quinta-feira, abril 13, 2006

Histórias em 100 palavras e 1lustração - 15

DEZEMBRO 1961

O encontro fora marcado para as 20 horas de 19.
Numa travessa à rua dos Lusíadas estacionei, após volta aos quarteirões que me preocupara. Esperei, ansioso. Nada!
Usei “hora de recurso”. Nada!
Fiquei preocupadíssimo.
Que teria acontecido?
“(…)Tendo passado pela rua dos Lusíadas cerca das 20 horas, e tendo-se apercebido da presença dos referidos agentes, começou a correr pela mesma artéria(…)foi o José António Dias Coelho agarrado pelo agente Manuel Lavado. Entretanto, chegou junto dele o réu que desferiu dois tiros de pistola(…)”.
(da sentença do tribunal, 1976)

Assim assassinaram Dias Coelho que eu esperava alguns metros acima.


Última gravura de José Dias Coelho, de Novembro de 1961, para o Avante!, representando o operário Cândido Martins assassinado na frente de uma manifestação em Almada contra a burla eleitoral, e para que escreveu a legenda “De todas as sementes deitadas à terra é o sangue derramado pelos mártires que faz nascer as mais copiosas searas”.

8 comentários:

Anónimo disse...

Contaste-me pessoalmente este trágico e desumano assassinato.
Contaste-me com entusiasmo. Mas os teus olhos espelhavam ansiedade, revolta e muita mágoa!
Talvez por uma questão de minutos e alguns metros, não foram dois assassinatos!
Talvez!

GR

Anónimo disse...

"Teu sangue, pintor,
reclama outra morte igual
Só olho por olho e
dente por dente"

Evocação de Zeca Afonso do assassínio pela PIDE do Jósé Dias Coelho, na cantiga "A Morte Saiu à Rua"

GR

zemanel disse...

Para mim, que nos anos 90 subi a Rua dos Lusíadas muitas vezes a pé, o local do assassinato sempre me "fascinou" (estranha palavra....) Ler esta história e saber que quem esperava o "pintor" era um homem que ainda hoje tem tanto futuro para nos dar constituiu uma surpresa. Não resisti e fiz paste - copy desta história para o CANHOTICES.(www.canhotices.blogspot.com)
Com um abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, zémanel!
Sobretudo... pelo futuro a que não quero faltar!
A 19 de Dezembro de 1961 tinha 25 anos, ia fazer 26 daí a dois dias...

Sérgio Ribeiro disse...

O GR, conheces o livrinho com o recurso da sentença do Supremo Tribunal Militar de 1976?
Não se tratou de "olho por olho, dente por dente". Tratou-se de chegar ao cúmulo do culpado parecer ter sido o Dias Coelho por ter fugido aos pides e quando o agarraram, e seguro estava... deram-lhe dois tiros. Em 1976!
Há indignações que não têm medida, mesmo para quem, como eu, não defende o "olho por olho, dente por dente"... mas que se faça justiça... ainda que burguesa!
Um grande abraço!

Anónimo disse...

Hoje de manhã, ofereceram-me o livro “Zeca Sempre” .
Chegando “A Morte saiu à Rua” que é dedicado ao “pintor”.!

Teu sangue, pintor,
reclama outra morte igual
Só olho por olho e
dente por dente vale.

Só ………
…… vale!

Esta letra, foi feita em 1972. Zeca Afonso quer demonstrar a sua revolta perante tal acto monstruoso! Reforçando as palavras, para o poema! “Só…vale” retira-lhe a força do “castigo”, é assim que interpreto (!).
Ninguém quer, ninguém pode fazer justiça “… dente por dente”, deixava de ser justiça, para ser vingança! Vingança nos anos 70, havia quem a fizesse!

És escritor, és também vítima deste assassinato, és o Sérgio! Não vou criticar “esta” letra, de um facto desumano e horrendo. Infelizmente, tocou-te muito de perto.
Terei mais cuidado nas minhas leituras!Agradeço teres-me corrigido!
Retiro o verso, pedindo-te humildemente desculpa.

Um forte abraço,

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Ó GR, querida camarada!
De modo algum tive a intenção de corrigir. Nem ao Zeca, nem a ti que o citaste, embora não subscreva, e contrarie (o que não é o mesmo que corrigir) reclamações de "outra morte igual".
Apenas continuei a tua reflexão, procurando acrescentar "qualquer coisita".
Sobretudo marcado pela recente releitura daquele livrinho sobre a vergonhosa sentença de 1976!
E muito obrigado pela tua constante, estimulante, amiga presença.

Sérgio Ribeiro disse...

Ó GR, querida camarada!
De modo algum tive a intenção de corrigir. Nem ao Zeca, nem a ti que o citaste, embora não subscreva, e contrarie (o que não é o mesmo que corrigir) reclamações de "outra morte igual".
Apenas continuei a tua reflexão, procurando acrescentar "qualquer coisita".
Sobretudo marcado pela recente releitura daquele livrinho sobre a vergonhosa sentença de 1976!
E muito obrigado pela tua constante, estimulante, amiga presença.