sábado, julho 11, 2020

Nada se sabe de hoje se se esquece o ontem!

 - Edição Nº2432  -  9-7-2020

70 anos: guerra da Coreia, barbárie imperialista




Faz 70 anos que começou a guerra da  Coreia, uma das mais bárbaras da História e que evidenciou a natureza criminosa do imperialismo dos EUA. 

Em 1950, a II Guerra Mundial terminara há apenas cinco anos. 
O papel decisivo da URSS e dos comunistas na Vitória sobre o nazi-fascismo elevara o seu prestígio.
Por toda a parte os povos assumiam-se como protagonistas da História e alcançavam avanços importantes no processo de libertação nacional e social. Em 1949, a Revolução Socialista triunfava na China, o mais populoso país do mundo. Gigantes como a Índia libertavam-se dum secular jugo colonial (1947). Em muitos outros países, como a Coreia e o Vietname, o imperialismo procurou travar a libertação pela força. Na Coreia, os EUA deram a mão às forças mais reaccionárias, colaboracionistas com a ocupação japonesa (1910-1945). Os portugueses, que viram o Portugal fascista tornar-se membro fundador da NATO pela mão das «democracias ocidentais» conhecem o significado dessas alianças.
Enquanto o Norte foi libertado pelas forças da resistência anti-colonial sob a direcção dos comunistas, liderados por Kim Il Sung, com o apoio da URSS, os EUA instalaram no Sul uma feroz ditadura, impediram a reunificação e criaram uma base de agressão permanente – situação que, com contradições, perdura até aos nossos dias.
Procurando inverter o curso da História, os EUA desencadearam em 1950 uma guerra de extermínio contra o povo coreano. É o General Curtis LeMay que reconhece que «ao longo dum período de quase três anos matámos cerca de 20% da população da Coreia» (New Yorker, 19.6.95). Outras fontes dizem que quase um terço (!) da população da Coreia do Norte morreu na guerra (Brian S. Willson, globalresearch.ca, 2.12.17).
O Comandante em Chefe General MacArthur conduziu uma política de terra queimada, que um subalterno inglês descreveu assim: «destruir todos os meios de comunicação e todas as instalações e fábricas e cidades e aldeias. Esta destruição devia começar junto à fronteira [com a China] e progredir para sul» (citação em Cummings, The Korean War).
Grande parte das cidades e vilas foram obliteradas. Os sobreviventes tiveram de se abrigar em túneis subterrâneos. Foram despejados «oceanos» de napalm sobre a Coreia. Foram utilizadas armas biológicas, como comprovou a Comissão Científica de Inquérito chefiada por um dos mais prestigiados cientistas britânicos do seu tempo, Joseph Needham, numa iniciativa do Conselho Mundial da Paz. Em 1953, «os Chefes de Estado Maior [dos EUA] recomendaram ataques nucleares contra a China» (Cummings), país que teve um papel proeminente no auxílio à resistência coreana.

Conhecer e aprender
com a História
Não é possível compreender a realidade actual da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), e nomeadamente a centralidade dada à defesa face às permanentes intenções hostis e agressivas dos EUA, sem conhecer os sacrifícios que o povo coreano teve de suportar para resistir à agressão de há 70 anos. A História recente é feita de ameaças e provocações permanentes e de violações pelos EUA de sucessivos acordos e iniciativas diplomáticas.
Foram os ministro e vice-ministro da Defesa do presidente «democrata» Clinton que confessaram como, em 1994, «os Estados Unidos estiveram à beira de iniciar uma guerra […] preparámos os planos para atacar as instalações nucleares da Coreia do Norte e para mobilizar centenas de milhar de soldados americanos para a guerra que provavelmente se teria seguido» (Washington Post, 20.10.02). Segundo a France Presse (24.5.00) foi o presidente sul-coreano que travou a louca aventura que destruiria a Coreia.
As lições recentes da Líbia e Iraque são claras: quem aceitar desarmar-se corre o risco de ser destruído pela máquina de guerra bárbara que em 1950-53 semeou a morte e a destruição na Península Coreana.
Hoje como ontem impõe-se a necessidade da solidariedade com a luta do povo coreano pela reunificação pacífica da sua pátria, pelo estabelecimento do diálogo e da negociação, pelo fim das ingerências, pressões e ameaças externas – incluindo das sanções e das manobras militares promovidas pelo imperialismo norte-americano na região –, pela normalização das relações, pela implementação de efectivas garantias de segurança para a RPDC, com vista a uma paz estável e duradoura na Península coreana, livre de forças militares estrangeiras, no respeito da soberania do povo coreano.

Jorge Cadima
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Essa estratégia (?) 
de dividir um País em dois, 
quando não se consegue "manter a pata"
sobre todo o território,
continuou por décadas.
Lembro o Vietnam
... e Rio Maior
(e há, sempre, conivências 
que provocam amnésias)

3 comentários:

Olinda disse...

O poder dominante esforça-se por fazer esquecer o ontem,até porque o ontem não é nada dignificante para esse mesmo poder.E,quando é lembrado,é de tal modo deturpado,que não sei o que é melhor.Lembro,que logo após o triunfo da Revolução Cubana,a estratégia de dividir o país ao meio também foi posta em prática pelos inimigos da Revolução,os mercenários acoitados no Escambray praticaram tremendas barbaridades ao povo cubano.O museu da Luta contra os Bandidos é uma memória viva na História da Revolução.Estive lá e arrepiei-me.Bjo

João Baranda disse...

Não haverá outra leitura da história? Estávamos já em plena Guerra Fria e a Guerra da Coreia foi só o eclodir das tensões latentes. Se por um exercício mental imaginarmos que teria sido possível perguntar aos coreanos (numas eleições "burguesas") que tipo de regime / sociedade eles prefeririam, tenho sérias dúvidas acerca do resultado. Mas admito que a minha análise possa estar enviesada por partir de pressupostos informativos desequilibrados e que contam a história a partir dum só ponto de vista ...
abraço
João Baranda

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado, Olinda, pelo teu estímulo sempre presente, Beijo.

Obrigado, amigo Baranda, pelas suas estimulantes dúvidas. Que, de certo modo, entre si se vão resolvendo... mas fazendo nascer novas! Suponhamos que, em Portugal, no climax de 1975/76 se tinha feito um referendo sobre a divisão do País com fronteira em Rio Maior, com Pires Veloso na chefia da Região Norte, e governo de Pinheiro de Azevedo ou já de Mário Soares, fugido para o Porto, no comando das tropas (e da comunicação social)?
Outra abordagem: já experimentou falar de tipo de regime/sociedade com o seu vizinho (ou vizinha) do rés do chão, pondo (suponhamos) 4 alternativas - capitalismo, social-democracia, fascismo, comunismo? Eu nem tento, com os meus queridos vizinhos e amigos da aldeia, alguns dos quais votam em mim, mas nunca votariam no comunista (t'abrenúncio!) que sabem que sou porque não escondo. E que é isso, que ludibrio é este de votar num homem, num discurso, numa aparência, e não no que é e no que representa? Somos tão frágeis... e tão fortes!