domingo, maio 31, 2009

Surpreendidos? Talvez...

Depois da Marcha de 23 de Maio (da CDU), a manifestação de ontem (dos professores)!
Durante a semana, a campanha eleitoral, nalguns partidos e, sobretudo, na coligação, com forte mobilização e formas diversas de intervenção de massas. Também em sessões em salas cheias a ouvir e a participar, animadas por quem não justifica a atenção da comunicação social, e que passam como se não existissem
Haverá quem esteja surpreendido com tanta gente na rua e onde for. A participar. Antes do voto. Para o voto. Além do voto. À margem da democracia representativa, marginalizando-a porque ela se marginalizou. E a democracia participativa existe e marcha, e manifesta-se, e debate. Viva!
Esta forma de se estar a fazer política, na rua, fora dos holofotes, dos locais de representaçã, é um sinal. Fortíssimo. Que talvez o voto não venha a traduzir. Que tudo ainda devemos fazer para que seja levada ao voto, com a certeza de que continuará depois de 7 de Junho .

segunda-feira, maio 25, 2009

Sondagem anónimotest xxi

Nós também as podemos fazermos. E até temos alguma preparação escolar para essa coisa de universos estatísticos e amostras. Por isso, fartos de ouver e ler sobre empates técnicos PS/PSD (é estimulante, sim senhor)) e sobre o BE como 3ª força (são de força!...), a tal nos abalançámos no último sábado. Com o apoio da literatura de cordel e do som da tinta, nossos congéneres.... para a coisa ficar mais credível.
Saímos cedo para o mercado da cidade e, numa amostra de 20 inquiridos, perguntado aos que feiravam em que partido ou coligação votariam, tive:
................................7 votos no PSD (aqui é assim... ou tem sido)
............................... 6 votos no PS
............................... 3 votos no CDS (CDSs da "velha guarda" não faltam no mercado)
............................... 1 voto na CDU (foi por ser eu a perguntar...)
............................... 1 voto no BE (este foi para me chatear... eu topei-o)
............................... 2 não responderam - NR (ou melhor: não digo o que me responderam!)
Depois, pelo meio-dia, meti-me num autocarro da Rodoviária para ir a Lisboa. Não sei porquê foi dar uma volta por Tomar, Paialvo e Entroncamento e só depois é que o motorista encontrou a entrada na A1. Fui perguntando ao universo da camioneta (50 passageiros!) em que partido ou coligação votaria no dia 7 de Junho, e registei:
............................... 44 votos na CDU
............................... 4 não responderam - NR (vinham mal dispostos...)
................................ 1 voto no BE (todo contente... mas julgo que não voltou ao autocarro quando foi pedida paragem para chi-chi)
................................ 1 disse que se iria abster (e piscou-me o olho e riu)
Quando dei por mim, ao fim de 3 horas no trajecto que está contado para hora e meia, estava no meio de um mar de gente, tão mar que até pensei que tinha ir dar ao Cais das Colunas. Olhem, meti-me na onda - e que onda! -, e fui perguntando onde iam (iam ouvir umas senhoras e uns senhores cantar e falar, todos entusiasmados, num palco munta grande lá muntao fundo, antes do Marquês), e em quem iam votar no dia 7 de Junho. Foi difícil ouvir as respostas. Tudo a cantar, e bombos e gaitinhas, e coisas a que chamam palavras de ordem, uma animação e uma barulheira que me prejudicou o trabalho. Mas lá consegui colher 50 respostas (embora pouco satisfatória pois o universo era de mais de 85 mil confirmados... e para esuqecer):
............................... 45 votos na CDU
............................... 4 não responderam- NR (ou não ouvi a resposta, ou mandaram-me andar que estava a prejudicar a marcha... deles)
............................... 1 disse que se iria abster (porque não gostou daquilo do lei de financiamento dos partidos e mais isto e mais aquilo, que tem por nós - tomou-me por marchante, foi isso ... - muito respeito mas que mais isto e mais aquilo.... queria conversa, pronto!)
Resumo:
................................ 90 votos CDU
................................ 7 votos PSD
................................. 6 votos PS
................................. 3 votos CDS
................................. 2 votos BE
................................. 2 abstenções
................................. 10 NR
Usando o método de Hondt, a CDU, segundo esta sondagem, vai ter 83% dos votos e vai ficar com 18 a 20 deputados, o PSD terá 6,5% dos votos e 1 a 2 deputados, o PS com 5,6 dos votos terá 1 deputado (esse... o Vital) a 2, e o CDS, terá 2,8% dos votos e 0 a 1 deputado, tal como o BE. Tudo dependendo dos que não responderam se arrependerem, e da margem de erro. E da margem de confiança (que é enorme... na CDU!)

A marcha continua...

... até ao dia 7 de Junho. Depois do dia 7 de Junho.

Por mais que fechem os olhos e tapem os ouvidos. Por mais que a atirem para os cantos inferiores direito de páginas pares e se vangloriem de cumprir a sua missão informativa. Por mais que façam da informação a ridícula mascarada ao serviço dos "patrões",

a marcha continua!

Eles fazem de cegos, de surdos e de mudos, eles enterram a cabeça na areia, porque estão com medo. E, com medo, a besta é perigosa.

domingo, maio 24, 2009

Com dedicatória...

Para ontem, havia prenúncios meteorológicos desfavoráveis, confirmados pelas chuvas da manhã. Havia núvens no céu. Mas fomos mais de 85 mil! Estivemos nas ruas de Lisboa. Dizendo basta, dizendo é preciso mudar, dizendo é preciso romper para o futuro. Dizendo é possível! Porque somos tantos. E estamos na rua. E... porque queremos não, queremos sim!
Tanta gente! E esta manhã, a retomar rotinas, a navegar por sítios nossos e por sítios amigos, uma pergunta: porquê não mais ainda? porquê tanta mais gente que sente que basta, que é preciso mudar, que é preciso romper para o futuro, parece viver num outro País, num outro mundo em que não houve o dia de ontem em Lisboa? Porquê?

Porque a comunicação é o que é, porque são mais importantes as ressacas de um senhor com estatuto de pensador que a luta de centenas de milhar que pensam, de 85 mil que vêm à rua com a sua luta, com a luta que na rua se faz? Sim! Mas não só... É tarefa de cada um dos 85 mil vir dizer aos que connosco (ainda) não estiveram, e que são gente que pensa e sente, vir dizer-lhes que fomos, que estivemos, que voltámos com mais força, com mais confiança. E que precisamos deles. Como todos precisamos de todos. Para sermos o que é possível sermos.

Um abraço.

sábado, maio 23, 2009

terça-feira, maio 19, 2009

Com indignação!

De Roma, do Vaticano, a (intencional) má memória e os sinais fascizantes.
Ver aqui.

domingo, maio 17, 2009

Cabo Verde - Maio de 2009 - 4

Esta viagem-passagem pela República de Cabo Verde foi o que não podia deixar de ser, e o que se queria que fosse.
Num outro blog, no seu Quarteto de Alexandria, Justine vai-nos deixando o seu "abraço de morabeza", que é um outro olhar que vale a pena ver. Aí estão curtos textos, fotografias, música (a de lá!), comentários que gostaríamos de ter aqui. E que, por isso, trazemos aqui.
Assim como um dos muitos comentários que os "posts" naquele blog muito justamente suscitam. De um certo "caboverdeanizado", que também surripiou uma fotografia que a dita Justine não publicou, e uma outra, que dele é.

4. Por ali vivemos.
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Por ali, agora, viajamos em viagens de "sodade".
Como agora, Lembrando - e homenageando! - outros que ali foram obrigados a viver.
E a morrer, que o campo era o campo da morte lenta.
Ver estas fotos, ler estas legendas, ouvir esta música, é tudo viver de novo. Mas, agora, sem campos de concentração, nem fome, sem mosquitos.
Num País sempre em construção. Nem sempre bem, a nosso critério, mas sempre melhor.
Só uma nota: a praia, esta praia do Tarrafal!, existia já no tempo do campo. Não tinha era esta gente a passar o 1º de Maio em convívio e lazer. Tinha mosquitos, paludismo endémico, talvez cães palúdicos, e tinha, perto, um campo para onde se mandavam homens para que ali morressem. Homens que lutavam enquanto a morte não chegava. E se 32 morreram, muitos outros - portugueses e, depois, angolanos, caboverdeanos, guineenses - venceram a morte.
E a luta. Que continuamos.
Obrigado, Justine

sábado, maio 16, 2009


Reflexões lentas sobre política(s)... 7

continuação
O aparecimento da UEM será a expressão “europeia” de uma inflexão no sistema com vista à prioridade para a “estabilidade de preços”, tornando-se o equilíbrio orçamental obsessão (e obediência cega, como no caso português), pela via de contenção do défice pela diminuição das despesas e da intervenção do Estado, nas áreas sociais e em tudo que se esgueire à lógica capitalista da acumulação do capital financeiro, para além da sua exclusão do que se consagrou monopólio da “economia do mercado”, da “iniciativa privada”.

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A inflexão, contra o que se diria, em terminologia tida por ultrapassada, a inflação – apesar do desemprego… –, reflecte-se de imediato na subida das taxas de juro, e na sua inflexibilidade, o que veio elevar muito os “custos” do crédito sem que verifique a sua diminuição, antes continue crescendo para substituir os necessários (face às novas necessidades) e irrealizados acréscimos salariais, agravando, paulatinamente, o endividamento, concorrendo para a sua dinâmica de imparável crescimento nas actuais condições objectivas e subjectivas.

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O prolongamento no tempo dos critérios de convergência nominativa para a instauração da moeda única, e o seu alastramento para além da “zona euro”, traduziram-se na imposição de um Pacto de Estabilidade e Crescimento, em que a vertente do crescimento é, apenas, uma palavra oca de sentido porque apenas conta, para o BCE, seu promotor e vigilante tutor ou tutelador, a estabilidade, com taxas de juros altas, e assim mantidas, ainda que claramente agravadoras do endividamento e inibidoras do crescimento económico.

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E chega-se a uma situação muito delicada no funcionamento do sistema em que o fosso entre as “finanças” e a “economia” se alarga desmesuradamente, por crescimento das finanças e por travão à economia, ao mesmo tempo que deixa de se ter em atenção o critério nominativo da dívida pública por monopólio do critério do défice orçamental.

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O que tem uma explicação ideológica para quem vê, na desideologização, a face de uma ideologia, ou a máscara da ideologia a que se dá o nome de “economia de mercado”; agora, neste “tempo de crise”, as correntes sociais-democratas culpam outros como responsáveis pela “crise”, por terem sido essoutros – que não eles... – os fautores do neo-liberalismo de que são tão ou mais responsáveis, como se pode comprovar pelas presenças nos órgãos de poder quando as decisões mais neo-liberais (e gravosas socialmente) foram tomadas.
continua

sexta-feira, maio 15, 2009

Assim se ideologiza a luta de classes:

No Público de hoje, no Editorial de José Manuel Fernandes:

1. "Há alturas em que até o PCP tem mais bom senso do que (...)";

2. "(...) e o PCP, que apesar de tudo ainda não perdeu o contacto com as realidades (...)"

Aquele até o e aquele apesar de tudo são... o que são!

quinta-feira, maio 14, 2009

Álvaro Brasileiro - um amigo, um camarada

"Morreu o Álvaro Brasileiro".

Assim me disseram pelo telefone. Ontem.

E tudo o resto, todas as notícias, todos os pequenos acontecimentos (grandes que eles fossem), tudo o que preenche os dias se apagou perante a brutalidade do telefonema. Que nem sei se agradeci como o devia ter feito.

Desde ontem, anda comigo a lembrança que me trouxe a morte do amigo, do camarada, um dos casos em que escolho a ordem alfabética para dizer o que o Álvaro era para mim. Um amigo, um camarada. Um amigo camarada, um camarada amigo.

Conhecemo-nos em Caxias, ambos com 27 anos que no mesmo ano nascemos. Era, o Álvaro, um dos três de Alpiarça - com o Abalada e o Arraiolos - mais velhos. Sim, porque os outros três - o Machado, o Marvão, o Raposo/"Facalhim", que também recentemente morreu sem que lhe tivesse dado o abraço de que estávamos em falta há 45 anos - andavam próximos dos 20.

Calmo, ponderado, consistente, assim o conhecemos. E à Justina, que víamos através das redes das visitas, sempre a companheira.

Depois, foi a vida e a luta que nos fizeram encontrados tantas vezes. Sempre o amigo, sempre o camarada. Nas campanhas de 1969 e 1973, na revolução por que lutáramos. Às vezes em convívios no meloal, ou em sua ou em minha casa, só porque nos sentíamos bem juntos. Como amigos. E camaradas, sempre.

Na Assembleia da República, o nome do Álvaro Brasileiro, eleito pelo distrito de Santarém, está inscrito - queiram-no ou não os historiadores encartados - como um dos mais prestigiados deputados, um que, entre "doutores e engenheiros", se fazia respeitar como operário rural, como seareiro, que sabia o que queria e sabia do que falava, que chegou a presidente da comissão de agricultura, não por arranjos e conluios mas por indiscutível mérito. Tive a sorte de partilhar com ele os dois mandatos por Santarém, no curto período em que coincidimos na AR. Foi dos tempos mais ricos da minha actividade parlamentar. Ao Álvaro Brasileiro o agradeço! Como nós trabalhámos em perfeita cooperação, apenas com a finalidade de estarmos ali ao serviço dos interesses de quem representávamos! E fizemos, os dois, uma inesquecível volta a quase todos os concelhos de Santarém, prestando contas do que fizéramos em representação do povo do distrito.

Nunca deixámos de nos encontrar e abraçar e conviver, com ou sem pretextos.
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Só mais dois episódios que ajudarão a transmitir, nestas magoadas palavras, o que sinto. Um, lembrando a tão sintomática situação de ter tido de ser, há poucos anos (muito depois de 1974!), testemunha de defesa (abonatória) do Álvaro, num tribunal, por ele ter co-assinado um documento político, o que o levou, com outros camaradas, àquela situação, a ele que fora julgado pelos tribunais plenários do fascismo, tal como eu o fui; outro episódio foi o da alegria que ele me deu ao aceitar apresentar o meu último livro em Alpiarça. O 50 anos de economia e militância teve, em Álvaro Brasileiro, o amigo e o camarada que deu o testemunho mais claro e insofismável do que foi a luta militante (e na economia produtiva) deste meio século que atravessámos. Com as nossas fragilidades mas com as nossas convicções e determinadas vontades. Esta luta que continua, Álvaro. Sem que estejas ao nosso lado, mas continunado connosco. Com o teu exemplo.

Reflexões lentas - 6

continuação
Entretanto, ao princípio (desta fase nova das relações internacionais, caídos os muros simbólicos) era as taxas de juro baixas; mas era, também, no mundo dito desenvolvido (Europa e arredores, isto é, EUA e pouco mais), a recuperação de condições forçadamente cedidas na relação de forças anterior.

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Como foi também uma outra, nova e dita “revolução industrial” – informática, televisão, telefone, as “auto-estradas da comunicação” –, que outras coisas não são que saltos no desenvolvimento incessante das forças produtivas, como os livros (e a vida) nos ensinam, a partir dos originais ou nas traduções do alemão e do russo.

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E, como está tudo ligado, com as forças produtivas a darem saltos e a abrirem necessidades novas aos humanos mortais, que se sentem com direito a satisfazê-las – até porque delas informados –, eis as contradições a virem à tona e a explodirem, com expansão (e socialização) de capacidades e de direitos, por um lado, e restrição (e privatização) no modo de usar umas e de concretizar outros, por outro lado.

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Ora, no processo de financeirização crescente, avassalador, com os grupos financeiro-banqueiro-especulativos a dominarem a economia (real), logo as contradições se resolvem, não com o aumento de meios-salários (que seria a “saída” real ou síntese), mas com o aliciamento para crédito a aliciantes taxas de juro.

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Mais: o aparecimento de variados “produtos” novos, imateriais, vindos da esfera financeiro-bancária vem tornar toda esta dinâmica mais clara, até pela criação de novas e artificiais necessidades, resultantes da publicidade, a juntar às necessidades que reais são por resultarem da evolução da economia real.
continua

Cabo Verde - Maio de 2009 - 3

3. Entre ditaduras, a democracia

As viagens ensinam. Nelas, quando há guias, são estes que teriam a obrigação profissional de ensinar. Acontece é que, por vezes, alguns desaprenderam. Digo isto sem qualquer animosidade pessoal relativamente ao “provocador” desta croniqueta. O rapaz que nos acompanhou na ida ao Tarrafal nem seria profissional, o autocarro não tinha amplificação de som, ele percorria o corredor esforçando-se. "Ali é a casa onde Amílcar Cabral viveu com os pais". Era perto da Assomada, em Santa Catarina. E disse-o com respeito. Só. E as máquinas dispararam guardando o lugar e a memória: E por aí se ficariam as suas informações políticas. Explícitas. Porque no meio das falas, entrecortadas, às tantas vieram as palavras ditadura e democracia e referiu-se ao “novo PAICV”.

Faço o "resumo da História" misturando o dito e as palavras-“etiquetas” com dados objectivos:
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Depois do colonialismo, com a independência, a República de Cabo Verde teria entrado num regime de ditadura! Porquê? Porque havia só um partido, porque não havia eleições em que o povo tivesse a opção de vários partidos para escolher os seus representantes; depois, por obra e graça de muitas influências, desde a Internacional Socialista a divinas providências, e a "quedas de muros", houve eleições “democráticas”, em que o PAICV, no poder, criou as condições para o "atestado de democraticidade" com que mantinha os apoios que tão bem geria, um outro partido, o MpD, ganhou as eleições em 1990 e o sistema multipartidário foi constitucionalizado. Nas eleições legislativas de 2oo1, o PAICV voltou ao poder, com maioria absoluta na Assembleia Nacional. Nas eleições presidenciais sequentes, o primeiro-ministro até 1990, pelo PAICV, Pedro Pires, venceu. Nas eleições de 2006, o PAICV obteve de novo a maioria, que reforçou, e Pedro Pires também foi re-eleito para segundo mandato.
O que impressiona – e assusta… – é esta “globalização” em que a democracia é de “modelo único”: crescentemente
representativa, até à exclusão de formas históricas, “naturais” e participativas.
Os passadores de atestados de democraticidade (e de "outras coisas" e negócios) vão veiculando as suas versões da História, até por via de "guias" a que nem houve o cuidado de alertar para quem estavam a falar, injectados (e infectados) pelas versões únicas, consensuais, indiscutíveis.

Cabo Verde faz o seu caminho. Nada fácil. Algum o é?

quarta-feira, maio 13, 2009

Os fios da meada

Quando se começou a vislumbrar[1] que o “caso Freeport” tinha, inevitavelmente, que ser desbloqueado[2] – por mais bloqueado que estivesse… –, a minha primeira reacção foi a de que não haveria primeiro-ministro que resistisse a tais sucessos[3]. Para mais, com os “rabos de palha” que já o adornavam.
Foi reacção em conversa caseira, com a minha “opinião pública”, e sublinhe-se que não fiz do caso motivo de outras conversas. Que o tempo corresse... e nada me apelava a comentar os eventos noutras paragens que não as domésticas.
Como isso foi há meses, agora que tanto me convida a trazer o tema a este espaço, dir-me-ão que – mais uma vez!? – me enganei. E eu direi que não, que – desta vez!? – não.
Como sempre faço, e não é por defesa própria ou "caldos de galinha", fujo a dizer prazos. A dimensão tempo é elástica. Quem já viveu décadas tem uma medida, umas escalas, que são incompreensíveis para quem, de adulto, está na infância ou adolescência.
Acabo de "ouver" o debate na AR com o primeiro-ministro, e venho aqui dizer que não há primeiro-ministro e governo que resista ao “caso Freeport” e seus desenvolvimentos. E não só ele. Também o ministro da justiça, e os outros que em ministros estão.
Podem ripostar-me com sondagens ou, até, num futuro próximo, com resultados eleitorais. Está bem… fico na minha! Não têm safa nenhuma. Já só estrebucham. Por quanto tempo? Sei lá. Sei que já estão na História. E não é pelo Tratado de Lisboa, nem pelo jogging.
Há coisas que salpicam, há outras que se entranham.
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[1] - ou lobrigar ou outro verbo qualquer…
[2] - não sei se os verbos adequados serão bloquear e desbloquear mas também não importa muito e o facto é que estou reticente quanto a verbos…
[3] - não é só com os verbos que estou reticente… faltam-me as palavras indiscutivelmente certas.

Reflexões lentas - 5

continuação
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O objectivo afirmado era o da estabilidade de preços, atacando um dos dois tradicionais “males da economia” – o da inflação, sendo outro o do desemprego – através da estabilidade dos preços, de cuja virtude viriam a decorrer todos os "bens do mundo", sobretudo a melhoria das situações sociais, com o desemprego em definitivo ultrapassado por mérito de uma política de emprego, com base na flexibilidade, na empregabilidade, na adaptabilidade, na mobilidade, na “criação do próprio posto de trabalho” agora crismado de empreendedorismo.

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Na passagem à UEM, o passo da definição das condições das transferências das competências nacionais para órgão federal (BCE) reveste a maior importância na adopção de câmbios que se tornavam definitivos para os Estados-membros da “zona euro”.

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E aqui se encontra um dos mais significativos “passos em falso” de quem, tendo o dever constitucional de defender interesses portugueses, as especificidades deste Estado-nação, aceitou sem titubear a excessiva valorização do euro e, neste, do escudo, na falácia de uma moeda forte, prejudicando seriamente actividades ligadas à exportação, promovendo a importação na senda da destruição da actividade produtiva, mormente o aproveitamento de recursos naturais em que o mar é (ou deveria ter sido) determinante, prejudicando o turismo e beneficiando os nacionais com possibilidades de serem turistas. E etc.

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Tudo em prol da financeirização da economia, em detrimento/esquecimento da economia real, sempre contra o trabalho produtivo, e os trabalhadores e os seus direitos específicos e constitucionais.
continua

segunda-feira, maio 11, 2009

Reflexões lentas - 4

continuação
Os objectivos da(s) política(s) – os enunciados e os anunciados, os instrumentais e os reais – passam a ser fulcrais por a democracia se mediatizar, isto é, se tornar cada vez mais representativa e cada vez menos participativa, com os representantes a marginalizarem da política os representados.

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Essa mediatização faz da política espectáculo e serve o espectáculo da política; antes de mais, esconde a natureza de classe das políticas, enuncia/anunciando objectivos sociais, a bem dos cidadãos (ou seja, dos povos), quando, instrumentais, têm o objectivo real de servir a classe dominante nas condições ajustadas à/pela relação de forças (de classe).

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Nesta caminhada “europeia” de passos e saltos, o passo da UEM, com o €uro e o Banco Central Europeu, não foi bem o salto pretendido… mas foi o salto possível, porque a ratificação do Tratado de Maastrich foi difícil, porque a relação de forças, ainda que com outras capas e máscaras com que a expressão ideológico-desideologizante da luta de classes tudo pretende baralhar, a isso obrigou.

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A Dinamarca (os dinamarqueses) votou não a Maastrich, tiveram de usar artes e manhas para transformar esse não em sim, e ela e o Reino Unido inauguraram o estatuto especial do “opting out”; a Suécia (os suecos) decidiu ficou de fora da moeda única, até com o argumento bem criativo e acutilante de não quererem que o Banco Central da Suécia se tornasse num mero balcão do BCE...

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Mas o rolo compressor da liberalização federalizante, conduzido pelas transnacionais financeiras, não podia parar e a instauração da UEM, ou seja, a criação da moeda única e do BCE, era indispensável para que continuasse o seu caminho, preparando o salto para a União Política.
continua

sábado, maio 09, 2009

À volta das palavras

Num post de outro blog (ver aqui), andei às voltas com a palavra amigo. Neste, saltam-me 3 palavras. Porque a actualidade lida em resumos de fim-de-semana as impõe.

A primeira será ódio. Não sei se a incluia o guião encenado para o “palco do Martim Moniz”, local a que se atraiu a comunicação social, mas o modo como correu o ensaio geral logo a fez saltar. E, depois, num talvez mimetismo curioso, foi usada a palavra a várias vozes. Dela não me afasto – já… – mas, se ódio vislumbro, ele está nos que usam a palavra. Para agredir. Não este ou aquele putativo agressor, se agressores houve, mas um colectivo, um partido. De classe. Será, assim, talvez sem o saberem, um ódio de classe. Contra quem se atreve – ainda! – a ser da/defender a classe operária e os trabalhadores.

A segunda palavra é traidor. Ela serviu de irrefutável prova da origem (de classe) dos agressores. Estes seriam os que se sentiriam traídos por aquele que agrediam (se tivesse havido agressão). Mas, de duas uma, ou lamentavelmente perderam as estribeiras os já julgados e condenados, e com pena de expulsão!, por identificação e provas ínsitas na palavra usada – como alguém com enormes responsabilidades éticas o fez irresponsavelmente, e outros logo aproveitaram –, ou foi mesmo uma provocação bem encenada com o móbil (todo o crime o tem) de um protagonismo que estava a fazer falta ou estava do avesso.
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A terceira palavra é hipocrisia. Não encontro outra para qualificar um artigo (de opinião) que traz o título traição e que se escreve sobre o “episódio”, sabendo o autor, de certeza certa, que quem usou a palavra foi um seu confesso e confessado colega de partido (ou lá o que é), e não alguém daqueloutro partido (que o é há 88 anos) sobre o qual, hipocritamente, o autor constrói filosofia barata com intuitos de deixar conotações explícitas ou implícitas a partir das palavras, esticando a “corda da novela”... que começa por dizer estar demasiado esticada... E fá-lo desde o título ou, até, para quem só ler o título.

Já agora, para desanuviar (?) e para terminar, respondo(-me) a um para quê com a citação de um porquê em que persisto:
"Enquanto conversávamos, pensei no longo e persistente trabalho do Sérgio, paciente como um beneditino, essa incansável maneira que ele tem de regressar às questões que o preocupam, com a ideia obsessiva de que é preciso deixar tudo claro e de que se para isso tiverem faltado algumas palavras, essas não serão as suas.” (José Saramago, Cadernos de Lanzarote, Diário-I, 1994)

Os centrões

Numa curva, no trânsito para outras paragens, tropecei na televisão aberta e caí num debate (?)... dos habituais.
Era sobre o Bloco Central! Sobre que "havera de ser"? Os patrões mandam e os bonifrates obedecem!
Fiquei a ouver. Confrangedor. Aquela gente vive num tubo de ensaio. Completamente fora da realidade e do fluir da História. Aliás, a História, para eles, deve ter acabado antes deles terem nascido, embora alguns/umas tenham feito incursões por uma História feita à pressa, "agora, já", e à medida das suas ambições. Que foram umas, hoje são outras mas sempre as mesmas, as do oportunismo mais rasca...
E há um tema recorrente, de que fogem a sete pés com as quatro patas, que é o de haver classes sociais. De haver gente.
Desemprego, salários? O desemprego é uma fatalidade a ter em conta por causa da agitação social, os salários (da gentalha, claro... que os seus não) têm, evidentemente, de ser contidos...
Outras concepções de vida, outras abordagens da realidade, outras - efectivamente outras! - opiniões ? Não há, eles que nem opiniões têm, acham que cairam todas com o Muro de Berlim...
Participação democrática na vida social? O que é isso?!
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Hoje, para além do Bloco Central, nada, o deserto, o buraco negro! Há que glosar o tema. Os patrões mandam.
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É a luta de classes, meus caros! Apesar de não haver classes, claro...

Cabo Verde - Maio de 2009 - 2

2. A parceria especial Cabo Verde-União Europeia
Está a realizar-se, de 5 a 9 de Maio, a reunião da “troika ministerial desta parceria.
Importa lembrar que, no período colonial, o arquipélago de Cabo Verde era o “arquipélago da fome”, que o paludismo era endémico, que o aparelho administrativo colonial português aproveitara e fomentara a “qualidade dos recursos humanos”, tendo-se criado um lastro cultural absolutamente notável. E, aparentemente, contraditório.
Depois, em 1974-75, Cabo Verde seria um País que não era viável. Das ex-colónias que acediam à independência conquistada com a luta, era aquele em que menos se acreditava. Pobre, paupérrimo. Sem riquezas naturais.
E as gentes não contam para a riqueza das nações?
Cabo Verde provou, nestas três décadas, que contam e muito. Os que formam a sua diáspora, ancorada como poucas à Pátria, e os que ficaram, lutando todos por um País de todos. Mais que viável, credível; exemplar sem ser exemplo, modo sem ser moda.
Não faço juízos de valor – não que não os tenha – sobre alguns aspectos deste processo, sobre o modo exemplar – não moda, nem exemplo, repito – como Cabo Verde se moveu no xadrez internacional, e nas suas contingências, mas sublinho que não só é um País que, a partir dos indicadores aplicáveis, descolou dos países mais atrasados do mundo e do endémico subdesenvolvimento.
A diferença entre a República de Cabo Verde em que trabalhei há quase 30 anos e esta que agora visitei provoca a estranha coexistência de um sentimento de nostalgia, de reconhecimento da sua identidade como Estado livre e independente, e de admiração por um Povo que (aqui e lá fora) faz crescer um País em que quase ninguém acreditava.
E, note-se, tenho lá ido de vez em quando, e a última vez apenas há 5 anos.


























Sempre com enorme vontade de voltar.

sexta-feira, maio 08, 2009

Cabo Verde - Maio 2009 - 1

Então e não se diz nada, aqui, sobre Cabo Verde? O problema é precisamente o de haver muita, tanta!, coisa para dizer.
A ida com a URAP ao Tarrafal, e a passagem pela República de Cabo Verde (Santiago, S. Vicente, Sal), foi uma mistura de recuar uns anos, da nossa luta e meus, actualizar-me vertiginosamente sobre a situação do País, vislumbrar perspectivas.
E se tanto me baseei no trabalho em Cabo Verde para a tese de doutoramento, este País continua a ser, e não só para mim, um caso muito especial. Daria, hoje, para outra tese de doutoramento… E para algumas estará a dar. Inevitavelmente.
Vou deixar só duas ou três notas a partir de dois factos.

1. A visita ao Tarrafal, ao cemitério e ao campo
Foi o motivo central da visita. E confrontei, de novo, quer o enorme significado daquele lugar, quer a muito peculiar forma como os caboverdeanos continuam o legado de Amílcar Cabral, por vezes parecendo contrariar irremediavelmente o seu relevante contributo ideológico por via de um pragmatismo que é o oposto da prática social que escora o seu pensamento.
O campo de concentração do Tarrafal é um símbolo, e ter sido o lugar onde se realizou um simpósio internacional da Fundação Amílcar Cabral com a finalidade de contribuir para que o campo de concentração venha a ser património da Humanidade, tem o maior significado.
Embora à margem do seminário e um pouco atribulada – por motivo de horários de viagem e percursos –, a presença da URAP no cemitério e a declaração lida na sessão de encerramento do seminário, foi um aspecto que se releva numa iniciativa em que havia, da parte de alguns participantes, a costumada intenção de ter uma memória excessivamente selectiva.

Não será por idiossincrasia que muito me desagrada que a consulta ao “aparelho de busca” da net para saber informações sobre a Fundação Amílcar Cabral caia, sistematicamente, na Fundação Mário Soares-Dossier Amílcar Cabral…
E Mário Soares estava lá. Talvez sem as honrarias a que se julga com direito. Pelo menos da nossa parte, nem uma...

Tornando informação acessível

Não é nada agradável ver a minha cara nas páginas da blogosfera acompanhada do epíteto mediocridade e ler chamarem ovelha a quem procurou, primeiro serenamente, depois em crescendo de irritação, rebater o que teria levado um cavalheiro a assim me/nos tratar.
E, se resolvera não voltar ao assunto e desconhecer o fulano e suas elucubrações e insultos, ao desconhecimento junto desprezo… mas… mas o incidente, prolongado até à náusea, levou-me a fazer contas, com base na única fonte e na única abordagem possíveis.
Embora quando se atira barro (ou matéria semelhante) à parede algo lá possa ficar agarrado, não o faço para “me limpar”. Faço-o para tornar acessível informação, com rigor e sem intenção de auto-avaliação. Com toda a objectividade, deixo, neste quadro, os dados desta legislatura até 11 de Janeiro de 2005, data em que saí do Parlamento Europeu, relativos aos deputados portugueses, com duas notas prévias, sem comentários e apenas duas observações.

  • Notas prévias
  1. a única fonte credível são os números insertos nos documentos do Parlamento Europeu;
  2. a única abordagem possível é quantitativa – por pouco que valha –, pois não é aceitável comparar um relatório com uma pergunta, uma intervenção com uma assinatura numa proposta de resolução, e menos ainda que se avalie o trabalho dos deputados pelas intenções ou resultados que teve, tantas vezes diferentes ou até antagónicas.

quarta-feira, maio 06, 2009

... os suspeitos do costume...

No regresso de uma curta ausência, em que mantive ténues contactos com o que se passava em Portugal, andei "a navegar" pelas minhas paragens habituais da blogosfera. E fiquei chocado - ainda me choco!... - com informações que colhi nessas fontes, mas que reproduziam outras fontes a que tinham tido acesso, sobre os lamentáveis (a vários títulos) incidentes com a delegação do PS à manifestação da CGTP do 1º de Maio.
Nunca me senti propenso a cair em "cenários" ou "teorias" da conspiração, mas estas informações só vieram confirmar suspeitas de provocação montada (o que não quer dizer que justifique, de nenhum, reacções violentas verbais e menos ainda de gestos... até porque a provocação não se responde).
O coro imediato de acusações e de exigência de pedidos de descupa seria caricato se isto tudo não fosse muito sério e grave.
A posição do BE, incluindo-se, presto, no coro de ataques ao PCP, começou por me surpreender como atentado à inteligência, mas a vergonhosa manipulação da informação com apagamento de fotos de "gente sua", que até confirmou apenas ter chamado traidor a VM, deixa-me... sei lá... estupefacto perante tais comportamentos a troco de uns miseráveis votos, de lugares, de posições no aparente e serventuário poder político nesta paupérrima democracia tão-só representativa e mediática ao serviço do capital financeiro.
Adiante...
Por agora, e para desanuviar, só quero divulgar o excelente (e cáustico) comentário de Pedro Penilo, no seu o que diz o pivô, à situação provocada: ver aqui "arrastão do martim moniz - os suspeitos do costume".

segunda-feira, maio 04, 2009

Reflexões lentas sobre política(s) - 3

continuação
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Depois da união aduaneira e do mercado interno (com afirmação de quatro liberdades de circulação), o passo-salto seguinte no caminho que, como resposta de classe, se procura fazer desde 1958, só poderia ser o da União Económica e Monetária (UEM), tanto quanto possível acompanhada pela União Política (UP), ou fazendo com que aquela venha a tornar esta decorrente e inevitável.
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Com a criação de um instrumento único, o euro (€), criado para um conjunto de Estados-nações cumpridores de critérios únicos e arbitrários – alheios a situações nacionais –, e com a institucionalização de uma entidade supra-nacional manipuladora desse instrumento e condutora dessa política, o Banco Central Europeu (BCE), foi dado esse passo-salto, sublinhando-se o aparecimento de uma instituição à margem do aparelho político-democrático, com uma tarefa definida e definitiva, a estabilidade na evolução dos preços através da manipulação das taxas de juro em todo o espaço formado dentro da UE, da “zona euro”.
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Este o caminho a institucionalizar por via do Tratado de Maastrich, e do que a ele se seguisse, com a Mesa Redonda dos Industriais e outras estruturas transnacionais a "sugerirem", num quadro internacional novo e fruto de evolução na luta de classes favorável ao capitalismo.
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Nesse novo quadro, a importância da Organização Mundial do Comércio, a substituir o GATT, e a desvalorização (sempre latente) da Organização Internacional do Trabalho, que, por vezes, até se atreve a tentar a quadratura do círculo que é a de convencionar e regulamentar a desmercadorização da força de trabalho.
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No entanto, talvez com alguma surpresa por serem logo no início do novo caminho, quando mais fragilizada parecia a relação de forças do lado do trabalho, apareceram escolhos no percurso delineado, desde a constatação do não apagamento da clivagem social fundamental por, aqui e ali, o movimento operário não se ter desmantelado como classe organizada sindical e partidariamente, e reacções de povos, de massas desideologizadas, contra os seus governos, não ratificando, por referendo, o que estes tinham entre si decidido.

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continua

sábado, maio 02, 2009

Tele-gramo para VM

Vital

Parabéns.

Objectivo alcançado.

Aqui, na capital de Cabo Verde, ao pequeno almoço, os 40 da URAP que vieram homenagear os tarrafalistas, apenas falavam da tua provocão e dos pedidos de desculpa do CdaS.
Se por aqui encontrar o "mestre " Mário Soares, encontro de que fujo, dir-lhe-ei do bom aluno que mostras ser.
Breve nos encontraremos e dir-to-ei de viva voz, com a certeza que, da minha parte, não responderei a provocações tuas.

sexta-feira, maio 01, 2009

Reflexões lentas sobre política(s) - 2

continuação

Por último?
Assim seria se, no processo histórico, fosse possível encarar o Estado-nação como a macro-estrutura final, a cúpula que já terá sido, ou próxima de o ser, numa construção europeia endocêntrica... e estariam as "cartas na mesa".
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Mas não é. E cada vez menos o será, apesar de, de uma certa maneira, o continuar a ser porque sobre essa macro-estrutura tudo se constrói e nada do que se construa a poderá destruir ou substituir eliminando-a.
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A integração (capitalista) europeia, na “construção europeia”, parte do Estado-nação, associando Estados-membros, e as fases mais avançadas, aquelas que o poder supranacional engendra e procura levar à expressão política, configuram federalização, que pode tomar várias formas – Estado Federado, Federação de Estados –, ou Supra-Estado, regionalizando ou "afreguesiando" Estados-membros.
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A dinâmica da organização espacial, macro-estrutural, procura a correspondência com o ininterrupto (embora irregular) domínio sobre o meio ambiente, e os meios, o desenvolvimento das forças produtivas, no quadro das relações sociais dominantes, e as fases e formas da integração europeia não conseguem, porque não podem, descolar da realidade histórica da existência do que está na sua origem, dos Estados-nações, e da dinâmica matriz da História, da luta de classes enquanto classes houver.
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Assim sendo, ou assim se tomando como sendo, e por este nível se ficando para não continuar pela via que levaria à dimensão planetária e à consideração inelutável de o imperialismo como fase última do capitalismo, chame-se-lhe globalização ou outro eufemismo (o que seriam aliciantes reflexões mas outras), há que voltar, nestas reflexões, à política monetária.
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Continuando a existir os Estados-nações, alcandorados a Estados-membros mas como tal ignorados nas sendas da federalização, promovida pelos grupos financeiros transnacionais, a política monetária é atacada como política de âmbito nacional até deixar de o ser.
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Com o forte argumento da descoordenação e das perturbações cambiais e da pressão inflacionista, instaura-se a prioridade absoluta para o controlo e menorização da intervenção do Estado-nação na política monetária.

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continua