com
o caldo entornado…). Duas notas quase de humor (o homem ri-se?)
- · assinei o seu cartão de atleta, sendo eu presidente da direcção do CDUL, o que fixei por ter achado curioso ter um jovem estudante da escola em que me formara a correr barreiras no Estádio Universitário;
- · apertei-lhe uma vez a mão, no 25 de Abril de 1990, ele 1º ministro sem cravo e eu de cravo impante na lapela (e não quero mais conversas…)
Para hoje – e para acabar – lembro que muito
novinhos – teria ele vinte e poucos e eu trinta e alguns – participei com Marcelo Rebelo de Sousa num
debate na sacristia de uma igreja em Campo de Ourique, andava ele nas suas tropelias aparentemente
heterodoxas, no fundo para facilitar a vida ao/s) padrinho.(s) E por aí ficaram os nossos
encontros.
Que o façamos cumprir a Constituição, como jurou, cumprindo o seu
(en)cargo.
2 comentários:
Uma exposição para ser aplaudida de pé!Que texto saboroso,camarada.Olha,com o mesmo espírito...gostei à brava!Bjo
Mas que bem relacionado!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Estou muito orgulhosa:-)))))))))))))
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