- Ângelo Alves
A história do cancelamento do Lisboa/Dakar poderá nunca vir a ser conhecida na sua totalidade e o cancelamento da prova não constitui nenhuma catástrofe para a humanidade e muito menos para as multinacionais envolvidas na prova. Quem mais perde é de facto o turismo da Mauritânia e o senegalês, coincidência ou não, o país que bateu o pé aos acordos de parceria económica que a União Europeia tentou impor na Cimeira UE/África. Mas sobre este episódio importa registar alguns factos. O primeiro é que, por mais que o negue, a decisão do cancelamento do Rali foi exclusivamente do governo francês. Decisão coordenada com a multinacional petrolífera Total, um dos principais patrocinadores que imediatamente se retirou da prova. Total, uma das petrolíferas envolvidas nos processos imperialistas franceses relativamente ao Magreb e à bacia do Mediterrâneo e que, conjuntamente com as multinacionais norte-americanas, estão na origem de processos de desestabilização no continente africano, de medidas como o estabelecimento do AFRICOM, o comando militar norte-americano para África, ou das missões militares europeias no continente. O segundo é que é por demais evidente que a dita ameaça terrorista foi um pretexto para o cancelamento da prova. Facto bem evidente se tivermos em conta a história do próprio Rali (já noutras edições o mesmo aconteceu e o resultado foram alterações de traçado) e sobretudo as declarações do ministro do Turismo Senegalês que tentava, em Lisboa e sem sucesso, fazer ouvir as opiniões do seu governo de que as condições mínimas de segurança estavam garantidas. O terceiro facto, porventura o mais importante, é o caldo de histeria secundária que este episódio evidencia e que permite que um simples telefonema, cuja origem poderemos nunca vir a conhecer, sirva para cancelar um evento da dimensão do Rali Lisboa-Dakar. Pode ser que o ano que agora se inicia nos elucide mais sobre as reais razões deste episódio mas é caso para dizer: as multinacionais suportam o Rali e o governo de Sarkozy estão "muito aborrecidas" por não poderem passar os seus TT's por África por causa da desestabilização e insegurança que eles próprios criam no continente...
4 comentários:
Sérgio,
De facto só os ingénuos é que poderão não acreditar que isto anda tudo ligado. Voltando ao texto publicado imperiobarbaro.blogspot.com, pedras contra canhões, onde se refere: "In absentia, os Governos lançam a passadeira para um estado policial que se vai desenhando como a raiz do fascismo." Chamo também a atenção para este artigo do Avante desta semana, que transcrevo a seguir.
" - O Escândalo de Rostock -
Em Junho de 2007, 80 000 pessoas manifestaram-se em Rostock, no Norte da Alemanha, contra a cimeira do G8. Nas semanas que precederam as acções de protesto, o Procurador-Geral do Ministério Público Federal, Monika Harms, ordenou uma séria de medidas ilegais e de carácter repressivo com o pretexto de se estar em presença de uma «organização terrorista». Com o intuito de intimidar os manifestantes foram executadas buscas policiais, instalados aparelhos de espionagem em casas e veículos privados, confiscados computadores e objectos pessoais e violada a correspondência de organizações e activistas de esquerda.
Tudo aquilo que uma ditadura fascista costuma praticar para abafar a expressão do descontentamento popular. Durante as acções de protestos foram erguidos quilómetros de arame farpado e muros de ferro com vários metros de altura para manter os manifestantes afastados do local da cimeira. O Ministério da Defesa infringiu a legalidade constitucional ao colocar comandos militares em estado de alerta com tanques e barcos de intervenção rápida e ao sobrevoar as manifestações com aviões de guerra «tornado». Um verdadeiro ensaio geral para uma guerra contra o povo, desta vez não no Afeganistão mas na própria Alemanha.
Mas na semana passada, e apesar de um atraso de 7 meses, o Supremo Tribunal de Justiça Federal considerou ilegais as medidas repressivas tomadas pelo governo de Merkel contra os participantes e organizadores dos protestos. Segundo o Tribunal que está longe de ser constituído por juízes de esquerda, as 12 razões invocadas pelo Estado alemão para classificar de «terrorista» a organização das acções não tinham qualquer fundamento jurídico nem colocavam em perigo o Estado e a segurança da população alemã.
O escândalo de Rostock é um exemplo paradigmático de como a Alemanha e a União Europeia utilizam a psicose da chamada «guerra contra o terrorismo» para reprimir a oposição de esquerda e aqueles que condenam a avidez das oligarquias exploradoras.
Também o vice-presidente do Tribunal Constitucional de Karlsruhe, o juiz Winfried Hassemer, numa recente entrevista ao semanário Focus (52/2007), aconselha os cidadãos a «não deixarem vestígios da sua actividade, pois hoje, mesmo que não se entre em conflito com a lei, já ninguém pode libertar-se da observação estatal. Já ninguém sabe em que ficheiros está registado. Os cidadãos são demasiados vigiados sem motivo». O Juiz considera este comportamento por parte de um Estado diante do qual Sócrates e outros servidores dos interesses das potências estrangeiras em Portugal se prostram em adoração, incompatível com a «dignidade humana».
A falta de pudor com que se avança com medidas securitárias e leis antidemocráticas contra os partidos políticos demonstra a existência de uma concepção de Estado reaccionária que faz de cada cidadão politicamente esclarecido um suspeito, um potencial criminoso. Por isso, os alertas do PCP para a crescente degradação da democracia política dirigem-se não só aos comunistas mas a todos os democratas. "
Anda tudo ligado e de que maneira e que maneira! LIVRA!
Um abraço.
J. Filipe
Meu amigo "anónimo" J. Filipe,
pois é!
Também li o artigo do Rui Paz e só não o reproduzi, como outros, porque não quero "carregar" demais este blog.
Como diria o outro "a coisa está preta". E cada vez é mais necessário, indispensável continuar a luta.
Um abraço amigo
Para quem tinha dúvidas......
É por estas (e outras) que a Luta vai continuar....
Um abraço
Polícias treinados pelos americanos. Não nos falta!
Acreditem, não é só para proibir o uso das colheres de pau e do fumo!
Com calma "eles" vão-se introduzindo, quando o povinho der conta...é muito tarde!
GR
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