sexta-feira, março 24, 2017

Dia do Estudante

(...)
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Estive nas duas - na de 1957 (do 40 900) como dirigente associativo-RIA, na de 1962 como antigo dirigente) - ... mas nunca nada começa connosco:
EM 1947 - HÁ 70 ANOS!
(lembrado há 5 anos)


NATO (1949), CEE (1957) e U.E. (1992).... gémeos




A criação da NATO, em 1949, antecedeu em oito anos o Tratado de Roma, que deu origem à Comunidade Económica Europeia (CEE). E todos os seis Estados fundadores desta tinham participado na formação da Aliança Atlântica, sob o controlo militar norte-americano da Europa Ocidental e sobre os escombros de uma vasta região carente do traiçoeiro e caríssimo Plano Marshall. Nos prosaicos termos da teoria dos conjuntos, a CEE (hoje União Europeia) integra a NATO desde os tempos em que nem sequer nascera.
É inevitável que a chamada «construção europeia» – na sua vertente real, não a mitológica para efeitos de propaganda – seja inseparável da estratégia e dos comportamentos da NATO, uma vez que uma e outra cuidam dos mesmos interesses. A versão oficial assegura que são a democracia e os direitos humanos; os cidadãos sentem e sabem, por experiência própria, que a «Europa» e a autoproclamada «aliança defensiva» cuidam sobretudo da impunidade do mercado, do casino da finança, da austeridade, da desregulação de capital e trabalho, das guerras expansionistas e de rapina sempre que esses interesses as reclamem.
Não foi apenas na origem que a união militar antecedeu a união política; a história das décadas mais recentes demonstra que a NATO chegou sempre antes da «Europa» quando e onde houve matéria-prima – territórios, países e povos – a capturar.
Nos Balcãs, na esteira da destruição artificial e sangrenta da Jugoslávia, a aliança militar apropriou-se – formal ou informalmente – da Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo e Montenegro; a União Europeia, enquanto tal, chegou depois e submetendo-se aos esboços traçados pelo aparelho militar transatlântico, para então cuidar da formatação política nesses territórios, entre chantagens e promessas miríficas.
Mais flagrante ainda foi a corrida aos despojos dos antigos Tratado de Varsóvia e União Soviética. A NATO fez de lebre na anexação dos países desde a RDA, Roménia e Bulgária aos Estados do Báltico, fazendo a União Europeia de tartaruga, isto é, impondo a componente política invasiva depois de estabelecidos os parâmetros militares, os quais, em boa verdade, presidiram à transição sem rede da economia planificada para a anarquia mercantilista. Ao conjunto das operações chamaram «democratização».
Ainda hoje – hoje em realidade temporal e não figura de retórica – os Estados Unidos acabaram de colocar mais mil soldados com capacidades letais na Polónia, ameaçando «defensivamente» a Rússia, ignorando olimpicamente os desencontros, apenas narcísicos, entre o regime pré-fascista de Varsóvia e Donald Tusk, o agente polaco do liberal-conservadorismo instalado à cabeça do Conselho Europeu.

«(...) a história das décadas mais recentes demonstra que a NATO chegou sempre antes da "Europa" quando e onde houve matéria-prima – territórios, países e povos – a capturar.»

Não passam, pois, de mitos engendrados nos centros de propaganda que alimentam a gesta da chamada «integração europeia» as lendas em torno dos «pais fundadores» e seus impulsos visionários. Enquanto o banqueiro Jean Monnet criava o seu Comité de Acção para os Estados Unidos da Europa, na primeira metade dos anos cinquenta, depois de ter assessorado o presidente Roosevelt no impulso armamentista norte-americano, já os Estados Unidos tinham assegurado o controlo militar e «democrático» da Europa através da NATO, integrando até a ditadura fascista que vigorava em Portugal; ainda Robert Schuman, o «pai da Europa» a quem o papa Wojtyla abriu as portas da canonização no ano da queda do Muro de Berlim, pregava sobre a indispensável aliança política entre a França e a Alemanha, já os dois países se tinham irmanado dentro da NATO, sob a tutela do Pentágono; ainda o direitista chanceler alemão Konrad Adenauer procurava salvar os restos das bases industriais do país do assédio punitivo da França e de Jean Monnet – depois diluído com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – e já a Alemanha Ocidental fazia parte da NATO, o que aconteceu antes de ser reconhecida verdadeiramente como um novo Estado soberano.
Durante toda a segunda metade do século passado, a partir do Tratado de Roma de 1957, a Comunidade Económica Europeia sempre foi olhada como um «pilar europeu» da NATO, submetendo a política de defesa dos Estados membros às normas, práticas e estratégias da aliança militar transatlântica. A integração política desenvolveu-se sempre no âmbito de uma confraria militar operada a partir dos Estados Unidos e envolvendo um núcleo dos países mais poderosos tanto na «Europa» como na NATO: Alemanha, França, Reino Unido e Itália. O Brexit não altera os dados da situação porque se processa apenas na União Europeia – o elo mais fraco destas ligações.
A transferência de tarefas operacionais da NATO para a CEE/CE/UE, tendência que se vem reforçando no século em curso, no âmbito da formação de um chamado «exército europeu», não é redundante do ponto de vista militar porque traduz, sobretudo, uma partilha de missões e uma repartição de encargos, naturalmente em prejuízo dos países e povos europeus.
Porque a questão de fundo, a permanente pressão militar atlantista sobre as decisões políticas, no âmbito da integração europeia e da vida nos Estados participantes, sempre foi salvaguardada.
Os exemplos dessa realidade foram abundantes durante a guerra fria, período em que a «integração europeia» serviu de pretexto para a definição de baias políticas que não poderiam ser ultrapassadas pelos Estados membros, mesmo que a vontade dos povos, expressa em eleições, e até o realismo de alguns políticos o justificasse. Uma linha absolutamente inultrapassável imposta pela NATO, e cumprida pelas instituições europeias, era a do acesso de Partidos Comunistas à área governamental.
Os casos mais flagrantes foram o de Itália nos anos setenta, culminando com o assassínio do dirigente democrata Aldo Moro; e os da Grécia – onde o PASOK sempre rejeitou acordos com os comunistas; e, sobretudo, de Portugal, onde a adesão à CEE, sem qualquer consulta popular e informação objectiva da população sobre as consequências, foi uma operação que serviu principalmente para tentar liquidar, através de imposições externas militares, económicas e políticas, as vias transformadoras harmonizadas com o espírito da Revolução de 25 de Abril.

«Uma linha absolutamente inultrapassável imposta pela NATO, e cumprida pelas instituições europeias, era a do acesso de Partidos Comunistas à área governamental.»

Os partidos sociais-democratas e socialistas europeus, peças estratégicas da «integração europeia» sob gestão da NATO, respeitaram as exigências atlantistas – parte de uma obscura política de bastidores – e sempre que surgiam suspeitas de desvios o mal era extirpado liminarmente. Assim desapareceu o primeiro ministro sueco Olof Palme do número dos vivos. Para manter as aparências «democráticas», as decisões emanadas do submundo político-militar eram executadas por organismos terroristas clandestinos apensos à própria NATO – a Gladio, por exemplo – como está cabal e documentalmente comprovado.
Assim se foi solidificando, dentro da NATO e da União Europeia, a convergência das políticas militares e económicas dos socialistas/sociais-democratas e das direitas liberais-conservadoras em formato de partido único, no exterior do qual não havia prática política com acesso à verdadeira tomada de decisões.
Com a queda do Muro de Berlim a NATO tomou o freio nos dentes e nem sequer pôs a hipótese de se extinguir, uma vez que o mesmo acontecera com o Tratado de Varsóvia, muitas vezes identificado – com todo o desplante – como a razão da sua existência.
A confluência dos avanços neoliberais durante os anos oitenta, a vertigem do progresso tecnológico e a extinção do inimigo ideológico proporcionou a veloz e frenética anexação dos ex-membros do Tratado de Varsóvia pela NATO, ainda antes de o serem pela «Europa».
O Tratado de Maastricht, fruto deste cenário, remeteu, de facto, o Tratado de Roma para a arqueologia da «integração europeia». Surgiu uma outra «Europa», sem se sentir amarrada a quaisquer peias de capitalismo «social» ou «de rosto humano».
As instituições europeias e os Estados membros, de Lisboa a Tallinn, abraçaram o neoliberalismo puro e duro; os socialistas/sociais-democratas, antes de começarem a emergir excepções, embriagaram-se com a terceira via – o liberalismo thatcheriano à moda de Blair; tudo isto sempre a reboque da estratégia da NATO e das suas guerras sem leis, ao serviço da globalização entendida como regime neoliberal global.
Até à crise que explodiu há quase dez anos, tão teimosa que parece inconvertível ao determinismo capitalista da sucessão de ciclos de crescimento e estagnação/recessão.
Para a NATO, tal facto não parece ser problema. Os militares, por definição, não têm que se preocupar com a democracia, os direitos dos cidadãos e até as convulsões no mundo das economias. Isso, em tese, cabe aos políticos.
O elo mais fraco do sistema, porém, está agora ainda mais fraco. O normativo político da NATO já começou a ser desrespeitado aqui e ali; a União Europeia tornou-se uma caricatura de um gigante mal amanhado e com os pés de barro; e o capitalismo selvagem é sacudido por contradições que ainda há poucos anos eram inimagináveis.
Não é apenas o Brexit e outras insolvências; nem sequer o aparecimento de Trump; nem a fuga para a frente do que resta da União Europeia, a diferentes velocidades e para um federalismo sem qualquer tipo de sustentação; nem as setas envenenadas disparadas entre Washington e Berlim, entre Varsóvia e Bruxelas, entre Paris e Moscovo, entre uns e outros, entre outros e uns.
Assistimos apenas a sinais; detectamos sintomas. A instabilidade tomou conta das estruturas transnacionais neoliberais que se afirmavam sólidas, inamovíveis, capazes de decretar o fim da História. Há um potencial e um espaço para a mudança, porém ante uma barreira que procura travar o desmoronamento do sistema – a NATO. Esse potencial de mudança arranca muito atrás de fenómenos nos quais o capitalismo, temendo a desagregação, foi delegando atribuições para sobreviver: o fascismo, o nacionalismo, os estados de excepção.

Geminada com a NATO desde o nascimento, a União Europeia é sempre uma putativa entidade paramilitar. Com o extremar das crises, o poder autoritário das armas abafa a razão das palavras. Cabe aos cidadãos evitar que a guerra seja, mais uma vez, a «solução».

quinta-feira, março 23, 2017

Na contradição da "intranquila normalidade" (ou da anormal tranquilidade)... citando uma crónica do local

«Valdemar Cruz almoçava em Piccadilly Circus, ao início desta tarde, quando se deu o ataque terrorista nas imediações do Parlamento britânico. Eis o seu relato (no Expresso) do ambiente vivido numa das capitais do mundo e da sua “intranquila normalidade”


em Londres

Passavam poucos minutos das 14h30 e, de repente, toda a zona de Piccadilly Circus, onde almoçava, ficava dominada pelo intenso e continuado barulho de ambulâncias a passarem em grande velocidade
Na rua, no restaurante, não se deteta qualquer alteração de comportamentos. É o contraste absoluto com o drama – virá a saber-se mais tarde – vivido uns metros mais abaixo. Impera uma estranha normalidade. Por vezes, nestas circunstâncias, estar perto é estar muito longe.
Já na rua, largos minutos depois, são duas jovens mulheres brasileiras a dar a primeira nota de alarme. Ao perceberem a proximidade linguística mostram-se perturbadas. Uma delas tem um pequeno filme feito escassos minutos antes nas proximidades dos incidentes, mas sem a mais pálida ideia do que se possa ter acontecido. Sabe apenas ter sido impedida de prosseguir o passeio a pé em direção ao Big Ben.
Passam repórteres fotográficos a correr. Em vão. Todas as passagens estão bloqueadas. Ao tráfego automóvel e de peões. Os edifícios públicos são esvaziados de gente. Tudo em escassos minutos.
Prossigo a caminhada por Trafalgar Square. Junto à National Gallery há um amontoado de gente. Em grande parte são funcionários do museu. Continuam a passar ambulâncias a alta velocidade. Há helicópteros no ar. Numa ponte pedonal, um repórter de imagem de uma televisão tenta focar o longe. Não consegue aproximar-se mais. Lá no fundo vê-se uma ponte com o trânsito bloqueado, veem-se os carros da polícia com as luzes ligadas. Ali ao lado está a London Eye. Fechada. Um pouco à frente aparece o Royal Festival Hall. Fechado. Ainda mais à frente, junto ao rio, na zona renovada até à Tate Gallery, de novo um aglomerado de gente. São os funcionários da Tate, convocados a sair para a rua.
É estranho. Chegam as primeiras mensagens de familiares e conhecidos. Trazem angústia. Falam de mortos e feridos. Falam de um possível ataque terrorista. Fala-se de um tempo feito de suspeitas. Fala-se do medo e da dor.
Ao longo da tarde, o centro de Londres é um espaço bloqueado. Paralisado. E, no entanto, não obstante do alarme das notícias impõe-se uma calma assustadora. As pessoas passam, e nada parece ter acontecido. O tempo passa e, na verdade, quem está na rua não sabe o que está a passar. E esta ignorância não remete apenas para Londres. É uma ignorância do mundo. É uma ignorância sobre o mundo em que vivemos. É uma pergunta ainda sem resposta. O que se passa? Até quando?
Em frente à Tate Modern, um homem toca saxofone, interpreta “Baker Street” de Gerry Rafferty. Cai a tarde. Continuam a passar ambulâncias. A melodia daquele saxofone acaricia a languidez da tarde que se esvai. O tempo passa. As pessoas passam. A cidade esfuma-se no espanto da intranquila normalidade.»


Sindicalismo e Trabalho em África - um colóquio (informação)


Nesta semana?... a propósito de 60 anos do Tratado de Roma!

Abril Abril

Hoje

Quarta, 22 de Março de 2017



Um passado sem futuro


Nesta semana esperam-nos entorses e mistificações da História das últimas seis décadas no continente europeu, em resposta a mais uma crise do projecto de integração capitalista.
Um passado sem futuro

terça-feira, março 21, 2017

Ditos, Textos & Contextos


do Jornal Económico:

Gastam dinheiro em “copos e mulheres” 

e “pedem que os ajudem”: 

Dijsselbloem arrasa países da Europa do Sul


Declarações do presidente do Eurogrupo
foram criticadas por deputados europeus,
mas Dijsselbloem afirmou
que "não se irá desculpar".
O presidente do Eurogrupo, Jeron Dijsselbloem, acusou a Europa do Sul de gastar o seu dinheiro “em copos e mulheres” e “depois pedirem que os ajudem” e alvo de críticas, recusa-se a pedir desculpa pelas declarações.
Dijsselbloem afirmou que “durante a crise do euro, os países do Norte mostraram-se solidários com os países afectados pela crise. Como social-democrata, considero a solidariedade extremamente importante. Porém, quem pede [ajuda] também tem obrigações. Não se pode gastar o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir que o ajudem. Este principio aplica-se a nível pessoal, local, nacional e inclusive a nível europeu”, em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine, citado pelo El País.
As declarações do presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês foram criticadas por deputados espanhóis, que consideraram “insultante” e “vulgar”, durante uma audiência parlamentar em Bruxelas, esta terça-feira, descreve o Financial Times.
Contudo, Dijsselbloem afirmou que “não se irá desculpar”, realçando antes sobre as declarações a solidariedade entre os países do Eurogrupo.
“Não se ofenda, não se trata de um país, mas de todos os países. Os Países Baixos também fracassaram há alguns anos no cumprimento do que foi acordado [sobre as regras financeiras]. Não vejo um conflito entre as regiões do eurogrupo”, afirmou o ministro das finanças holandês.
Jeron Dijsselbloem termina o mandato de presidente do Eurogrupo em janeiro de 2018. Ontem, à entrada da reunião do Eurogrupo, colocou nas mãos dos países europeus o seu futuro, admitindo que, quando houver um novo ministro das Finanças holandês – dado que será (não deverá ser) reconduzido como ministro das Finanças no seu país, em consequência da derrota histórica do seu partido (PvdA) nas eleições da passada quarta-feira - caberá aos países da zona euro tomar uma decisão sobre o seu cargo. Sublinhou, no entanto, que tal ainda poderá “levar alguns meses”.
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Coitado do homem. É preciso compreendê-lo depois do desastre, da catástrofe eleitoral que teve. Deve estar perturbado. Ainda se os gajos lá do sul se tivessem endividado a gastar dinheiro com as mulheres da red light district lá da terra dele, de Amsterdão!...
Estas declaração não têm desculpa. Definem um estadista, um homem, um infeliz ser humano... que é ministro das finanças e presidente do EuroGrupo!

Quentes e más!... últimas notícias

Jornal Económico:

O que é que Vítor Constâncio está lá a fazer?”:
Belém “indignado” com BCE
Redação - 16:19
Ameaça de sanções a Portugal por parte do BCE e inação do antigo Governador do Banco de Portugal surpreendeu e indignou Belém, noticia o jornal Expresso.
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Dois comentários (às 16:27):
1. Não foi SEXA que convidou Draghi para um Conselho de Estado?
2. Como disse Bento de Jesus Caraça (em Maio de 1933!):
"De modo que mais necessário e urgente que nunca, para pôr termo a esta coisa sórdida, anti-racional, a esta macacada que é a política europeia presente, mais necessário que nunca é e continua a ser despertar a alma colectiva das massas."
(A cultura integral do indivíduo-problema central do nosso tempo, 
Maio de 1933 - nota de Maio de 1939)
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Afinal... última hora (às 18:30):
O porta-voz de Belém (que só há um e é o Presidente) desmente indignação. 
Que pena!

no DIA DA POESIA - a minha esolha

do meu diário (ou quase) na série factos i relevâncias (caderno 27º):

21.03.2017
 (...)
O cronista dos factos i relevâncias – Recomeçando...
O Velho – … no Dia da Poesia.
O cronista dos factos i relevâncias – … com quem?!
O Velho – Logo me salta o Cesário, o “meu poeta”.
O cronista dos factos i relevâncias – … o nosso!
O Velho – É verdade. Pelo que foi e, sobretudo, pelo que poderia ter sido se não tivesse morrido com 31 anos,
O cronista dos factos i relevâncias – É significativo que, acabado de ler este livrinho do Zé Gomes, em que tanto escreve tão pouco sobre a escrita e os seus artífices - como grupo -, não tenha eu dele retido uma linha, uma palavra, sobre Cesário.
O Velho – É verdade. E admiro tanto os dois… Mas vamos ao registo, neste dia.
O cronista dos factos i relevâncias – … estou aqui para isso!
O Velho – E, por isso…, vamos guardar – para hoje – um começo e pedaço do “sentimento de um ocidental”, e, para amanhã – para a “aula”/oficina da Universidade Sénior de Ourém – o poema “impossível” como mote para glosar.

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Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

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Isto… escrito por um homem com um domínio da língua que nos querem roubar como o fizeram (provisoriamente...) à soberania de cunhar moeda!, homem que, com uma vida de 31 anos, ainda teve tempo para, no mesmo poema “sentimento de um ocidental”, nos ter deixado esta(s) mensagem(s)

 

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

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E também – a propósito de 
(...) castíssimas esposas,
que aninhem em mansões de vidro transparente!
nos deixou esta versão do que dizia ser impossível:

 

Impossível


Nós podemos viver alegremente,
Sem que venham com fórmulas legais,
Unir as nossas mãos, eternamente,
As mãos sacerdotais.

Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
Cor de azeitona escura.

Eu posso, se quiser, cheio de manha,
Sondar, quando vestida, pra dar fé,
A tua camisinha de bretanha,
Ornada de crochet.

Posso sentir-te em fogo, escandescida,
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
Nas noites de verão.

Eu posso, com valor que nada teme,
Contigo preparar lautos festins,
E ajudar-te a fazer o leite-creme,
E os mélicos pudins.

Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo,
Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac,
Hinos de amor, vestidos de veludo,
E botas de duraque

E até posso com ar de rei, que o sou!
Dar-te cautelas brancas, minha rola,
Da grande loteria que passou,
Da boa, da espanhola,

Já vês, pois, que podemos viver juntos,
Nos mesmos aposentos confortáveis,
Comer dos mesmos bolos e presuntos,
E rir dos miseráveis.

Nós podemos, nós dois, por nossa sina,
Quando o Sol é mais rúbido e escarlate
Beber na mesma chávena da China,
O nosso chocolate.

E podemos até, noites amadas!
Dormir juntos dum modo galhofeiro,
Com as nossas cabeças repousadas,
No mesmo travesseiro.

Posso ser teu amigo até à morte,
Sumamente amigo! Mas por lei,
Ligar a minha sorte à tua sorte,
Eu nunca poderei!

Eu posso amar-te como o Dante amou,
Seguir-te sempre como a luz ao raio,
Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou,

Lá essa é que eu não caio!

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Amanhã, com um dia de atraso…, muito iremos “oficinar” sobre poesia!

sexta-feira, março 17, 2017

Sobre o estado do mundo e a dialéctica da história

 - Edição Nº2259  -  16-3-2017

Ficção política


A barragem desinformativa anti-russa tomou conta da agenda política e comunicacional dominante. Mais além da parafernália e delírio propagandísticos, e independentemente de considerações críticas de substância que há a fazer sobre a evolução e vicissitudes do capitalismo russo, retenha-se que esta é essencialmente uma campanha oportunista e funcional aos objectivos agressivos dos EUA e das potências imperialistas, num tempo de grande turbulência sistémica em que as feridas do tombo capitalista mundial de 2007/8 estão longe de sarar. Não é pois perdoável que a Rússia se atreva a resistir ao status-quo e a ser cooptada pelos desígnios da ordem mundial prevalecente que naturalmente tem como centro os EUA. 
Os EUA, UE e NATO bombardeiam e retalham a Jugoslávia, fazem gato sapato da Carta da ONU e direito internacional; um presidente norte-americano que invadiu o Afeganistão e o Iraque com base em mentiras proclama a cruzada contra Ialta e a ordem internacional fundadora saída de 1945, mas é Moscovo, por natureza, a potência revisionista. Desde a desintegração da URSS, a NATO não cessa a expansão para Leste, os EUA comandam uma desenfreada corrida belicista, desenvolvem um sistema ofensivo global antimíssil e adoptam a doutrina de (primeiro) ataque demolidor, mas é Pútin e a Rússia que ameaçam a unidade europeia e a pacífica ordem assente no sacrossanto elo transatlântico. EUA e UE promovem forças neofascistas e conluiam-se no golpe de Estado na Ucrânia e deflagrar da guerra no Donbass, mas é a Rússia a potência invasora. Como ontem a Líbia, a Síria é hoje outro exemplo da macabra hipocrisia dominante. São inapagáveis os nexos entre as agências do imperialismo e o ISIS e demais organizações da constelação terrorista islâmica que intervêm decisivamente na guerra de esfacelamento da Síria. EUA e Turquia são forças invasoras e as acções da coligação internacional liderada por Washington são terrorismo de Estado e uma frontal violação do direito internacional. Mas os culpados da tragédia síria são os mesmos de sempre: o regime de Assad e seus aliados, antes de mais a Rússia. 
Na espiral de perversão e inversão da realidade, até as eleições dos EUA terão sido predeterminadas por Pútin. Trump surge assim quase como um corpo estranho, exterior ao sistema e código genético da potência hegemónica, em que um presidente pode ser democraticamente eleito com menos três milhões de votos do que o concorrente. Com tal insidiosa campanha de russofobia quase se esquece o registo de ingerência, desestabilização e guerra de que os EUA são destacados artífices no mundo. Incluindo os objectivos estratégicos da ofensiva contra a Rússia. O folclore anti-Pútin poupará diligentemente os epígonos da escola de Gaidar e as posições do capital financeiro no aparelho do poder russo. O alvo não é o poder em si da oligarquia ou a restauração capitalista. Não podendo para já realizar o cenário da Maidan russa e o objectivo inconfessável de desintegração, o imperialismo aposta na escalada de pressões, procurando atiçar o velho chauvinismo russo.


Luís Carapinha 

OUTRA informação sobre os resultados na Holanda

De abrilabril:

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do diário:
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Outra informação!

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Há que respirar de alívio por a extrema direita não ter ganho?, fraco alívio quando subiu 33% dos deputados e passou a ser o 2º do parlamento, com 20 deputados.

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Que dizer do partido que se diz ter ganho quando perdeu 20% dos deputados (!), e do que era 2º (com 38 deputados) e ficou com 9 (!) perdendo 76% (!!) dos deputados?

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E porque não se sublinha que a esquerda (Partido Socialista e Esquerda Verde) passaram a ter 28 deputados (14 cada), tendo a Esquerda Verde subido 250%?

quinta-feira, março 16, 2017

Citação a propósito de problemas centrais do NOSSO tempo

Citação (entre muitas possíveis e desejáveis!) de Bento de Jesus Caraça:
“…Mas não caiamos no erro fácil de atribuir tudo aos erros dos homens. O desejo natural de largas camadas da população francesa de não deixar fugir os frutos duma vitória dificilmente conseguida, por um lado; um mau estado da economia mundial que gerou uma política geral de nacionalismo económico - exactamente o contrário do que deveria racionalmente fazer-se, mas os interesses de classe sobrepuseram-se, por toda a parte, aos interesses gerais a crise terrível que a partir de 1929 se desencadeou sobre o mundo capitalista; tudo isto são razões suficientemente fortes para explicar que a política desses homens dificilmente poderia ter sido diferente daquilo que foi. Muito bem, mas eu pergunto - o que é então um estadista? (13)…”

13 A questão está imperfeitamente posta. Em termos de maior rigor deve-se pô-la assim: - é possível haver um grande estadista duma classe, em período de declínio dessa classe?


A Cultura Integral do Indivíduo – problema central do nosso tempo, 1933-1939


quarta-feira, março 15, 2017

Holanda, hoje - a quem serve esta tensão?

Do  Diário de Notícias:


De ontem para hoje

Abril Abril

Hoje

Terça, 14 de Março de 2017


PCP solidário com Dilma Rousseff

A presidente eleita do Brasil, destituída do cargo em Agosto de 2016, foi recebida hoje na sede da Soeiro Pereira Gomes, onde Jerónimo de Sousa denunciou o processo que conduziu à sua ilegítima destituição.
PCP solidário com Dilma Rousseff

Convocada greve dos enfermeiros

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) convocou uma greve para os dias 30 e 31 de Março. Entre outras questões, em causa estão as 35 horas para todos os enfermeiros, o pagamento do trabalho extraordinário, a contratação de enfermeiros e o fim dos vínculos precários.
Convocada greve dos enfermeiros

Ecologistas querem plano de emergência nuclear

«Os Verdes» apresentaram um projecto de reforço das medidas de resposta a uma emergência nuclear, anunciado nas jornadas parlamentares, propondo planos municipais nas margens do Tejo.
Ecologistas querem plano de emergência nuclear

Opinião

Que perfil para o aluno do século XXI?

Para ultrapassar as metas estatísticas dos índices de escolarização da população jovem portuguesa, o governo anterior procurou mascarar as baixas taxas com um ensino profissionalizante de baixíssima qualidade, com o alargamento artificial da escolaridade obrigatória e com a criação de uma espécie de pós-secundário, que mais não é que um ensino médio de qualidade, no mínimo, duvidosa.

por Luís Lobo

Que perfil para o aluno do século XXI?


«Portugal é um dos sete países da União Europeia onde os trabalhadores ganham hoje menos do que há oito anos»
Jornal de Notícias
14 de Março de 2017
2 200 000 000
Dividendos na bolsa portuguesa sobem quase 20%, a remuneração aos accionistas sobe para um dos valores mais altos dos últimos anos. O bolo total dos dividendos será de quase 2.200 milhões de euros, mais 350 milhões que em 2016.

Imagem do Dia



Tempestade de Inverno no Leste dos EUA atinge grandes cidades. Nova Iorque, EUA, 13 de Março de 2017.

Tempestade de Inverno no Leste dos EUA atinge grandes cidades. Nova Iorque, EUA, 13 de Março de 2017. Créditos Drew Angerer / Getty Images



"grandes devedores"


terça-feira, março 14, 2017

SEARA NOVA

O carteiro trouxe-nos a Seara Nova. O nº 1737, de Outono/Inverno | 2016.
Uma revista com 96 anos! Uma instituição.

A capa faz-me lembrar uma novela de Michael Gold, editada há mais de 60 anos, e que muito me marcou. A reler, de vez em quando!


E, de


 aproveita-se uma lembrança que há muito quem queira esquecer...