Uma senhora ucraniana vem, duas manhãs por semana, aqui ajudar-nos a manter a casa habitável. É jovem, veio há anos de lá longe, com o marido, deixando uma filha de 12/13 anos com os avós.
O seu “português”, apesar dos anos por cá, é… macarrónico.
O nosso relacionamento é simpático, quase afectuoso. Por causa de alguns problemas que tiveram com o carro, abalroado e destruído estando estacionado, tivemos a oportunidade de confrontar o modo desumano, inqualificável, como as companhias de seguros se quiseram aproveitar de serem imigrantes e da dificuldade em dominarem a língua portuguesa, e só a nossa intervenção conseguiu atenuar o roubo que lhes preparavam.
Julgo que a “Lécia” gosta de trabalhar aqui em casa, e tem uma simpatia muito especial pelo Mounti. Com uma preparação escolar e profissional que a habilitaria para outras tarefas que não aquelas que faz (mal), por aqui vai amealhando o que pode para um futuro que nem ela sabe bem qual será.
Revela conhecimentos que me surpreendem, como a propósito de 8 de Março e de 1 de Maio, tem um fundo cultural que se vislumbra em alguns pormenores. E não falta a uma missa, e é fiel devota da Senhora de Fátima, a quem deve “meter cunhas” para que esse futuro seja na Ucrânia e com a filha.
Alguns sinais espalhados cá por casa denunciam quem nós somos e como pensamos. O que, evidentemente, a perturbou. E gosta de discutir (isto é uma maneira de dizer…) política comigo. Comenta casos, põe-me questões. Às vezes nos momentos mais inoportunos. Lá vou procurando estar à altura…
Hoje, veio-me perguntar se ouvira noticiários (sinhor!... debe óvir notícias…) com a visita do Bush à terra dela. Disse-lhe que não, e perguntei-lhe pelas manifestações de que ouvira falar. “Sinhor, isso são coisas dos russos…”. Sabendo o que ela pensa dos… russos, nem me atrevi a argumentar porque tinha um escrito a meio: 1 a 0 para a Ucrânia. A tentar o empate em jogada de surpresa ainda resmunguei qualquer coisa sobre o Iraque, mas ela, a festejar o golo, nem ouviu. Acontece...
Acabado o escrito, fui, atrasado e a correr, tomar o pequeno-almoço. Cruzei-me com a “Lécia”. Aproveitou a vantagem que trazia do intervalo e resolveu tentar a goleada “Sinhor… e o Tibet?, e a China?... órribel…!... num acha?”. Resolvi “num” achar nada!
Para esta manhã, a perder já por 2 a 0 a poucos minutos do início do jogo, chega! Preferi a falta de comparência.
O seu “português”, apesar dos anos por cá, é… macarrónico.
O nosso relacionamento é simpático, quase afectuoso. Por causa de alguns problemas que tiveram com o carro, abalroado e destruído estando estacionado, tivemos a oportunidade de confrontar o modo desumano, inqualificável, como as companhias de seguros se quiseram aproveitar de serem imigrantes e da dificuldade em dominarem a língua portuguesa, e só a nossa intervenção conseguiu atenuar o roubo que lhes preparavam.
Julgo que a “Lécia” gosta de trabalhar aqui em casa, e tem uma simpatia muito especial pelo Mounti. Com uma preparação escolar e profissional que a habilitaria para outras tarefas que não aquelas que faz (mal), por aqui vai amealhando o que pode para um futuro que nem ela sabe bem qual será.
Revela conhecimentos que me surpreendem, como a propósito de 8 de Março e de 1 de Maio, tem um fundo cultural que se vislumbra em alguns pormenores. E não falta a uma missa, e é fiel devota da Senhora de Fátima, a quem deve “meter cunhas” para que esse futuro seja na Ucrânia e com a filha.
Alguns sinais espalhados cá por casa denunciam quem nós somos e como pensamos. O que, evidentemente, a perturbou. E gosta de discutir (isto é uma maneira de dizer…) política comigo. Comenta casos, põe-me questões. Às vezes nos momentos mais inoportunos. Lá vou procurando estar à altura…
Hoje, veio-me perguntar se ouvira noticiários (sinhor!... debe óvir notícias…) com a visita do Bush à terra dela. Disse-lhe que não, e perguntei-lhe pelas manifestações de que ouvira falar. “Sinhor, isso são coisas dos russos…”. Sabendo o que ela pensa dos… russos, nem me atrevi a argumentar porque tinha um escrito a meio: 1 a 0 para a Ucrânia. A tentar o empate em jogada de surpresa ainda resmunguei qualquer coisa sobre o Iraque, mas ela, a festejar o golo, nem ouviu. Acontece...
Acabado o escrito, fui, atrasado e a correr, tomar o pequeno-almoço. Cruzei-me com a “Lécia”. Aproveitou a vantagem que trazia do intervalo e resolveu tentar a goleada “Sinhor… e o Tibet?, e a China?... órribel…!... num acha?”. Resolvi “num” achar nada!
Para esta manhã, a perder já por 2 a 0 a poucos minutos do início do jogo, chega! Preferi a falta de comparência.
25 comentários:
2 a 0 para a ignorância e ingenuidade. mas a verdade virá sempre ao de cima... nem que seja na segunda parte do jogo, ou mesmo no prolongamento.
Pedras contra canhões é uma boa forma de caracterizar a atitude da China no Tibete ou na Birmânia, da Rússia na Tchechenia e afins. A separação entre Credo e Estado deve acontecer em todo o lado? Qual é a diferença entre um Estado teocrático ou um Estado de partido único? Sérgio.. permita-me que concorde que de facto saiu derrotado desse confronto, e que melhores dias poderão vir.. mas essa derrota ficará para sempre! Sem que isso seja um problema em si mesmo!
Por que é que V., v.v., é assim tão ingénuo (?) que engole tudo quanto o aparelho ideológico do capitalismo lhe faz entrar na cabecinha, pelos ouvidos, pelos olhos, e sei lá mais por onde?
Se estava na disposição de conversar consigo sobre economia, numa base da boa fé, estas suas "opiniões" sobre política internacional são verdadeiramente intratáveis, por desejavelmente primárias... Ao menos, mas ao menosismo, procure outra informação, não seja tão mata-borrão. O que é V. sabe da atitude da China no Tibete que não seja aquilo que querem que V. saiba, HOJE, este ano de 2008?
Quanto a derrotas e vitórias, não pense que me senti derrotado. Tive foi mais que fazer, naquela altura. Não estava com disponibilidade para continuar "aquele" jogo e brinquei com a estória... mas consigo "não brinco"! Decidi, naquelas circunstâncias, pela falta de comparência porque o adversário me merecia um respeito que V, desculpe lá, me merece pela sua só aparente ingenuidade. Vá lá, informe-se... e tenha dúvidas!
Meu caro "pedras contra canhões", obrigado pelo teu comentário. Claro que haverá segunda parte, ou outro jogo, que aquilo da falta de comparência foi figura de retórica.
E, como diz esse intrometido que me entrou em casa, "pedras contra canhões" é bem uma forma de caracterizar a atitude dos chineses que nasceram e vivem no Tibete, e por isso são tibetianos, contra quem está a utilizar canhões para deles se servirem com objectivos conhecidos e estratégias mais que experimentadas na História. Sim, porque os tibetianos são chineses desde o séc. XIII, entre eles uns "guias espirituais" apoiantes de tudo o que seja imperialismo (como a invasão do Iraque!) e seus servidores.
Mas há, evidentemente, quem não queira ver, ou só veja o que lhe mostram. E que, da história - que é a luta de classes - nada saiba ou queira saber. É deles o reino dos céus.
A ignorância é uma das mais poderosas armas de que dispõem os donos do mundo actual. Quer na Ucrânia quer em Portugal, como se lê...
A mesma resposta de sempre.. os donos que se apoderaram da verdade que é a deles e que não a discutem! Bem.. podemos sempre conversar sobre indonésios que nasceram e viveram em Timor ou albaneses que nasceram e viveram no Kosovo ou na Servia! Mas bem.. a minha intenção era apenas ter oportunidade de bater umas bolas, porque pertenço à geração que discute tudo e mais alguma coisa de forma aberta e despretensiosa! Sem dogmas! Bati na porta errada e respeito isso.. boa sorte a todos aqueles que se destacam pela retórica e que à 1ª contrariedade ganham a razão com o argumento de que o outro é ignorante! Continuai a vossa luta, pois ando a gostar bastante do caminho que ela tem percorrido, “não é por muito se madrugar que o sol nascerá mais cedo!”.
Enfim...
A cada um a sua verdade! V.V. sabe do Tibete o que convém que seja sabido e está satisfeito. Sabe do comunisnmo, e dos seus caminhos, o que lhe foi dito por anti-comunistas e está satisfeito.
E acha que nós, que não nos contentamos com o que ele sabe disso, e do resto, somos os que nos julgamos detentores da verdade...
Mas quantas vezes já ouvimos isto quando estamos a pôr dúvidas à verdade de que outros se apossaram?
Quantas vezes temos de ver a caricatura que de nós fazem à sua imagem, como se essa caricatura fosse o nosso retrato e não o deles?
De qualquer modo, não foi mau que tivesse passado por aqui. Disse o que tinha a dizer, correctamente, sem ofender ninguém, limpou os pés à entrada... Pode voltar se lhe apetecer. Mas é bem verdade que os nossos caminhos são outros.
No entanto, ainda lhe recomendava umas leiturazitas, ou será que isto é prova de não que não quero ou que não sei discutir? V. tem a informação a que nós também temos acesso, e nos é imposta, a V. e a nós, e parece não aceitar que nós lhe digamos que há outra. Veja lá quem é que é fechado, quem é que não quer discutir!!!
Boa! Espero, desejo, quase suplico que v.v. não deixe de voltar e de continuar a discutir, Dessa forma acreditarei que pertence de facto à geração que gosta de saber e de interpretar o mundo. O convívio e a discussão com o professor que nos dá tanto do que aprendeu e viveu, não apenas através de fontes secundárias de informação, mas de muito experimentado, vivido e reflectido só pode aumentar-lhe os dados necessários à tal interpretação e as hipóteses de estar mais certo.
Ora aí está completamente justificado o salário que pagamos à Lesya, mesmo sem ela fazer o trabalho bem feito: dar origem, através de um texto bem escrito e mansamente irónico do SR, a uma discussão que, assim o espero, abra ovos horizontes a quem deles precisa.
Estou a gostar...
Não comento os golos...
Só te digo que tens uma AAD (leia-se auxiliar de acção doméstica) bem à altura - fala, argumenta, contra argumenta.
Eu tenho uma portuguesa aí da tua freguesia que nem vota e desconfio que só ouve música!
Abraço
Desde que ninguém tente fazer-me gostar do "santarrão" hipócrita do Dalai Lama e dos frades, perdão, monges fanáticos... seja bem-vinda a troca de ideias!
Esse resultado para sábado dava um jeitão.
Ze Manuel
Acabei de soltar duas boas gargalhadas com o comentário do Zé Manel :)))Sentido de oportunidade, mas também sintoma de que "não pensas noutra coisa"...
Ó Samuel, é isso mesmo.
Dois pressupostos: 1º (isto é uma suposição...) o Dai lá da Lama é um santo homem, perdão, é um homem que é santo, perdão, não é homem porque é santo... pois se até é visita da minha vizinha, da Senhora de Fátima; 2º (isto é outra suposição...) o comunismo morreu!, até já lhe foram passadas sucessivas certidões de óbito, mas há uns anacrónicos que andam por'i a mostrar que ele está vivo, logo não podem ter razão, qualquer que seja o caso.
A partir daqui... vamos debater tudo, discutir tudo, tudo efe erre á. Numa boa!
Ora, se me permitem as excelências, eu começaria por discutir os pressupostos. Mas haverá quem queira discutir o que tomou por pressupostos?
Isto é pior que a circulatura da quadrícula...
Quanto ao sr. Zé Manel e à Dona Justine, devo dizer que há piadas de muito mau gosto. Até porque os vossos comentários só provam o contrário. Se eu estivesse a pensar no que (dizem...) estou sempre a pensar teria escrito 0-2 e não 2-0... pois eu joguei em casa e fui eu que levei com a "derrota". Como vai acontecer com os de lá cima, de Espinho. Mas estamos a falar de quê?
Olá rosa dos ventos... há que meses não nos encontramos, a não ser em blogs de outros! Tudo bem?
A gente AAD (há-de) se ver um dias destes - não conhecia esta do AAD...
Saudações
Olá.
Nem todos os imigrantes de leste tem a mesma atitude relativamente ao passado. Isto vai muito do esclarecimento que já traziam, mas também vai da "lavagem" histórica a que permanentemente estão sujeitos, é só ligar a televisão, abrir um jornal, ou ouvir um noticiário qualquer.
Tenho uma amiga pianista, russa, de Moscovo, que lamenta que a sua terra natal tenha sido tomada de assalto pelo capitalismo selvagem. E apesar da sua filha lá estar, ela não quer voltar para lá. Quer é trazer a filha (de 25 anos, jornalista na televisão) para cá.
Esta minha amiga chorou quando há uns anos foi de férias a Moscovo e viu no que aquilo se transformou.
Tem saudades do comunismo. Foi o comunismo que lhe deu tudo, afirmou ela uma vez.
Cá em Portugal já tive que intervir duas ou três vezes junto de terceiros para que não houvesse discriminação, por ela ser russa. Aconteceu num notário, num banco, e até numa loja de electrodomésticos.
Quanto à Lescia, a boa notícia é que tu podes sempre falar com ela sobre música ou patinagem artística. Esquece filosofia ou política.
Foi invenção minha! ;-))
Quanto aos golos do glorioso JO quantos mais melhor...
Sal,
tens toda a razão. Não quis fazer da "minha" (salvo seja) Lécia um exemplo. Parece-me boa mulher. com uma cultura e um interesse pelas coisas da política acima da média (nossa). Tem, também, a meu ver, alguns problemas: é visceralmente anti-russa (o que não é mesmo que anti-soviética), uma queda (!) para a religião, - ai a Nª Sra. de Fátima... - e ouvê a informação que nós sabemos.
Obrigado por essa sugestão da dança e da patinagem... que já veio, ligeiramente..., à conversa.
Abraços
Li com antençao este teu escrito e achei-lhe um piadao, porque agora, pelo facto de ter que sobreviver, vim até madrid a ver se sobrevivo um pouco melhor. Pois acontece que vivo, ou melhor vivi com dois búlgaros, que devido às dificuldades linguísticas, me pediam para lhes comentar as notícias da tele madrid, controloda pelo governo autonómico, com claras orientaçoes ideológicas do PP. Ora estes srs. sao pai de 50 e picos a trabalhar 4 hs./dia e filho de 30 e poucos que vai sobrevivendo da recolha de ferro-velho. Ora quando começa a campanha eleitoral comentava-me o pai: "Rajoy bien, más trabajo" e é claro fui aos arames. Mais tarde comecei a mostrar-lhes o que é o PP espanhol, a contar-lhes coisas sobre a política de imigraçao, da distribuiçao da riqueza que propoem, a esclarecer-los das afiliaçoes ideológicas históricas do PP espanhol, bom e por altura das eleiçoes, já diziam qualquer coisa como Zapatero bien. Menos mal! No outro dia resolvi abordar o tema do comunismo com o pai (o religioso que sao e o apoio a Rajoy tornavam muito sensivel esta questao). Entao pergunto-lhe como era a vida dele na altura do comunismo lá na bulgária. Conta-me que era mineiro e que ganha 1200 lovs e que meio kilo de pao custava 15 centimos de lov. faço as minhas contas e o homem tinha um nível de vida umas 8 vezes superiores ao meu (bom, era mineiro e eu passo o dia com uns auricolares, microfone e computador a mandar prontos-socorros para aqui e para ali, ou seja há uma diferença grande no esforço dispendido e nos perigos que pode acarretar). No final o homem lá conclui: " en comunism viverr mejor que an capitalism"
Pois é, meu caro. "Em comunismo os trabalhadores viviam melhor que enm capitalismo". Sobretudo pelo que não se pode contabilizar. Pelos direitos a que tinham direito: ao trabalho, à saúde, à educação. Pelo futuro (seu!) que estavam a construir.
Mas, depois, há outras coisas. E há, sobretudo a ilusão, o curto prazo, o imediato, a competição, o individualismo, a... necessidade metafísica (Schoppenauer...).
O grande problema, O problema, é o da tomada de consciência.
Estou a gostar de conversar, a partir de estórias vividas. Esta foi estimulante. Conto outras no docordel, mas esta - aqui - foi (mais ou menos) política.
Abraços
Magnífica crónica.
Grande tertúlia, com excelentes comentários. Há excepções, claro!
Na realidade todos nós conhecemos homens e mulheres dos países de Leste. Trabalham arduamente, os mais velhos têm saudades do seu país. Mas há também jovens interessantes, como me dizia um jovem trabalhador: ”nasci num país que já não existe. Não gosto de viver aqui mas, preciso de dinheiro para enviar para os meus pais. Um dia lutarei, para recuperar o meu país.” Também há os esclarecidos.
Quanto ao Dalai Lama, esse é um espertalhão.
Dá cumprimentos meus à Lécia. Se gosta do Mounty e o trata bem, é boa pessoa!
GR
espero que o fulano Zé Manuel que aqui passou, não seja confundido com este.
Não é por nada - mas esta coisa de haver tantos portugas chamados Zé Manel pode dar origem a algumas confusões.
Quanto à história - é absolutamente deliciosa.
Fulano com aspas naturalmente...
Esclareçamos: o Zé Manuel é aquele que só pensa naquilo... e não é por culpa dele. Metemo-nos naquilo (do hóquei...) e agora aguentemos.
E é um bom amigo!
O zémanel é o das canhotices e, julgo eu nada tem ou teve a ver com hóqueis... Também é um bom amigo.
Passei só agora por aqui e gostei desta conversa amena...
Lembrei-me que ontem, no Coliseu, passou um "sketch" que era uma jornalista a falar da liberdade que tinha em escrever o que lhe apetecesse, incluindo destruir qualquer pessoa (ou Partido) por difamação ou outro, porque já não havia censura...
Quem apoia Bush e a matança que continua a acontecer no Iraque não pode ser boa pessoa (dizia a minha avó, que era sábia...)....
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