terça-feira, março 26, 2013

Boletim da Primavera (só chuva, por enquanto!)


Saiu hoje o Boletim da Primavera do Banco de Portugal.

É um documento de trabalho. E, neste momento da sociedade portuguesa, todos os documentos são convergentes na denúncia da política e na flagelação dos próprios erros. Sem, no entanto, visível vontade de humildade e reconhecimento da parte dos maiores responsáveis. A culpa é da... conjuntura externa, dos outros. A quem entregámos as rédeas da condução da política. Que nas nossas mãos deveria estar. Até porque as entregámos a mandatários por nós eleitos (nanja eu, nanja eu...). 
E os que vêm de fora dar ordens, fazer avaliações, essas coisas... também dão bons exemplos de pouco tino e nenhuma humildade, até nas "bocas", como o sr. do FMI!
Significativamente, o tema em destaque no boletim é a Avaliação dos erros de projeção do Banco de Portugal para a actividade económica no período 2009-2012.

Estamos perante uma primavera mais de tempestade do que de bonança. O boletim reflecte-o e não pode augurar melhor tempo, embora cheio de cautelas para não contribuir para mais borrasca.
Sem prejuízo do interesse de outros trabalhos, o texto que mais atenção concita é o das Projeções para a economia portuguesa 2013-2014. Dele se retira o Quadro 1 e os sub-títulos, que são elucidativos, informam e convidam ao comentário e à reflexão.
Queda persistente da procura externa em 2013, seguida de recuperação em 2014
(Sim mas também... depende. E nós cada vez mais dependentes com o consumo privado em vermelho e a FBCF com valores projectados absolutamente aterradores - -14,5% para 2012 e -7,1% para 2013).
Contração da actividade económica e deterioração das condições no mercado de trabalho em 2012, num contexto de ajustamento acentuado da balança de pagamentos
(traduzindo: desemprego a galope e o "benefício" de redução nas importações a "ajustar" o "prejuízo" de não se exportar)
Contração menos acentuada da actividade económica e da procura interna em 2013
Mas quando se contra, se contra, se contrai tem, inevitavelmente, de se seguir contracção menos acentuada...)
Desaceleração das exportações em 2013 e recuperação em 2014
(Estavam aceleradas a 3% em relação a 2011?, e quando chegará 2014?)
Continuação do processo de ajustamento do desequilíbrio externo
(Ajustamento, memorando de entendimento... o novo léxico! Austeridade, pacto de agressão!)
Estabilização da inflaçãoem níveis ligeiramente inferiores a 1 por cento em 2013 e 2014
(Como manda o BCE e as estatísticas obedecem)
Continuação da queda do emprego
(... e da subida do desemprego e da emigração)
Riscos globalmente descendentes para a actividade económica, em especial em 2014, e equilibrados para a inflação
(2014 é que vai ser se seria se fosse... não era para ser se seria se fosse em 2013?!)
O processo de redução dos desequilíbrios estruturais deverá continuar a marcar a economia portuguesa nos próximos anos, sem o qual não é possível assegurar um crescimento sustentável
(Isto é que é um sub-título! Tem tudo, ou seja, não diz nada e fala que se farta. 3 linhas de título para 10 linhas de prosa. Economia? Hei-de encontrá-la no palheiro das ferramentas financeiras).

Com esta primavera
nunca mais chega o verão

2 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Li os teus post por aí abaixo e fiquei com umas saudades do verão e do futuro que há de chegar (oxalá ainda no tempo da geração dos meus filhos).

Um beijo.

Olinda disse...

Boletim terrîfico!Igual ao anterior.Primavera invernosa,realmente!(E eu que nao gosto nada do inverno)

Um bjo