Li esta intervenção:
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Hoje é o dia 24 de Abril. De 2008.
Espero e gostaria que todos compreendessem que, neste dia, eu fale do dia 24 de de Abril de 1974. Mas também acrescento que se alguns não compreenderem de pouco me importa...
,Há 34 anos, neste dia, esperava, numa cela em Caxias, que me viessem buscar para o interrogatório e a tortura. Que já conhecia de outras vezes que por ali passra. Numa delas com permanência de longos meses.
Não foi o que aconteceu. Porque, no dia seguinte, do dia da manhã, militares e familiares e amigos, e camaradas, e mais uns bastantes, vieram abrir as portas da cadeia. Pelo lado de fora.
Estava preso, eu e muitos, por lutarmos pelas nossas ideias e ideais, por querermos para Portugal e os portugueses democracia e liberdade.
Libertamos temos, democracia temos. Naquela vivemos, esta parece-me bem escassa, bem pobre, a necessitar urgentemente de ser melhorada, que se trave a rampa perigosa em que a colocaram.
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Ainda ontem, na Assembleia da República, foi ratificado um tratado a que deram o nome de Lisboa, em que, ao definir os seus princípios democráticos, afirma no art. 10º que a democracia representativa é o seu elemento essencial, para logo no art. 11º dizer que as instituições, or orgãos compostos pelos eleitos, pelos representantes, podem dar, repito, dar (!) a possibilidade aos cidadãos de participarem nas decisões que a eles dizem respeito.
Assusta.me esta formulação. A democracia representativa é muito mas nada é se os representantes, nos seus mandatos, deixarem de fortalecer ou de manter a democracia participativa.
Na exemplificação deste risco, do risco da fragilização da democracia até pôr em causa a liberdade, os governos, e quem, neles manda, os partidos daquela maioria, e quem neles manda, fugiram ao debate sobre o dito Tratado de Lisboa, e impediram que o povo participasse, pronunciando-se sobre a sua ratificação. Porque a sua matriz a dita (e mal) Constituição Europeia foi rejeitada pelos holandeses e pelos franceses, e não se quer que, de novo, isso possa acontecer.
Ao contrário do que ouvi, não haveria pior maneira de celebrar o 25 de Abril, celebrando-se o 23 e o 24 de Abril.
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Lamento-o hoje, aqui neste orgão democrático, que deveria ser a "ponte" para os cidadãos poderem participar, até porque todas as sessões aõa públicas e um ponto da ordem de trabalhos lhe é dedidao, à sua participação e intervenção. Aqui quero fazê-lo.
E mostrar como nos pequenos pormenores estamos a deixar fugir a oportunidade temporal de trazermos os nossos concidadãos ao exercício dos seus deveres e direitos.
Já aqui chamei a atenção para estapequan-grande falha. Mas eu insisto porque teimoso sou.
O edital que convoca esta sessão da Assembleia Municipal termina assim "para constar e devidos efeitos, será este edital afixado nos Paços do Concelho, Juntas de Freguesia e lugares de estilo". Pois o lugar mais "de estilo", por ser o da "informação municipal" à frente dos Paços do Concelho continua vazio destes editais.
Pormenor sem importância, dirão. Sinal dos tempos, direi eu, em que nada se faz para valorizar a democracia participativa, em que tudo se faz para a subalternizar até ao apagamento face à democracia representativa.
E termino gritanto, em voz baixa mas vinda bem cá de dentro e cá para dentro de mim:
viva o 25 de Abril!
8 comentários:
Um abraço ENORME.
Obrigada. Por existires e por me permitires conhecer-te!
É preciso melhorar a semente do 25 de Abril, esta degenerou e ficou vulnerável, não queremos um Abril transgénico, queremos a semente original!
Abraço
Manangão
Porque será que me comovo com o que escreves?
Um abraço, e um cravo
Garanto-te que eles não perceberam nada. É como deitar pérolas a porcos!!
Nós percebemos!
Comovida, com o mais profundo respeito e muito orgulho em ti, camarada Resistente digo,
OBRIGADA!
Viva o 25 de Abril!
GR
Uma excelente intervenção apesar de singela. Se a vara não percebeu os cidadãos comprenderm-na bem.
Mais um " 25 de Abril" como é bon ler mais uma vez un pedaço da Vossa (nossa história) . Não devemos deixar de caír no esquecimento o que tantos homens e mulheres sofreram para que hoje vivamos em liberdade .... Viva quem por ela tanto lutou.
Origada para todos.
Um grande abraço .
Amélia
Obrigado a todas e todos pela receptividade a este extravasar de umas palavras que quis oportunas e mais o foram dadas circunstâncias a que vos poupo mas que foram muito significativas.
Vale a pena ser uma voz no meio de 39 e mais uns, que falam alto e quase todos surdos...
A luta continua. Contínua.
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