4. - O princípio e os seus usos
ou
A falta de rigor no (ab)uso da aparência do rigor
O princípio do rigor
Ser rigoroso é uma preocupação que se associa ao respeito pelos outros. Esse respeito apenas existe se, na política – entendida no sentido restrito, isto é, como actividade específica – como em qualquer outra actividade – no ensino, por exemplo –, houver o cuidado de se ser rigoroso no que se transmite aos outros.
É um princípio.
O que se transmite aos outros
Se aquilo que se transmite aos outros é escolhido com a finalidade de os influenciar para que se atinjam certos objectivos, e se alcançar esses objectivos prevalece sobre o rigor da informação transmitida, o princípio é secundarizado, ou até ignorado.
No entanto, a aparência de rigor, ou depois o apregoar de rigor sem que ele exista como prioridade ou preocupação, podem – e muitas vezes estão a – servir como instrumentalização para os objectivos que se pretendem alcançar, de ajuda à sua consecução.
Assim se engana, ou se pratica a demagogia mistificadora, através dessa aparência ou desse apregoar de rigor … sem se olhar ao rigor anunciado ou abusivamente insinuado.
O rigor dos números aparentemente exactos
Sendo os números, a matemática, a estatística, uma representação da realidade, e o resultado de uma abstracção que vai acompanhando o processo histórico, são muitas vezes utilizados – os números, a matemática, a estatística – como uma prova de excelência e rigor para convencer incautos da justeza dos objectivos.
O “número certo”, levado até às unidades, ou até aos centésimos de unidade e de percentagem, conforme os casos, tornou-se uma ilustração da tal aparência de rigor instrumentalizada.
Dizer que a população de um País é de 10.927.823 habitantes (ou será de residentes?), ou que o desemprego é de 7,2% da população activa, ou que o PIB por cabeça crescerá 1,6% no ano corrente, ou que o défice orçamental será de 6,83% do PIB, só pode ter a finalidade de impressionar… pelo aparente rigor. Que é só aparência e sempre falso!
A falsidade do que é “certo” …
Só uma casualidade poderá levar a que o número de habitantes (ou residentes?) seja exactamente aquele que se anuncia até à unidade. A população será de cerca de 11 milhões porque não pode haver a pretensão do recenseamento ser rigoroso, e justifica-se a indicação do “número certo” com a reserva de que ele apenas poderia estar certo num momento. Como o relógio que apenas quando parado se tem a certeza de que está rigorosamente certo… duas vezes por dia.
Ser de 7,2% da população activa exige uma definição e uma quantificação do que é “população activa”, o que é muito controverso, e uma definição e quantificação do que é desempregado, o que muito controverso é, pelo que o rigor exige, para que rigorosa se seja, que se diga que o desemprego (os centenas de milhar de desempregados registados ou estimados) será superior a 7% da população activa, segundo um conceito (estatístico) desta.
Afirmar-se, sapientemente, que o PIB por cabeça crescerá 1,6% é uma demonstração de falta de rigor por excesso do dito. O Produto Interno Bruto é outro conceito que tem de ser muito bem explicadinho, querendo traduzir o valor acrescentado num ano (se for o PIB de um ano que se confronta com o de outros anos), e se se diz que é por cabeça esse valor deve ser dividido pelas cabeças que formam a população a que se refere. Mas ainda há muitas coisas a saber, além dessas, do que entra ou não entra para o cálculo da “riqueza” produzida”, de qual a população que serve de denominador, como se é a preços fixos ou correntes, ou em “paridades de poder de compra”. Isto para dizer que afirmar que cresceu 1,6% é…pouco rigoroso apesar do manto diáfano das décimos (às vezes centésimos) de percentagem.
Por último, de cátedra, peremptório, vir afirmar-se que o défice do orçamento do Estado será de 6,83% do PIB (não acima de 6,5%, não de perto de quase 7% que são números mais... “redondos”, menos centesimais) ilustra o uso do “número certo”, mostrando um rigor que é falso por não poder ser rigoroso. Mas impressiona o estimado ouvinte!
ou
A falta de rigor no (ab)uso da aparência do rigor
O princípio do rigor
Ser rigoroso é uma preocupação que se associa ao respeito pelos outros. Esse respeito apenas existe se, na política – entendida no sentido restrito, isto é, como actividade específica – como em qualquer outra actividade – no ensino, por exemplo –, houver o cuidado de se ser rigoroso no que se transmite aos outros.
É um princípio.
O que se transmite aos outros
Se aquilo que se transmite aos outros é escolhido com a finalidade de os influenciar para que se atinjam certos objectivos, e se alcançar esses objectivos prevalece sobre o rigor da informação transmitida, o princípio é secundarizado, ou até ignorado.
No entanto, a aparência de rigor, ou depois o apregoar de rigor sem que ele exista como prioridade ou preocupação, podem – e muitas vezes estão a – servir como instrumentalização para os objectivos que se pretendem alcançar, de ajuda à sua consecução.
Assim se engana, ou se pratica a demagogia mistificadora, através dessa aparência ou desse apregoar de rigor … sem se olhar ao rigor anunciado ou abusivamente insinuado.
O rigor dos números aparentemente exactos
Sendo os números, a matemática, a estatística, uma representação da realidade, e o resultado de uma abstracção que vai acompanhando o processo histórico, são muitas vezes utilizados – os números, a matemática, a estatística – como uma prova de excelência e rigor para convencer incautos da justeza dos objectivos.
O “número certo”, levado até às unidades, ou até aos centésimos de unidade e de percentagem, conforme os casos, tornou-se uma ilustração da tal aparência de rigor instrumentalizada.
Dizer que a população de um País é de 10.927.823 habitantes (ou será de residentes?), ou que o desemprego é de 7,2% da população activa, ou que o PIB por cabeça crescerá 1,6% no ano corrente, ou que o défice orçamental será de 6,83% do PIB, só pode ter a finalidade de impressionar… pelo aparente rigor. Que é só aparência e sempre falso!
A falsidade do que é “certo” …
Só uma casualidade poderá levar a que o número de habitantes (ou residentes?) seja exactamente aquele que se anuncia até à unidade. A população será de cerca de 11 milhões porque não pode haver a pretensão do recenseamento ser rigoroso, e justifica-se a indicação do “número certo” com a reserva de que ele apenas poderia estar certo num momento. Como o relógio que apenas quando parado se tem a certeza de que está rigorosamente certo… duas vezes por dia.
Ser de 7,2% da população activa exige uma definição e uma quantificação do que é “população activa”, o que é muito controverso, e uma definição e quantificação do que é desempregado, o que muito controverso é, pelo que o rigor exige, para que rigorosa se seja, que se diga que o desemprego (os centenas de milhar de desempregados registados ou estimados) será superior a 7% da população activa, segundo um conceito (estatístico) desta.
Afirmar-se, sapientemente, que o PIB por cabeça crescerá 1,6% é uma demonstração de falta de rigor por excesso do dito. O Produto Interno Bruto é outro conceito que tem de ser muito bem explicadinho, querendo traduzir o valor acrescentado num ano (se for o PIB de um ano que se confronta com o de outros anos), e se se diz que é por cabeça esse valor deve ser dividido pelas cabeças que formam a população a que se refere. Mas ainda há muitas coisas a saber, além dessas, do que entra ou não entra para o cálculo da “riqueza” produzida”, de qual a população que serve de denominador, como se é a preços fixos ou correntes, ou em “paridades de poder de compra”. Isto para dizer que afirmar que cresceu 1,6% é…pouco rigoroso apesar do manto diáfano das décimos (às vezes centésimos) de percentagem.
Por último, de cátedra, peremptório, vir afirmar-se que o défice do orçamento do Estado será de 6,83% do PIB (não acima de 6,5%, não de perto de quase 7% que são números mais... “redondos”, menos centesimais) ilustra o uso do “número certo”, mostrando um rigor que é falso por não poder ser rigoroso. Mas impressiona o estimado ouvinte!
5 comentários:
Sérgio, este teu teu post não vai ficar só por aqui, pois não? Vai ser publicado, concerteza. Deve ser publicado. É que é tão claro, explica tão bem questões essenciais que até eu percebi logo à primeira leitura, sem espremer muito as meninges. Já agora, se a este acrescentares outros não era nada mau, ou por outra, era muito bom. Penso eu de que...
Bravo!
Estou de acordo com o campaniça.
O Avante deveria publicar estas tuas notas.
Neste momento em que me encontro cercado pelo rigor do rigoroso orçamento de estado estas tuas palavras concretizam o que há três anos sinto com a chegada do Outouno.
Ricardo
Meus Caros,
fiquei muito satisfeito com o que me dizem sobre este post.
No entanto, o melhor (acho eu, que sou modesto...) está para vir.
Mas hoje tive de vir a Lisboa para trabalhos de conferência e estou sem computador, isto é, sem o meu computador onde está a continuidade do... princípio
Fica para amanhã.
Passei só para dar um bj.
Amanhã terei todo o tempo para comentar.
GR
Obrigado a todoas.
Cá te espero, cá te espero, GR.
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