sexta-feira, agosto 05, 2016

Para o rol das "secretarices" de Estado

Tem estado a animar o verão (ou a desanimar crédulos ou tidos por ingénuos...) o rol das tropelias e declarações de alguns Secretários de Estado (e de quem os procura ilibar) que dão pasto ao lado triste, perverso e indigno da política, alimentando quem dessas tropelias e declarações se serve num evidente e não menos lamentável aproveitamento para uma chuva de pedradas que esquece e esconde os próprios telhados  de idêntico material de construção,
Acrescente-se um episódio relevante ao rol de "secretarices" de Estado, mas este de outro nível, objecto de pertinente opinião sobre comportamentos não pessoais mas iigualmente nada éticos politicamente, inserta na secção actual do  

 - Edição Nº2227  -  4-8-2016

Má figura

O que fazem dois secretários de Estado a distribuir sacos de um banco privado numa fronteira de Portugal?
Ainda que se saiba que Agosto é sempre época de poucas notícias e por isso propício a assuntos mais leves, não resisto a questionar-me sobre a opção que leva membros do Governo de Portugal a distribuir, numa das mais movimentadas fronteiras do País, sacos de plástico, seguramente com kits de boas vindas aos emigrantes que regressam para um merecido período de férias, com o logótipo de um banco privado.
É legítimo que o Governo, no período de maior afluxo de regresso dos emigrantes tenha para com eles um gesto de reconhecimento e solidariedade? É. Direi mesmo que é correcto que o faça, que transmita que são bem-vindos os muitos milhares de compatriotas que foram obrigados a procurar uma vida melhor no estrangeiro. Direi mesmo que revela uma importante mudança de atitude relativamente aos que, no anterior governo, aconselhavam os portugueses a emigrar.
Mas será correcto que o faça promovendo um banco privado? Não me parece. Desde logo porque o Estado português poderia muito bem fazer esse investimento, sem ter que sujeitar os seus representantes a funcionarem como técnicos de marketing de quaisquer interesses privados. Ainda para mais de interesses que representam o sector que mais contribuiu para as muitas dificuldades por que o País hoje passa.
Mas também porque o Estado português é detentor de um banco, o maior do País, a Caixa Geral de Depósitos, que o Governo tem obrigação de defender, e que, para além do mais, é a grande entidade que liga milhares de emigrantes com a sua terra, com uma importante rede de balcões nas principais zonas de concentração de emigração portuguesa. Acresce que a promoção de uma entidade concorrente da Caixa Geral de Depósitos junto dos emigrantes, num momento em que se admite o encerramento de algumas desses balcões, dá ainda um sinal mais negativo.
E portanto, eu volto à pergunta inicial. O que fazem os secretários de Estado da Administração Interna e o das Comunidades do Governo português em Vilar Formoso, no primeiro fim de semana de Agosto, a distribuir sacos do BPI? Além de tudo o mais que possam fazer, fazem má figura.


João Frazão 

1 comentário:

Olinda disse...

A promiscuidade do poder político e o poder financeiro tornou-se banal.Ao fim e ao cabo,a ética e a decencia são valores de esquerda. À mulher de César...Bjo