domingo, abril 09, 2006

"Ao menos essa tem cavalos. O que sempre anima."

A GR, num dos seus amigos comentários ao post em que a 1lustração era esta prova de censura, perguntava qual o conteúdo da notícia.
Tenho todo o gosto em lhe responder. Aqui. Em público. Embora lhe vá mandar uma fotocópia...
Trata-se de uma crónica-comentário à televisão, uma secção diária do Diário de Lisboa, de 17.04.1971. Chamava-se "canal da crítica" e o seu autor era o querido e saudoso amigo Mário Castrim, que aí deixou algumas das nossas melhores páginas de jornalismo e de "bem escrever em português".
Nesta, começava por "Ainda cheguei a ter esperanças. Pensei vir a ser, ao menos uma vez, bafejado pela sorte, como se costuma dizer. Recordam-se, logo no início do «Cimarron», a série mais chata e mais comprida da Televisão americana e de uma das suas sucursais , a Televisão portuguesa (...)" e a última frase ("e uma das suas sucursais, a Televisão portuguesa") foi cortada pelo lápis azul da censura.
Mais adiante, escrevera Mário Castrim: "Deixem-me saborear aquela fita sobre os diabéticos, tão optimista, tão insulínica, comentada sonolentamente, e tenham esperança que o mal é até à morte, mas não é de morte: podem fazer vida normal e tudo. Até podem praticar desporto caro, 80 mil diabéticos existentes em Portugal, se tiverem onde, evidentemente, se não tiverem, arranjem, está bem?" mas também a última frase ("se tiverem onde, evidentemente, se não tiverem, arranjem, está bem?") foi cortada pelos coroneis dos Serviços de Censura.
A crónica terminava assim: "«Cimarron» , é isso. Tudo se remediou. Tinha de ser. Coboiada? Ao menos essa com cavalos. Sempre dão outra graça."

1 comentário:

Anónimo disse...

Sérgio,
Agradeço a tua simpatia.
É importante reflectir nestes documentos, um testemunho de como se escrevia, não se podendo ler! O risco azul da censura, não perdoava.
Como recordo Mário Castrim!
Diariamente no Diário de Lisboa, era lida a sua Crónica.
Como fazem falta, homens assim!

GR