quarta-feira, junho 09, 2010

"Repartição da riqueza"

Nos trabalhos de acabamento (felizmente na recta final) do original para reedição do Curso de Economia, ao escolher dois anexos para actualização com estudos de Eugénio Rosa (além de um terceiro anexo de minha responsabilidade - como todos serão... - para actualizar, em relação a 1989-90, o tratamento da integração europeia), resolvi juntar um gráfico sobre a "repartição do rendimento".

Com a sua capacidade de fazer boas omeletas com os ovos estragados da informação disponível, ER elaborou dois quadros de que retirei este gráfico


Por ele pode ver-se - sendo todos os dados de fontes oficiais menos o do valor das contribuições sociais, que é estimativa de ER - como, partindo de um valor de 55% das "remunerações ao trabalho" em 1973, incluindo as contribuições patronais para a Segurança Social e as transferências do Orçamento de Estado para a Caixa Geral de Aposentações (com outras designações), se verificou um salto muito significativo em 1974 e 1975 para logo acusar ligeira baixa em 1976 e uma enorme queda em 1980, maior ainda em 1985, alguma recuperação e estagnação à volta dos 50% desde 1998, mas com tendência para queda desde que retiradas dos "rendimentos do trabalho" as contribuições patronais que deveriam ter essa finalidade mas que, sabe-se..., têm andado por aplicações várias e de desvario.

Também se deixa como referência a evolução entre 1998 e 2005 da União Europeia a 25 Estados-membros, cerca de 5 pontos percentuais acima da percentagem da "riqueza" que cabe ao "trabalho". O que é evidentemente muito agravado por as percentagens terem valores de denominador (PIB) muito superiores para a média da UE e em crescente divergência, isto é, afastamento (para baixo) do valor de PIB/capita de Portugal, desde o começo deste milénio.

4 comentários:

GR disse...

Merece ser lido com toda a atenção.
Depois coloco as minhas dúvidas.

Bjs,

GR

Sérgio Ribeiro disse...

Olá, GR!... pois fico à espera.

Grande beijo
Abralex

Graciete Rietsch disse...

Os gráficos são sempre elucidativos, mas é preciso saber lê-los. Vou estudá-los melhor.

Um beijo.

Anónimo disse...

Estas medidas de repartição da riqueza, sobretudo se com o objectivo de, alguma maneira, medir a exploração dos trabalhadores, não deviam ser calculadas em relação ao PIB - produto interno bruto -, como posso depreender do gráfico, mas sim em relação ao PIL - produto interno líquido - ou então em relação ao rendimento nacional.

Uma das razões é que, se não se subtraem as depreciações do capital fixo, a evolução da composição orgânica do capital distorce (significativamente) a justa apreciação da distribuição do rendimento nacional entre os trabalhadores e a burguesia.

É evidente, e pode ser comprovada com um cálculo correcto, que a exploração dos trabalhadores se tem em geral agravado desde o 25 de Abril (entenda-se por isto, desde que o processo revolucionário perdeu a sua base de massas).

Mas, ainda que essa triste realidade não fosse verdade, isto é, ainda que não se tivesse agravado a exploração dos trabalhadores, o peso do factor trabalho em relação ao PIB, como é calculado no gráfico, cairia em relação a 75. O que mostra bem que esta metodologia de cálculo, de se reportar ao PIB em vez do rendimento nacional, não é de modo nenhum a mais apropriada.

E porque é que, no cálculo da repartição da riqueza como no gráfico, a "parcela do trabalho" diminuiria em relação ao PIB, mesmo que não houvesse agravamento da exploração?

Por uma razão muito simples que não devia surpreender nenhum marxista: porque a composição orgânica do capital tem tendência para aumentar. Ou, por outras palavras, porque, na produção, pela necessidade de baixar custos (e preços)devido à concorrência, os capitalistas são obrigados a utilizar cada vez mais maquinaria e equipamentos em relação à força de trabalho empregue (por unidade de produto, diminuem os custos com capital variável, aumentam os custos com capital fixo).

[Este resultado traduz-se na tendência para a diminuição da taxa geral de lucro, lei que a seu tempo, e muito pertinentemente, o Marx considerou como a mais importante da economia política.]

Repito. Seria muito mais apropriado, nos estudos da repartição da riqueza, trabalhar directamente com o rendimento nacional em vez do produto.

HM