10 de março de 2020
"Covid-19:
a falência de um sistema"
Bruno GUIGUE
Já teremos lido tudo, visto tudo, ouvido tudo: "o regime chinês faliu", a China está "à beira do abismo", o "sistema entrou em colapso", Xi Jinping está "politicamente ameaçado" e "preso na armadilha ", a “ditadura está cambaleando", o "totalitarismo foi abalado" e "confessa o seu fracasso", "nada será como era antes ".
Já teremos lido tudo, visto tudo, ouvido tudo: "o regime chinês faliu", a China está "à beira do abismo", o "sistema entrou em colapso", Xi Jinping está "politicamente ameaçado" e "preso na armadilha ", a “ditadura está cambaleando", o "totalitarismo foi abalado" e "confessa o seu fracasso", "nada será como era antes ".
Uma coisa é certa, de facto nada será como era antes, e por uma boa razão: a República Popular superou claramente a epidemia em dois meses. Aves agoirentas dirão que é falso, que os números são falsificados, que a epidemia pode voltar. Mas especialistas internacionais dizem o contrário, e os factos falam por si. O número diário de novas infecções é agora 50 vezes maior no resto do mundo do que na República Popular da China. Dos 80.000 casos recenseados desde Janeiro neste país, 70.000 pacientes já foram curados. As restrições de viagem estão sendo gradualmente suspensas e a actividade económica está aumentando.
Percebe-se que essa realidade entristece
os inimigos da China que povoam a comunicação do “mundo livre”, mas terão de se acostumar. A China alcançou o
que algum outro país jamais conseguiu: derrotar uma epidemia pela mobilização
maciça da sociedade e do Estado. Depois de relatar o vírus à OMS em 31 de
Dezembro de 2019, a China, entrou em batalha. Sem precedentes na história,
a contenção de 50 milhões de pessoas, em 23 de janeiro, retardou a progressão
da epidemia. Aparecendo mascarado na televisão em 8 de fevereiro, o
presidente Xi declarou "uma guerra do
povo contra o novo demônio". Dezenas de milhares de voluntários
reuniram-se em Hubei, dezenas de hospitais foram construídos em poucas
semanas, Milhares de equipas foram enviadas para rastrear contactos entre
os doentes e seus próximos. Apenas um exemplo: no final das festividades
do Ano Novo Chinês, 860.000 pessoas retornaram a Pequim. O governo ordenou
que ficassem por duas semanas e o município mobilizou 160.000 cuidadores para
garantir o cumprimento desta decisão.
Se a epidemia está recuando, não é
porque se tenha rezado para fazer que assim fosse, é porque o povo chinês fez
esforços gigantescos. Na Europa, critica-se a China, tergiversa-se, "privilegia-se a economia" e,
enquanto isso, a pandemia espalha-se. Em 2009, o vírus H1N1, que apareceu
no México e nos EUA, infectou 1.600.000 pessoas e matou 284.000 em todo o
mundo. Washington destacou-se por sua incapacidade de lidar com essa
pandemia, e a comunicação social do ocidente preferiu fechar os olhos. Hoje,
tem de se admitir que nosso sistema está inoperante, enquanto o socialismo
chinês demonstrou novamente sua superioridade. Porque, para combater uma
ameaça como esta, é preciso um Estado. Mas o nosso, onde está ele. A
saúde pública é a sua prioridade? Seria capaz de construir novos
hospitais, quando está empenhado em destruir os existentes?
Num país onde a propriedade pública é
negativa, onde os serviços públicos foram privatizados e desmontados, onde o Estado
é um refém voluntário dos meios financeiros, podería fazer-se 10% do que os
chineses fizeram? É verdade que em Pequim não se aplicam consigna
neoliberais, os bancos obedecem ao governo, a propriedade pública é 50% da riqueza
nacional, o Estado tem uma obrigação a cumprir, é julgado por 800 milhões na internet
pela sua capacidade de resolver problemas, sabe que é responsável pelo
interesse nacional, que seu mandato é renovado apenas se provar com factos e
não coo palavras. Ditadura
totalitária, este sistema?
Ditadura estranha, onde o debate é
permanente, os erros denunciados, as manifestações frequentes, as instituições
sujeitas a críticas. Será um regime totalitário, porque compeliu
populações inteiras a uma contenção maciça que, segundo todos os especialistas,
é a única medida eficaz? É, sem dúvida, um sistema imperfeito, mas que
funciona e leva em consideração seus erros. Enquanto por cá, a
autossuficiência substitui a autocrítica, denegrir os outros pessoas substitui
a responsabilidade e o permanente blá-blá a acção eficaz. O editorialista
do "Le Monde", esse corifeu de ciência, tem toda a razão: "é a falência de um sistema". Só
que o sistema em falência não é aquele a que ele se refere.
1 comentário:
Muito bom.Obrigada pela tradução e partilha.Bjo
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