segunda-feira, janeiro 16, 2006

O que mudou - III

Não foi só a roça Água Izé. Foram as roças.
E a mudança doi. Fundo.
Com o final do ciclo do cacau, toda a estrutura de exploração que tinha as roças como lugar e centro ruiu. Contemporaneamente com a assumpção da independência (política). E nada acontece por acaso...
As gentes continuam a viver por ali. Descendentes de escravos libertos e ex-contratados e filhos e netos de contratados.
Mas já não há cacau para colher. Não há que manter em forma os trabalhadores. Os hospitais são a ruina mais impressionante. Na roça Sundy, na ilha do Principe, o hospital tinha amplas salas e um gabinete de odontologia que - vê-se! - estava bem equipado.

4 comentários:

Anónimo disse...

Que pena!
Tantos anos passaram após a independência, tão pouco se fez!
É desolador, o registo fotográfico! Ossadas de um hospital!
O cacau, dizem que era dos melhores!
Escravos, contratados, agora abandonados!
Há povos que nasceram para sofrer!

Porém, as paisagens (por ti enviadas) são lindíssimas!

GR

Elvira disse...

Realmente, esta perda de património histórico e cultural é triste.

Unknown disse...

Gostava de escrever sobre o que sinto, mas ainda dói muito. Cresci alimentando a esperança de que os antigos movimentos de libertação transformassem, apesar de tantas condicionantes, a realidade de miséria que o colonialismo havia imposto aos respectivos povos.
Onde estão os que trairam os povos martirizados?
Imagino como deve ter sido bela a viagem do Sérgio e da Zé. Mas porque são gente com um coração do tamanho do Universo, sei que sofreram com o que viram.
Gostava que o Sérgio nos ajudasse a entender o que viu. Por que não realizar, na Som da Tinta, um debate sobre a viagem,- exposição de fotos incluída - que fosse ponto de partida para uma conversa séria sobre a realidade encontrada e as causas que a determinam?

Sérgio Ribeiro disse...

Ontem, com o João Carlos Silva, de algumas coisas se falou, algumas fotos se espreitaram. algumas questões se esboçaram.
Mas o que o Pedro Namora propõe é de outro folego.
Tenho material de sobra, em fotos e reflexões.
Aliás, arranquei, sinteticamente, num dos posts ao escrever sobre a pós-descolonização, e independência política, e o não pós-capitalismo e até a sua globalização.
Tanto para reflectir, e sofrer, e lutar. Viver, em suma. E com alegria.