quarta-feira, janeiro 11, 2006

O que não mudou - 2

A natureza!
Essa não muda, ou não mudou ainda, ou recupera das malfeitorias (ou benfeitorias) que lhe vão fazendo.
Já aqui deixei uma nota sobre a floresta. Esta será sobre o "casamento" da floresta com as praias e o mar. E reproduzo o aue me saiu, maravilhado, para o tal "diário" que me está a ajudar nesta tarefa:



"30.12.2005

As catedrais verdes

Dir-se-iam escondidas, recatadas, afeitas ao silêncio, ao recolhimento, à reflexão.
Ao longo do areal, sucedem-se as catedrais verdes, todas igualmente diferentes, ou todas diferentemente iguais.
Nelas se entra por portas dissimuladas na ramaria. E ficamos extasiados.
O silêncio é o do marulhar do mar a que demos costas e logo ali ficou e é o do levíssimo cantar de pássaros em corais polifónicos.
Pisamos o muito suave chão de areia, quente e fresco, e olhamos, maravilhados, o emaranhado das paredes que sobem de raízes abraçadas a rochas descarnadas e das abóbadas em copas, paredes e abóbadas que se adornam e abrem em vitrais por onde passam raios de sol.
Sobre o dourado que pisamos, tudo verde. Como se só verde houvesse, que o azul do céu pouco mais que espreita e nalgumas nem isso. Tudo verde de muitos verdes, de variadas combinações cromáticas.
Em silêncio, olhamo-nos e ouvimo-nos sem nada dizermos. Há comunhão entre os que desfrutam o espectáculo de ouro, verde, penumbra, sol.
Uma arquitectura imponente e leve, grandiosa e simples, repetindo-se em catedrais verdes sempre novas e únicas.
Crentes inventarão um arquitecto, dar-lhe-ão nome ou nomes, prestar-lhes-ão obediência e culto.
Eu, que crente não sou, quase me comovo e agradeço estar vivo e aqui e de aqui fazer parte, animal e natureza que sou. "

(na foto - que mal ilustra o que são as "catedrais verdes" - vale a pena observar as pernas que, no canto inferior esquerdo ajudam a avaliar a dimensão desta vegetação que se estende pelo areal até ao mar que nela entra pelas marés cheias)

4 comentários:

Anónimo disse...

As catedrais verdes de S. Tomé parecem magníficas, mais não posso dizer porque ainda não as vi com estes olhos que são meus. O que eu já vi e voltei a ver (ler) uma dúzia de vezes foi este seu texto Sérgio. Que delícia!

Anónimo disse...

Um museu vivo da Natureza. Que ninguém se lembre de plantar árvores de cimento, ou rasgar, mutilar, pedaços vivos para mais tarde a “civilização” deixar passar as suas viaturas! Como fazem na Amazónia!

Estar numa Europa tão conturbada, viver num Portugal tão desordenado. Trabalha-se, luta-se numa correria, sem chegar onde se queria. Às vezes dá vontade de esmorecer!
Aí tudo é diferente!
Sentir o verde, ouvir o murmurar do mar, ver os pássaros multicores a voar, estarem envolvidos com a Natureza ainda em estado puro, é um tónico, para mais um ano que se perspectiva duro!

Bonito diário.
A tua escrita é cativante!

Elvira disse...

Obrigada por partilhares tudo isto connosco, caro Sérgio.

Anónimo disse...

Lindo! Lindo! Lindo! E eu que tanto "medo" tenho, dos mosquitos de S. Tomé, estou quase a ficar com vontade de ir lá espraiar olhos, ouvidos e pele...