«Anónimo disse...
Olá.
Deixo um comentário que mais do que comentar este "post", pega na sua última frase para colocar uma questão que me anda a atormentar..
Nestes tempos de preparação do que se espera que seja um grandioso/poderoso Congresso em 30/11 e 1/12 e 2/12, tenho debruçado-me sobre o estudo (teórico) da nossa actividade e do nosso programa.
Ora, pegando na última frase, a realçada ("É cada vez mais evidente que só há uma saída, e que ela não pode ser considerada por quem é aconselhado e por quem foi escolhido para aconselhar: uma outra política!"), não posso deixar de concordar em geral mas salta-me à vista uma contradição:
A. Quem aconselha e quem é aconselhado, representa (ou até é mesmo..) o grande capital (nacional mas, não tenho dúvidas, também o transnacional. Portanto é correcto dizer que a saída (a que queremos, a que o povo deve querer) não pode ser considerada por estes..
B. Por tudo o que tem sido dito e escrito, não há dúvidas da necessidade da saída (a tal que queremos) só poder ser encontrada no quadro de uma outra política, que também já muito temos desenvolvido sobre as características centrais.
1. Por toda a análise que temos vindo a fazer, só pode ser claro que essa outra política não será nunca concretizada (excepto em pequenas concessões de carácter necessariamente temporário) por estes protagonistas. Fará então sentido, não será então enganador para as massas, todas as palavras de ordem que se restrinjam à exigência de uma mudança de política sem colocar a questão central da tomada do poder pelas massas proletárias?
2. Recentemente já avançámos nas palavras de ordem introduzindo, além do rasgar do acordo com a troika, a queda do governo. Se do ponto de vista táctico, isto me parece um avanço, do ponto de vista estratégico parece-me que continuamos muito recuados. Poder-se-á em algum momento admitir que faça sentido estarmos a partilhar o poder com o capital para conseguir algumas reformas? A capacidade de empreender reformas estruturais depende não apenas de um governo diferente, com eventual participação nossa e com o apoio das massas populares, mas também do controlo dos meios de comunicação social, das forças armadas e da própria representação externa (dependência da PR), da própria estrutura económica, da propriedade dos principais meio de produção e da capacidade do capital boicotar medidas como eventuais nacionalizações que se conseguissem? Não é então necessária uma revolução (a democrática burguesa já foi há mais de um século e a democrática e nacional já implementou as liberdades formais básica há 38 anos, portanto para mim seria a proletária/socialista que tinha que lhes seguir)? Não é reformismo o estarmos a hipotecar a revolução necessária ao não preparar as massas para ela (do Autoridade Nacional tiro esta pérola sobre a manifestação de dia 15: "Se aqueles milhares de pessoas tivessem um programa revolucionário podiam fazer a revolução.") e, voltando ao início, enganarmo-nos e às massas imaginando que "uma outra política" é possível sem essa revolução, fazendo das reformas que se conquistem o fim (objectivo) da luta?
Será esta uma discussão para ter noutros locais mas não queria deixar de colocar aqui, onde tão abertamente têm sido colocados os pontos de vista de quem quer mesmo contribuir para o melhor para Portugal e os portugueses, no sentido de não deixar esquecer a necessidade da discussão constante destas questões de fundo.
Saudações»
Caro (ou cara) anónimo/a,
como começo de comentário:
claro que esta discussão é para ter noutros locais
... mas neste (ou em outros) também!
Por agora, apenas coloco uma ENORME reserva
à tua primeira pergunta, e que nos traz
ao que me parece ser uma questão essencial:
estar em todas as frentes de luta é,
em algumas, partilhar o poder?
em algumas, partilhar o poder?
por exemplo: um deputado comunista na AR ou no PE,
enquanto em tarefa militante,
partilha poder
ou está a participar na luta de classes?
Até breve... onde for!
3 comentários:
"Comentário recebido (só lamentando o anonimato)" - Não percebo porquê. Afinal não é este o nome do blog?!... :p
Não é propriamente uma questão de fundo mas hoje em dia o acto de "googlar" alguém é muito comum e, mesmo sabendo que, quem queira mesmo, pode descobrir, escuso de estar a contribuir para o meu perfil do "googlar".
De qualquer forma, para o efeito que queria (verificar se estas minhas preocupações são compreendidas/partilhadas por outros - para além da discussão normal discussão na Organização e na esfera pessoal, tu enquanto "figura pública" és um bom teste), posso ficar como 'E se...'.
O teu comentário ao meu comentário (isto vai tornar-se confuso muito rapidamente...) é mesmo interessante:
1. No meu comentário inicial estava a pensar noutra forma de partilha do poder. Estava a pensar na governação (com/do PCP). É que para além do óbvio exemplo de uma governação partilhada, mesmo no caso de uma eventual maioria absoluta estaríamos a partilhar o poder, certo? Estou a pensar na partilha do poder com as outras formas de poder, como a militar, a económica, em particular a comunicação social.
2. Mas o teu exemplo também faz todo o sentido. É que se a actividade dos deputados comunistas na AR é uma inegável forma de luta de classes (e muito bem travada pelos nossos lutadores, diga-se), não será também uma forma de partilha de poder? Parece-me que é, no sentido de ter o papel de validar formalmente ESTA democracia. Não estava a pôr em causa a sua participação actual (como disse tinha pensado noutro exemplo) mas em todos os momentos terá de estar em cima da mesa. O exemplo russo/soviético é neste aspecto elucidativo: em tempo de ofensiva (e como saber que um período é pré-revolucionário sem estar preparado para ele? - os de baixo já não querem e os de cima será que algum dia vão poder menos?) é preciso ter a coragem de largar os grilhões DESTA democracia para edificar outra (seja ela qual for, atrevo-me a dizer pensando na generalização do Álvaro Cunhal em A Questão do Estado, Questão Central de cada Revolução).
3. Talvez a expressão "partilhar o poder" não seja a mais clara, mas exatamente por ser forte realça bem a questão que me parecia central: Qualquer ruptura que não vá até ao fundo, ao sistema, ao Estado, não é uma ruptura completa e é uma concessão, uma partilha do poder entre as classes.
Caríssimo/a anónimo/a - Tens tanto direito ao anonimato como eu a lamentá-lo. Gosto mais de conversar sabendo com quem, mas não é isso que me impede de conversar com quem, apesar do anonimato, está evidentemente de boa fé (e nem sei, nem procuro saber quem é, por respeito pelo anonimato... embora às vezes desconfie, como é o caso).
Por outro lado, se há o que não seja anónimo é este anónimo do século xxi! Tem fotografia e biografia. Nem sequer é heterónimo...
Voltando ao que importa... vamos continuar a conversa!
Saudações
Ora aí está um debate que devemos aprofundar. A forma como o PCP agiu nos meses logo após a revolução de Abril pode encerrar algumas respostas, ou contributos para a reflexão, mesmo que respostas não sejam por si-sós.
Do que posso julgar da história, os avanços construídos na luta de classes são sempre resultado de uma correlação de forças e surgem na medida da organização de cada classe e na pujança com que se afirma politicamente. Isto significa que a tomada de poder pelo proletariado não significa o automático colapso da burguesia e do capital. Como tal, não existirá revolução sem gestão do conflito, partilhando objectivamente o poder. Mas com o objectivo sempre claro de exercer gradualmente mais poder sobre a burguesia do que o inverso. Um contexto revolucionário com o PCP e partidos burgueses no poder significaria apenas, não a partilha pacífica, mas a trnsposição da luta de classes para dentro do Governo. O que, na minha opinião, tanto poderia representar um avanço como um retrocesso, dependendo da situação. Se resistente ou revolucionária. Ou seja, depende quase na totalidade do sentimento no terreno, entre as massas, da maturidade da sua luta e organização. O poder não pode ser concebido à margem dessa questão central que, além do estado, são as massas.
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