Transcrevo (corrigida e sublinhada) opinião (enviada e publicada) para médio-tejo.net, jornal digital para que me pediram colaboração semanal que cumpro, irregularmente (...) com muito gosto, e que, a 18 de Março me saiu assim, muito preocupado e atento (preocupação e atenção que não diminuiem, pelo contrário):
“EU, HOJE, SOU BRASIL”, POR SÉRGIO RIBEIRO
Escrevo a 18 de Março. Retomo, assim, uma colaboração que, embora de há pouco tempo, muito me agrada. Porque é uma forma de comunicar, que é o que pretendo fazer quando falo ou ponho os dedos a correrem pelo teclado. Não sei se algum leitor terá dado pela minha ausência… mas eu dei.
Claro que não vou preencher mais espaço dando justificações que a ninguém interessam. Mas aproveito a data de regresso como motivo de crónica. Porque é um dia especial para mim (haverá os que o não sejam?). E não por ser véspera de dia do pai (e, já agora, do avô); nem por ter sido o Bayern a equipa que saiu ao Benfica, facto transcendente que ocupa a quase totalidade da comunicação social que me entra pelos olhos e ouvidos na manhã de hoje. Porque, hoje, sou Brasil.
Acompanho com cuidada atenção, deste cantinho do que será (ainda) Médio-Tejo, a evolução internacional. Por razões idiossincráticas (terá a idiossincrasia razões?) e por alguma herança de tarefas de que estou reformado. Por isso, muito me interessou a relativamente recente emergência dos…emergentes. Dos BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul), a que podem juntar Angola, Venezuela, Cuba, Vietnam, Cabo Verde e outras emergências (por razões diferentes) como Síria, Turquia e por esse mundo fora. Que não pára de pular e de avançar (às vezes para trás).
Mas, hoje, é o Brasil que me convoca. Quando, depois de um difícil caminho para vencer os traumas de uma ditadura (ou várias), os brasileiros elegeram um ex-metalúrgico e sindicalista para Presidente da República era evidente que ele não seria o presidente de todos os (interesses) brasileiros. Num País enorme e potencialmente muito forte economicamente, desde logo se viu que a comunicação social, dominada pelo poder económico e financeiro, era um contra-poder político. No equilíbrio dessa correlação de forças se vive há quase década e meia.
Como “declaração de interesses pessoais”, ainda que apenas como observador, não nego que nunca me senti incondicionalmente atraído pelo PT (como, aliás, por nenhuma força política… nem por ninguém) mas via com simpatia e esperança a importância que o Brasil foi concretizando no quadro dos referidos emergentes e, sobretudo, anotava a saída de zonas de pobreza (e pior) de milhões e milhões de brasileiros. Em cada ano destes anos. Entretanto, a tal correlação de forças existia e provocavam-se atritos e desequilíbrios. Dentro e fora, com campanhas claras ou subterrâneas, aproveitando erros de uns e umas, más fortunas, talvez amores ardentes. Era uma das muitas frentes, ou elos de cadeias, como a financeirização, as dívidas, o preço do petróleo e outras incandescências.
Hoje, no Brasil, em apeadeiro de uma caminhada com antecedentes subterrâneos e manipulações escandalosas, jogam-se coisas bem mais importantes que os próximos Benfica-Bayern. Com o povo nas ruas. Com manifestações “boas”, ditas espontâneas, com manifestações “más”, porque de apoio ao que se pretende derrubar.
Com um papel fulcral da comunicação social – manipulada! – a ser manipuladora. Comprovando que, para o bem e para o mal, cada vez mais o futuro das massas depende das massas.
3 comentários:
Gosto!
É isto!
Sim! O Brasil agradece sua análise e solidariedade. Não ao Golpe!
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