Entre muita outra coisa que acontece no mundo (este mundo não pára, à roda de si e à volta do sol…), hoje é dia de eleições na Venezuela.
Referi-me a esse acontecimento, sublinhando o silêncio anterior e todo o ruído que se esperava após.
Pois aí está: hoje, o Público publica duas páginas em que, facilmente, se descortinam quais as linhas de ataque, e em que se irá insistir, no inevitável noticiário que se seguirá às eleições.
Logo se vê pelos títulos, sub-títulos e destaques:
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Chavismo procura consolidação com eleições sem oposição
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Boicote às eleições-“O maior aliado do Governo foi a oposição”
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O que irá fazer Leopoldo López?
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“O regime de Nicolás Maduro fez
tudo ao seu alcance para recuperar a maioria na Assembleia Nacional controlada
nos últimos cinco anos pela oposição”
· Datas-chave da crise na Venezuela.
A “encomenda” feita ao colaborador do Público foi bem desempenhada (embora com falhas que adiante mostrarei), e o quadro parece claro: que as eleições são uma manobra do “chavismo” que ganhou todas as eleições (e muitas foram), com excepção de uma; que a oposição decidiu boicotar estas eleições, o que teria sido um erro; que o seu resultado vai ser mais uma vitória do partido no poder, simbolizado por Maduro; que a força que se pode opor à actual situação (desenhada catastroficamente) é a pressão externa, quaisquer as formas que tome ou venha a tomar.
Esta pressão externa tem sido dificultada por “laços com países como Cuba, China e Rússia, cujo apoio diplomático permite a Caracas evitar o isolamento total”, e é salientada a notícia de que “no mês passado, a Reuters revelou que a China voltou a adquirir petróleo venezuelano” como sendo algo escandaloso, não o sendo que outros países (em que Portugal se inclui) não paguem (ou não permitem que se paguem) dívidas que ajudam a garrotar a economia venezuelana e a provocar uma situação muito difícil para os venezuelanos, não só o presidente eleito com 68% dos votos e quem o apoia, mas, e sobretudo, toda a população.
Como capa ou montra da situação clama-se por diálogo, mas esse diálogo falta, sobretudo na oposição interna, em que uns são pela participação nas eleições (Capriles) e outros por uma “consulta popular” repudiando as eleições (Guaidó) e outros ainda (Leopoldo López, em Espanha) na expectativa (os três fotografados na notícia-reportagem).
Apesar do esforço de quem fez o trabalhinho, para além do evidente propósito de preparar o pós-eleições, sublinha-se, por exemplo, a incongruência de, nas “datas-chave de crise” (provocada por quem?, e como?), é referida data de 4 de Agosto de 2017 como a da tomada de posse da Assembleia Constituinte e, depois, na de 11 de Janeiro de 2019, em que a Assembleia Nacional nomeia (!) Guaidó, seu presidente como chefe de Estado interino (curiosa auto-nomeação contra resultados eleitorais, com ainda mais curioso e colorido reconhecimento, imediato ou pressuroso, por vários países e organismos), “o que parece dar um novo fulgor à oposição, que viu o seu pouco poder totalmente esvaziado com a criação da Assembleia Constituinte”.
Com a criação?... deixa de ser curioso para ser estranho que se cite como “criada” para esvaziar o poder de um golpe (aliás, com imitação e/ou semelhanças noutros lugares como Bielorrúsia) uma instituição (ou estrutura institucional) criada e em funções dois anos antes.
Esperemos pelos resultados das eleições de hoje.
1 comentário:
Uma análise reveladora da perversão da desinformação.Uma classe que serve caninamente o poder dominante,só pode ter uma visão provocatória e distorcida e seguir as orientações de Washington e Bruxelas.Bjo
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