terça-feira, agosto 30, 2016

Reflexões sobre desporto e jogos olimpicos

Quando o futebol (e, sobretudo, o seu negócio!) começa a avassalar tudo (a tornar tudo seu vassalo), ao fechar o o XVº caderno de factos i relevâncias pareceram-me pertinentes algumas obsservações lá deixadas sobre as Olimpíadas, há uma semana:

Terminaram os Jogos Olímpicos, e terminaram melhor do que poderia ter sido desejado (e provocado) pelo imperialismo. 
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Eu, que os acompanho desde 1948, que sempre me interessei pelo desporto, vejo-me – nesta provecta idade – impressionado por resultados que confronto com memórias. 
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A minha admiração pelo ser humano e pela sua superação é imensurável em segundos e metros, mas estes são sinais de uma evolução que espanta.  
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Até onde o limite humano, com a velocidade a vir abaixo dos 10 segundos nos 100 metros e dos 20 segundos nos 200 metros, com os 400, 800 r 1.500 metros a serem não meio-fundo mas pura velocidade, com os 5.000 e os 10.000 a serem corridos em pouco mais de 13 e de 27 minutos, e a maratona a roçar as 2 horas, isto para só falar do atletismo de corrida?    
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...e apenas do masculino, porque se fosse no feminino o confronto com os resultados do “meu tempo” o espanto seria maior  
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No “meu tempo” (de 1948, quando comecei a sonhar com olimpíadas, e pouco adiante) menos de 11’’ nos 100 metros já era considerado muito bom, como 22’’ nos 200, de 50’’ nos 400, 2’ nos 800, de 4’ nos 1.500, de menos de 15’ nos 5.000  e de ½ hora nos 10.000.
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Isto para falar de distâncias corridas e minutos (ou segundos), mas seria o mesmo se se falasse de metros saltados em comprimento e altura, seja de uma vez só ou em três saltos (pulo, passo e salto… dizia-se então), seja sem ajuda ou com ajuda de vara. 
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Lembro só o triplo-salto quase inacreditável de um tal Rui Ramos (do Belenenses!), que pulou 15 metros e mais 54 centímetros, ou o record do Álvaro Dias no salyo em comprimento com 7,34 metros que mereceu enorme admiração. 
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E, em altura, o tempo que durou o récord do Espírito Santo estabelecido em 1940 – como ibérico! – (antes do rolamento ventral e muito antes do fosbury flop), com 1 metro e 88, que só o Avelino Mingas (e não o Rui Mingas, como se esperava) bateu já nos anos 60, era eu vice-presidente da Federação, com um salto de 1 metro e 94!   
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Agora mesmo, nestes Jogos Olímpicos, o canadiano  que ganhou saltou  2 metros e 38
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A propósito, e à margem da memória, única fonte que quero usar para estes registos, procurei Avelino Mingas, ministro das Finanças em Angola/MPLA. e assassinado na/durante a “revolta activa”, em 1977 (com 35 anos), e vi muita informação impressionante e algumas coisas bloqueadas… 
(23.08.2016)
Tendo ontem referido alguns nomes retirados da memória, relativos a marcas e resultados no que respeita a saltos, queria encerrar estas recordações sem cometer a injustiça de não anotar alguns outros nomes (sem falar em modalidades) que a memória me traz, ou que trago comigo desde esse tempo.
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Tomás Paquete, Matos Fernandes, Francisco Bastos, Fernando Casimiro, Manuel da Silva, o sinaleiro que lançava o peso… e tantos outros. 
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Deste tempo em que o desporto era actividade lúdica e não espectáculo e mercado, sendo o espectáculo legítimo e louvável enquanto assumido como tal, mas podendo ser o mercado excrescência (moderna) da escravatura quando a mercadoria é o ser humano, já complementando e ultrapassando a fase histórica da mercadoria força de trabalho, expressão da sobrevivência do capitalismo.
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Ou de uma etapa (histórica e, por isso, efémera) de pós-capitalismo coexistindo com o seu estertor.
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No entanto, para encerrar este olímpico capítulo, duas observações.
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Para mim, as Olimpíadas, como ideal, era o encontro mundial do amadorismo e de paz, por isso retomado em 1948, depois do hiato de 1940 e 1944 após a negação de tal ideal em 1936, por obra e graça do nazi-fascismo.
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Por isso, o espectáculo interpretado por profissionais com base em modalidades desportivas não tinha lugar nos Jogos.
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Hoje, poderiam juntar às referências do Manifesto de 1848 de actividades de prestígio e respeitabilidade fora da esfera mercantil (ligadas à saúde, à educação,,, à prática de catecismo religios), as do desportista tornado profissional e, ele próprio, mercadoria.
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(“Os clubes conseguem tratar os jogadores como se fossem carne. Não os tratam como pessoas. O futebol é isto, os clubes tratam-nos como se fossemos um prouto. (…)” Sandro, A Bola, 22 de Agosto de 2016)
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Última observação-recordação: no “meu tempo” (lá estou eu…) quem ganhava as provas de fundo eram os ardinas, os vendedores de jornais, rua-a-rua, porta-a-porta, varanda-a-varanda, que esperavam à porta das tipografias os números ainda a cheirar a chumbo para partir em correria para chegarem o mais cedo possível com as notícias aos cidadãos.
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Até formaram um clube desportivo, Vendedores de Jornais Futebol Clube.
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Criado em 1921 (creio eu), que ainda hoje existe!
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A mais antiga prova de estrada do calendário português
A Estafeta Cascais-Oeiras-Lisboa SEASIDE é a evolução da mais conhecida Estafeta Cascais - Lisboa, nascida em 24 de Abril de 1932 que, com 72 edições já realizadas, é a mais antiga corrida de estrada do atletismo português, tendo já por ela passado a grande maioria dos melhores fundistas nacionais de sempre. A ideia foi do jornalista Alberto Freitas: Uma estafeta de Cascais ao Terreiro do Paço (27.400 metros), com os seguintes cinco percursos: Cascais - Parede (6200 m), Parede - Paço de Arcos (6300 m), Paço de Arcos - Algés (5900 m), Algés - Av. da índia (5700 m) e Av. da Ìndia - Terreiro do Paço (3500 m). No entanto, temendo (?!) o trânsito da época, a prova foi encurtada à última hora, ficando-se pela Avenida da Ìndia e ficou assim com quatro percursos. Até agora, esta edição inaugural, para alguns a edição zero, não tinha sido considerada para as estatísticas. Com a evolução agora considerada, para quatro percursos, o mesmo número da edição de 1932, é lógico considerá-la nas estatísticas, em termos de triunfos colectivos e individuais. Voltemos à edição inaugural. A concentração dos atletas fez-se às 13.30 horas no Terreiro do Paço, donde os atletas foram transportados para Cascais em automóveis conduzidos por adeptos da modalidade a quem a Associação de Atletismo de Lisboa apelou. A partida foi dada às 14.50 horas, com vinte minutos de atraso, por Alberto Freitas e, como juíz de chegada, actuou Afonso Salcedo, pai do actual secretário-geral da Federação Portuguesa de Atletismo, Jorge Salcedo. Participaram oito equipas de quatro clubes (três do Benfica, duas do Sporting e dos Vendedores de Jornais e uma do Probidade). O Benfica apresentava-se como favorito e daí o facto de bastantes adeptos do clube terem acompanhado a corrida de automóvel e bicicleta, acrescentando-se ao entusiasmo e à entusiástica indisciplina dos milhares de espectadores que em todas as localidades dificultaram sobremaneira a organização e a própria “vida” dos corredores. O “herói” da corrida acabaria por ser o mais jovem atleta da equipa vencedora, Armindo Farinha, que, partindo com o atraso de 50 metros do veterano Cecílio Costa (que fora recordista dos 5 e 10 mil metros), confiou a Manuel Dias a vantagem de 150 metros, tornando fácil para o Benfica uma vitória que com outro atleta no terceiro percurso o Sporting até poderia vencer. Aquela que acabou por ser a primeira edição oficial com cinco percursos realizou-se no ano seguinte, a 23 de Abril de 1933. O primeiro percurso foi subdividido, através de uma transmissão no Estoril, de forma a proporcionar a presença de um meio-fundista curto, e o último, até ao Terreiro do Paço, foi mesmo abolido de vez. Estiveram presentes quatro equipas apenas e a vitória pertenceu aos Vendedores de Jornais. Ao longo dos seus 80 anos de vida, apenas por 7 vezes a prova não se realizou: em 1953, devido ao litígio entre os clubes lisboetas e a FPA, em 1956, devido ao facto da Câmara Municipal de Lisboa ter impedido a utilização das ruas da capital, o que levou até a que, nos quatro anos seguintes (de 1957 a 1960), a prova tivesse sido substituída por um Guincho – Algés, e já neste século, em 2005 e 2006, 2008, 1009 e 2010, por falta de patrocinadores. Outras alterações, de menor vulto se deram ao longo destes 80 anos. Relativamente ao local da chegada, a construção da rotunda de Alcântara levou a meta para a antiga FIL em 1973. Julgou-se depois encontrar um local definitivo, com a utilização do Estádio do Restelo, mas a realização de um jogo de futebol obrigou nos anos seguintes à sua alteração para a entrada do Estádio (!), primeiro, e para os Jerónimos, depois. Finalmente, o patrocínio da FIL, a partir de 1982, levou a nova alteração. Também o local da partida foi alterado em 1982, graças ao patrocínio da câmara de cascais, levando o primeiro percurso a crescer de 2200 para 3200 metros. Em 1992 deu-se outra grande transformação na prova ao abrir-se, pela primeira vez, a participação a equipas populares e a equipas femininas, que deram outra dimensão à iniciativa. Contudo, com a diminuição dos patrocinadores e alguma falta de vocação para enquadrar o atletismo popular, a prova foi diminuindo de interesse competitivo e, na última década a prova não se realizou em cinco anos. Agora, a competição, graças ao esforço da Associação de Atletismo de Lisboa e da Xistarca, com o patrocínio da Seaside, e os apoios da CP - Caminhos de Ferro Portugueses, Revista Atletismo e água Vitalis conhece uma evolução de modelo competitivo com quatro percursos numa distância exacta de 20 km.
(Associação de Atletismo de Lisboa)
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Acabaram os Jogos Olímpicos, que não foram, como patrioteiramente parecia pretender-se que fossem  SÓ medalhas esperadas… que não houve, excepto uma, e de bronez e que se honra.
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Acabaram, Por aqui e por agora.

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