sexta-feira, junho 04, 2010

Que estão a fazer deste País?

Na década de 90, em que a minha tarefa foi a de procurar representar o melhor que fosse capaz o povo de que sou, uma das coisas que procurava era conseguir ser responsável por relatórios, De todos me lembro, mas há um que, agora, me veio à memória. Foi dos primeiros que "agarrei".
Era um relatório para a chamada comissão regional e o tema era sobre a actividade cultural como meio de fixação de populações. Procurava-se (ou eu estava convencido que se procurava...) encontrar formas de contrariar a desertificação de regiões, do interior dos países.
Pareceu-me particularmente importante para nós, portugueses, sangrados na década de 60 e começo da de 70, como os censos o mostram, com a guerra, a emigração e a vinda para o litoral de massas de gente. Algo o 25 de Abril corrigiu, mas estava-se, com a entrada para as "comunidades", com o "mercado interno", a retomar essa dinâmica demográfica de desertificação. Que havia que corrigir.
Esse relatório deu trabalho, acho que saiu "obra asseada", foi dito o que era de dizer, nos considerandos, nas resoluções, nas propostas, tudo no quadro do objectivo afirmado da coesão económica e social.
Lembrei-me dele por estar a ler diálogo de exilados, de assemelhar estes a emigrantes, por viver numa aldeia onde a emigração é visível, notória... à vista desarmada. Onde, há mais de 60 anos, festejei a abertura de um posto escolar,
há 60 anos, na inauguração do posto escolar
(não sou eu!)
onde vi a alegria de se construir uma escola, de onde ouvia, até há dois anos, as crianças vir, estrada abaixo, em barulhenta correia, todos os dias, rivalizar com a passarada e os seus concertos.
festa na escola, em 2004

Acabou. A escola fechou, como se encerrasse um ciclo de progresso. Só tinha 19 alunos, os indicadores exigiam 20 para ser... rentável! Antecipou-se. Já não é preciso não a abrir no próximoano lectivo. Não será uma das 500 que irão chegar às 900, como disse a senhora ministra...
Há critérios e indicadores a cumprir!

O edifício ali está. Ali em cima, à saída da povoação a caminho do chamado Casal Branco. Fechado, sem préstimo. Com lombas na estrada a dizer-nos que ali era uma escola...

Lembrei-me daquele relatório de há quase 20 anos porque, ao menos!, que o edifício seja usado para actividades que... contribuam para fixação das populações, para que, aqui, se encontre maneira e gosto de viver. "Aquilo a que chamo viver"!

Que estão a fazer deste País?

6 comentários:

Maria disse...

Se tivesse resposta para te dar...
Muito boa a tua reflexão. Também o outro fechou escolas primárias. Que raio de comparação fui buscar...

Abreijo.

GR disse...

Escolas encerram.
Dirigentes sindicais no desempenho das suas funções, são impedidos pelo Director de fazerem reuniões, tendo este chamado a GNR na Escola Básica S. Vicente de Pereira Jusã/Ovar.
Estudantes várias vezes repetentes no 8º ano, podem passar para o 10º
Isto é fascismo!
Resta-nos intensificar a Luta!

Bj,

GR

Graciete Rietsch disse...

Hoje só importa a estatística que, por si só, já é mentirosa quanto mais baseada em dados falsos como os obtidos das Novas Oportunidades, passagens administrativas, etc.
Como é triste ouvir dizer, como eu já ouvi, "aqui havia uma Escola".
Em vez de se combater a desertificação, vão-se retirando oportunidades às famílias para continuarem a viver no seu ambiente e roubando-lhes as Escolas
para os seus filhos o que é mais uma causa da diminuição de população no interior do país.

Um beijo.

Justine disse...

Ah, o critério da rentabilidade, a deformar todo o sentido humano da vida...
Raiospartam!

Antuã disse...

Que queriam dum Presidente do Conselho de Ministros que fez o curso de agente técnico por fax nas novas oportunidades?!...

bettips disse...

Dá vontade do dislate: há maneiras de tornar crianças rentáveis - também? Ah...já tinha ouvisto falar.
Como fazê-las desfilar de "mocidade-antiga-portuguesa"...talvez renda mais saudosismo no círculo tão democrático de Aveiro!
Nojo deles. Todos juntos e ao molho.

Abç a ti.