Na década de 90, em que a minha tarefa foi a de procurar representar o melhor que fosse capaz o povo de que sou, uma das coisas que procurava era conseguir ser responsável por relatórios, De todos me lembro, mas há um que, agora, me veio à memória. Foi dos primeiros que "agarrei".
Era um relatório para a chamada comissão regional e o tema era sobre a actividade cultural como meio de fixação de populações. Procurava-se (ou eu estava convencido que se procurava...) encontrar formas de contrariar a desertificação de regiões, do interior dos países.
Pareceu-me particularmente importante para nós, portugueses, sangrados na década de 60 e começo da de 70, como os censos o mostram, com a guerra, a emigração e a vinda para o litoral de massas de gente. Algo o 25 de Abril corrigiu, mas estava-se, com a entrada para as "comunidades", com o "mercado interno", a retomar essa dinâmica demográfica de desertificação. Que havia que corrigir.
Esse relatório deu trabalho, acho que saiu "obra asseada", foi dito o que era de dizer, nos considerandos, nas resoluções, nas propostas, tudo no quadro do objectivo afirmado da coesão económica e social.
Lembrei-me dele por estar a ler diálogo de exilados, de assemelhar estes a emigrantes, por viver numa aldeia onde a emigração é visível, notória... à vista desarmada. Onde, há mais de 60 anos, festejei a abertura de um posto escolar,
há 60 anos, na inauguração do posto escolar
(não sou eu!)
onde vi a alegria de se construir uma escola, de onde ouvia, até há dois anos, as crianças vir, estrada abaixo, em barulhenta correia, todos os dias, rivalizar com a passarada e os seus concertos.
festa na escola, em 2004
Acabou. A escola fechou, como se encerrasse um ciclo de progresso. Só tinha 19 alunos, os indicadores exigiam 20 para ser... rentável! Antecipou-se. Já não é preciso não a abrir no próximoano lectivo. Não será uma das 500 que irão chegar às 900, como disse a senhora ministra...
Há critérios e indicadores a cumprir!
O edifício ali está. Ali em cima, à saída da povoação a caminho do chamado Casal Branco. Fechado, sem préstimo. Com lombas na estrada a dizer-nos que ali era uma escola...
Lembrei-me daquele relatório de há quase 20 anos porque, ao menos!, que o edifício seja usado para actividades que... contribuam para fixação das populações, para que, aqui, se encontre maneira e gosto de viver. "Aquilo a que chamo viver"!
Que estão a fazer deste País?
6 comentários:
Se tivesse resposta para te dar...
Muito boa a tua reflexão. Também o outro fechou escolas primárias. Que raio de comparação fui buscar...
Abreijo.
Escolas encerram.
Dirigentes sindicais no desempenho das suas funções, são impedidos pelo Director de fazerem reuniões, tendo este chamado a GNR na Escola Básica S. Vicente de Pereira Jusã/Ovar.
Estudantes várias vezes repetentes no 8º ano, podem passar para o 10º
Isto é fascismo!
Resta-nos intensificar a Luta!
Bj,
GR
Hoje só importa a estatística que, por si só, já é mentirosa quanto mais baseada em dados falsos como os obtidos das Novas Oportunidades, passagens administrativas, etc.
Como é triste ouvir dizer, como eu já ouvi, "aqui havia uma Escola".
Em vez de se combater a desertificação, vão-se retirando oportunidades às famílias para continuarem a viver no seu ambiente e roubando-lhes as Escolas
para os seus filhos o que é mais uma causa da diminuição de população no interior do país.
Um beijo.
Ah, o critério da rentabilidade, a deformar todo o sentido humano da vida...
Raiospartam!
Que queriam dum Presidente do Conselho de Ministros que fez o curso de agente técnico por fax nas novas oportunidades?!...
Dá vontade do dislate: há maneiras de tornar crianças rentáveis - também? Ah...já tinha ouvisto falar.
Como fazê-las desfilar de "mocidade-antiga-portuguesa"...talvez renda mais saudosismo no círculo tão democrático de Aveiro!
Nojo deles. Todos juntos e ao molho.
Abç a ti.
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