EUREKA!
Um, dois. Um, dois, três. Um, dois. Um, dois, três…
Passos curtos. Lentos.
Assim escorriam dias. Iguais a riscos de unha em paredes de cela.
Um, dois. Um, dois, três…
Um metro e dez por um metro e setenta.
Os “curros” do Aljube!
Escuridão.
Pó, palha.
Asma.
Um, dois, três. Um, dois…
Horas somando dias numa rotina de enlouquecer.
Preparatória de outras torturas.
De repente… descobri a diagonal!
Um, dois, três… e agora?
Um, dois
OU
um, dois, três, quatro… e por aí fora.
Sempre com escolhas, variando.
Assim enchi de alegria e (quase) liberdade algumas horas de cativeiro.
O PIDE BARATA
Palha, pó, penumbra, calor. Claustrofobia.
A asma!
Aflito, gritei. Exigi médico.
“Pare c’a berraria… médico?... talvez amanhã… é dia do doutor Barata…”
Uma noite de expectativa e algumas esperanças.
Sem dormir. Mais uma…
Ar profissional, bata branca, o Barata ouviu-me enquanto preenchia uma ficha.
Tomou um ar paternalista, displicente:
“Pois… fortíssimo ataque de asma. As celas não ajudam. E é irreversível!… Você tem de colaborar com a polícia para sair daqui depressa… Tome isto a ver se dorme.”
Durante o interrogatório, na tortura do sono!, repetiu a receita e, com mais ênfase…, o "conselho".
O pide Barata!
1 comentário:
Um episódio terrivelmente claustrofóbico, irrespirável, excessivamente penoso para mim! Que vergonhosamente tenho claustrofobia. Por momentos (vários) fechei o livro!
Senti uma culpa egoísta! Pelo facto de estar a ler e sentir-me incomodada!
Eu que li numa sala limpa, com as janelas abertas, numa sala de paredes brancas!
Como te sentirias(m) naquela horrível prisão, suja, pequena, tortuosamente claustrofóbica? Sem razão para estares preso! Tão jovem! Para além de tudo isto, as torturas, humilhações. A diária crueldade!Como o pide "dr.barata".
Vocês foram/são uns heróis!
Vocês são os verdadeiros heróis da Liberdade!
Falas sem ressentimentos, vingança, ou ódio!
A tua arma é a memória! Para que não volte acontecer!
O meu incondicional respeito por ti (por todos vós) !
GR
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